Revista Encontro

Pet | Saúde

Ele também é doador

Em muitas situações, os animais de estimação precisam de transfusão de sangue para sobreviver. Cães e gatos podem se tornar doadores e ajudar a salvar outros da mesma espécie

Daniela Costa
Resgatado das ruas ainda filhote, Netuno ficou curado graças à doação sanguínea que recebeu: "As chances de ele sobreviver eram mínimas", lembra o casal Ligia Auad e Bruno Correa - Foto: Samuel Gê
Caminhando por uma das ruas da capital mineira, a mestranda em ciências de alimento Ligia Auad deparou-se com um filhote de cão abandonado em uma lixeira. "Foi no final de 2013. Na época, o cãozinho tinha aproximadamente 3 meses de vida e estava muito debilitado", conta. A decisão de resgatá-lo foi imediata, mesmo sabendo que o diagnóstico médico não seria dos melhores. Era só o começo de uma grande batalha. "Os exames de sangue constataram raquitismo, anemia e babesiose (doença transmitida pelo carrapato). As chances de ele sobreviver eram mínimas", lembra Ligia. Com o apoio do noivo, o analista de sistemas Bruno Correa, a estudante decidiu ir até o fim.
Após vários dias de internação, a última tentativa para salvar a vida de Netuno seria a transfusão de sangue. "Somente os medicamentos e a alimentação não seriam suficientes", diz Bruno. Hoje, aos 11 meses de idade, o cãozinho, batizado de Netuno, está totalmente recuperado e se tornou o grande companheiro do casal.

Liana de Carvalho Lott e a cadela Tera, Cane Corso de 5 anos, que é doadora: "Tive um cãozinho salvo pela transfusão de sangue" - Foto: Samuel GêAssim como os humanos, não raras vezes, os animais de estimação também necessitam de doação de sangue para serem salvos. Os casos mais graves são os de choque hipovolêmico – quando ocorre perda considerável de sangue – e doenças que levam à anemia profunda.  "As principais indicações para que a transfusão sanguínea seja realizada são em cirurgias de grande porte, enfermidades parasitárias severas, infecções, queimaduras e intoxicações", explica a veterinária Junia Menezes, do Hospital Veterinário da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

No entanto, uma das grandes preocupações dos especialistas é a falta de animais doadores. Em Belo Horizonte, o procedimento é realizado graças à solidariedade dos proprietários de animais, ou em parceira com ONGs e canis. Algumas clínicas chegam a adotar animais de rua que acabam se tornando doadores em situações de emergência. "Respeitando-se todos os critérios necessários para a doação, o procedimento não causa sofrimento nem prejuízo à saúde do animal doador, que obrigatoriamente deve estar saudável", destaca Junia.

Outra medida comum nas clínicas é a criação de um banco de sangue permanente. A Clínica Veterinária São Francisco de Assis, no Lourdes, lançou campanha a fim de coletar e armazenar sangue de cães. Para isso, conta com a conscientização dos proprietários. "O projeto só funciona se tivermos doadores voluntários. Em contrapartida, oferecemos checape gratuito dos animais", explica o veterinário Guilherme Brant.

- Foto: A designer Liana de Carvalho Lott conheceu os dois lados da moeda. Há quatro anos, o cão Bruce Lee, Schnauzer que tinha 10 anos, acidentou-se e foi a transfusão de sangue que lhe garantiu mais alguns anos de vida. A partir daí, Liana entendeu a importância da doação de sangue para salvar a vida dos animais.
"Hoje, minha outra cadelinha, a Tera, Cane Corso de 5 anos, é doadora", diz.

E não apenas os cães necessitam de transfusão sanguínea. As anemias também são comuns nos gatos e surgem em consequência de doenças como a leucemia felina, a doença renal crônica e a presença constante de ectoparasitas, como as pulgas. "Os principais sinais desse quadro clínico são letargia, diminuição do apetite, mucosas pálidas e aumento das frequências cardíacas e respiratórias", explica a veterinária Myrian Iser Teixeira, da clínica veterinária Gato Leão Dourado. A falta de banco de sangue felino em Belo Horizonte leva muitos animais à morte. "E ainda tem o agravante de os gatos não possuírem um doador universal, como ocorre com os cães. A chance de rejeição é muito grande", diz a veterinária Márcia Moller, da Clivet.

Segundo o professor do curso de veterinária da PUC Minas Alysson Rodrigo Lamounier, existem mais de 20 grupos sanguíneos caninos, mas apenas seis são importantes para a transfusão. Já os gatos possuem três grupos sanguíneos. Entre os cães, a doação pode ser feita independentemente de raça. Já nos gatos, o tipo sanguíneo deve ser compatível..