São dez dias longe da família, respirando adrenalina em meio a muita terra e ao ronco dos motores. Para quem participa da prova, o que não falta são histórias. As lembranças nem sempre são referentes a vitórias ou derrotas. "Em uma de nossas paradas, encontrei um menino. Dei-lhe uma bala Chita, mas, passado algum tempo, percebi que ele continuava com ela nas mãos. Foi quando um homem se aproximou e disse que o garoto jamais abririria aquela bala, pois era o único brinquedo dele", conta o empresário e piloto Marco Túlio Lana, de 41 anos. O encontro inusitado motivou o empresário a ajudar as famílias pobres que vivem às margens da estrada por onde o rali acontece. "Realizamos uma ação social para entreter as crianças e distribuímos brinquedos", diz Marco Túlio. A iniciativa é o que também motiva o piloto a não desistir do desafio. "Temos de chegar à final, nem que seja com o carro nas costas", afirma o piloto, que montou sua própria equipe, a Lana Racing, com aproximadamente 30 pessoas que atuam nos bastidores. E haja trabalho. À noite, enquanto os pilotos dormem (ou tentam dormir), os carros são desmontados e montados. "É como matar um leão por dia", diz Marco Túlio, enquanto organiza as malas para a disputa.
Esta edição será mais enxuta em relação à de 2013. Serão 2,6 mil km de percurso, contra 4,1 mil do ano passado. Ainda assim, a disputa continua sendo a menina dos olhos dos amantes do off-road. Para Luiz Carlos Nacif, de 50 anos, outro veterano em Sertões, a prova é uma bela oportunidade para conhecer o Brasil. "A possibilidade de passar por lugares que normalmente você não visitaria é maravilhosa", diz o piloto, que já subiu ao degrau mais alto do pódio em 2000, na categoria carro a gasolina. Os pilotos já elegeram o deserto do Jalapão, em Tocantis, como um dos lugares mais instigantes por onde passaram. O Rally dos Sertões, para Nacif, é uma mistura de diversão com coisa séria. "Primeiro, você entra para competir, se der errado, vira diversão", afirma.
Antônio Manoel dos Santos, vice-presidente de Federação Mineira de Automobilismo (FMA), comemora a escolha da capital mineira para encerrar o desafio e reforça os cuidados que os pilotos devem ter com a empreitada pelo sertão brasileiro. "Por se tratar de uma competição longa, todos devem estar muito bem preparados fisicamente, para suportar a dureza das etapas, noites curtas de sono e o altíssimo nível de adrenalina durante vários dias", diz Antônio. Então, que venha a poeira!