O projeto, que envolve 39 municípios, foi idealizado em várias etapas (foram dez anos de estudos) e traça a estratégia econômica que prepara a região metropolitana de Belo Horizonte para os próximos 20 anos. Trata-se da aerotrópole, ou cidade aeroportuária. O termo, criado pelo professor norte-americano John Kasarda, propõe a criação de uma cidade planejada, com alta mobilidade urbana, indústrias de ponta, lazer e logística de distribuição ao redor de um grande aeroporto – no caso mineiro, Confins.
A outra âncora da aerotrópole será o aeroporto da Pampulha, planejado para ser o polo de aviação regional e executiva da região Sudeste. "Ter no intervalo de 20 minutos dois aeroportos conectados internacionalmente cria uma sinergia inédita no Brasil", afirma Luiz Antonio Athayde, subsecretário de Investimentos Estratégicos da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sede).
A tendência da nova economia é a instalação de empresas próximas do aeroporto, de forma a reduzir prazos de fornecedores e entrega ao consumidor final. Os estudos da aerotrópole de Belo Horizonte foram ancorados em consultorias internacionais e trouxeram algumas conclusões importantes: o século XXI terá uma economia baseada no uso da conectividade massiva e na aviação; a movimentação do comércio mundial pelo ar saltará de 40% para 55% em 2020 e o tráfego anual de passageiros no mundo passará de 4,9 bilhões para cerca de 13 bilhões em 2030. "Temos de preparar a região metropolitana de Belo Horizonte para que seja ponto global.
O centro da aerotrópole está planejado para as cidades de Vespasiano e São José da Lapa, onde se conectam importantes eixos viários, que serão rodeados por núcleos e serviços avançados de suporte às atividades do aeroporto. Em Lagoa Santa, está em implantação o Centro de Tecnologia e Capacitação Aeroespacial (CTCA), polo voltado para escolas e empresas do setor aeronáutico, como a Embraer.
Importante parque agroindustrial e centro de transportes multimoldal, que vai servir de eixo logístico para os mercados de Brasília e da região Centro-Oeste, está em planejamento em Sete Lagoas, o que vai permitir melhor operação entre as empresas instaladas, os clientes e os fornecedores. Em fase final de construção, uma fábrica de semicondutores vai estimular o nascimento de polo de empresas do setor de microeletrônica e tecnologia da informação (TI) em Ribeirão das Neves. O novo corredor com o mercado de São Paulo será criado através de Contagem, com parque logístico e centro de transporte multimodal.
A Vila Artística, conceito turístico usado em várias regiões do mundo, vai reunir atrativos e eventos ligados à arte, cultura e turismo, atraindo a instalação de hotéis, resorts, escolas, lojas e restaurantes nas proximidades de Inhotim, em Brumadinho. Em Nova Lima, ao sul da lagoa dos Ingleses, está sendo idealizado o parque logístico, que promete servir de conexão para o mercado do Rio de Janeiro, proporcionando às empresas maior acesso aos clientes, fornecedores e matéria-prima.
O projeto da aerotrópole tem o aval da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). "Vai alavancar a competitividade da indústria mineira.
Em novembro, foi inaugurado o novo Centro de Engenharia e Tecnologia da Embraer em Minas Gerais (Cete-MG), no bairro Horto, em Belo Horizonte, com investimentos de R$ 2,5 milhões. A área do escritório aumentou de 700 m² para 1,5 mil m². O número de postos de trabalho cresceu de 100 para 200. O centro é o único no Brasil fora da sede da empresa, em São José dos Campos, em São Paulo. "O mais valioso é o fato de estarmos retendo capital humano e gerando produto de valor agregado aqui", afirma Athayde.
Apesar de grandioso, especialistas apontam algumas falhas no projeto, como a ausência de diálogo com as prefeituras. A arquiteta urbanista Janaína Marx, pesquisadora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), acaba de concluir sua dissertação de mestrado, intitulada Produção de novas centralidades na região metropolitana de Belo Horizonte. Ela tem algumas críticas ao planejamento da aerotrópole. "Apesar de ser um projeto que pode trazer benefícios para a região, minha visão é de que faltou comunicação com as prefeituras. O estado só tem feito contato com os municípios que vão fazer parte direto da aerotrópole", diz Janaína. Na avaliação da pesquisadora, a falta de diálogo pode levar alguns municípios a perderem oportunidades de investimentos. "Não adianta desenvolver o Vetor Norte e o fluxo de negócios continuar sendo em Belo Horizonte", afirma.
O plano do governo, contudo, é intensificar, a partir de agora, o contato com as prefeituras, com informações estratégicas para que entre 2015 e 2016 Belo Horizonte seja reconhecida como primeira aerotrópole da América do Sul. "Estamos revisando os estudos para oferecer aos prefeitos base de planejamento para que possam ter visão prospectiva de desenvolvimento de seus terrenos e orientem seus planos diretores", afirma Athayde. O fato é que, se todo sonho precisa de um primeiro passo para se tornar realidade, o da aerotrópole mineira está dado.