Quem não sabe da vida globalizada de Paulo pode se assustar com o que mais parece a lista de viagens de toda uma vida do que compromissos de um mês. Hoje cidadão português, Paulo divide seu tempo entre BH e Lisboa e tem apartamentos também em Quito (Equador), em Orlando (EUA) e no Rio de Janeiro. Recentemente, vendeu seus imóveis em Paris (França), Madri (Espanha) e Manaus.
Mas quem o conhece já não vê nada de atípico nisso. Os amigos sabem que Paulo Saliba é um cidadão do mundo.
O primeiro passo para além das fronteiras nacionais foi como escoteiro, aos 16 anos, em 1957. Foi, com outros colegas, representar o Brasil em um acampamento com mais de 30 mil escoteiros, no interior da Inglaterra. De tão marcante, a experiência o incitou a viajar e conhecer mais e mais do mundo. “Foi um choque ver modernidades que não tínhamos”, conta. Desde então, não parou mais de viajar.
Floresta
Mas não só outros países lhe interessavam e, quando teve oportunidade de ir para a Amazônia pela empresa em que trabalhava, a Andrade Gutierrez, topou na hora. Mudou-se para lá com sua mulher, em 1971. “Ainda nem havia água tratada – era bombeada do rio Negro”, lembra-se. De lá, foi enviado para Cachoeira Porteira, no meio da floresta amazônica, onde ajudou a fundar uma vila. A mulher de Paulo, Maria Aparecida, que abandonou a carreira de psicóloga para acompanhar o marido em suas peregrinações e com quem ele é casado há 50 anos, diz que esse foi o melhor momento da vida deles: “Vivíamos em plena selva, era o paraíso”, diz ela.
Enquanto trabalhava no Norte do país, em 1979, conheceu Miami e Orlando, nos EUA, onde a Disney World havia sido inaugurada oito anos antes. “Achei que era lugar para educar os filhos”, diz. De tão empolgado, acabou comprando um apartamento em Orlando, anos depois, mandou os filhos para estudar no país e, hoje, um neto está lá.
Em 1985, Paulo foi convidado pela Andrade Gutierrez para ir para o Equador, onde construiu estrada para bordear a fronteira com o Peru e se tornou diretor para América do Sul da empresa.
O engenheiro é valorizador de grandes amizades e mantém, até hoje, relação com muitas pessoas que conheceu no Equador, inclusive personalidades políticas do país.
Um desses amigos é o ex-presidente do Equador e ex-prefeito de Quito Sixto Durán Ballén, hoje com 93 anos. “Paulo era um funcionário muito correto, raro, e tem muitas amizades aqui no país”, diz Sixto Balém, arquiteto por formação, com quem Paulo ainda se encontra quando vai visitar sua filha Telma, que mora no país.
A opinião é compartilhada pelo também amigo da época Alfredo Burneo-Burneo, ex-ministro equatoriano. “Como profissional, ele é muito correto em toda a sua atuação. Como pessoa, é um homem elegante e amigo”, diz.
Modesto quanto à vida de viajante, Paulo acha que o principal desafio, na época em que começou, era o medo de se deparar com o desconhecido. “Hoje isso é mais tranquilo, o mundo ficou pequeno para nós.” Pelo visto, sossegar em um só lugar é algo que não faz parte dos seus planos.
Colaborou: Marina Santos.