Revista Encontro

Cidade | Memória

Este é o famoso quem?

Bustos que homenageiam figuras importantes do estado sofrem com ação de vândalos, que retiram as placas de identificação e os transformam em figuras anônimas. A prefeitura avisa que não fará reposição, já que o roubo é frequente

- Foto: Rogério Sol/Encontro

Caminhar por avenidas e praças de Belo Horizonte que abrigam bustos e estátuas de personalidades mineiras pode significar também um jogo de adivinhação. Sem placas que as identifique, fruto do vandalismo, alguns monumentos homenageiam ilustres anônimos. "Não faço a menor ideia de quem seja", respondeu o comerciante José Flávio Lemos, de 57 anos, ao ser indagado sobre o busto fincado - que teve a placa de identificação roubada - no canteiro central da avenida Augusto de Lima com avenida Álvares Cabral, no centro de Belo Horizonte. O mesmo acontece na praça Hugo Werneck, no bairro Santa Efigênia, região Leste, cujo grande homenageado que dá nome à praça também fica desconhecido.

Em nota, a PBH informou que, "por se tratar de obra de arte protegida pelo patrimônio cultural, a prefeitura considera que cada serviço de manutenção ou de restauração deve ser analisado caso a caso". Ainda segundo a nota, a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos recebeu da diretoria de Patrimônio Cultural da Fundação Municipal de Cultura (FMC) a orientação para realizar os serviços de manutenção e reparo. Dependendo do grau de complexidade da restauração, é necessário licitar o serviço e, se for o caso, recorrer ao autor artístico da obra. A limpeza convencional e corriqueira, devido às pichações, por exemplo, é executada pelas regionais. A assessoria de imprensa informou também que os bustos que tiveram as placas arrancadas continuarão sem elas, já que os roubos são frequentes.

Diante desse cenário, a identificação de alguns homenageados foi difícil até para a reportagem de Encontro.
Por outro lado, há bustos com placas, mas a identificação não é suficiente para preencher a curiosidade das pessoas. Marcelo Renan de Almeida, de 45 anos, é proprietário de uma banca de jornal a pouco metros da estátua de Milton Campos, mas não faz a menor ideia de quem seja a personalidade. "Não sei quem foi e o que fez de importante", diz sobre o ex-governador de Minas Gerais.

Não existe um inventário sobre os monumentos da cidade, mas, de acordo com lista enviada pela FMC, a capital mineira possui 53 bustos e 29 estátuas. Aos interessados sobre essas obras que dizem respeito à memória da cidade e do estado, vale uma consulta ao livro Monumentos de Belo Horizonte, idealizado por Péricles Antônio Mattar de Oliveira, publicado em 2008, um dos poucos trabalhos que tratam do tema.

Um projeto criado em Londres, na Inglaterra, pode nos inspirar e ajudar a estreitar os laços entre os belo-horizontinos e as personalidades de bronze. Lá, algumas estátuas "falam" e se apresentam para as pessoas que se aproximam delas. Esse projeto poderia, por exemplo, desfazer algumas ideias erradas que algumas pessoas têm a respeito das figuras públicas. É o caso do estudante João Gabriel Chagas, de 20 anos, que achava que Bias Fortes era, na verdade, uma mulher.

Luis Alberto Brandão, professor da Faculdade de Letras da UFMG e autor de livro sobre as estátuas de BH, ressalta que as pessoas se apropriam livremente dos monumentos espalhados em lugares públicos. "Elas interagem e muito com esses monumentos. Contudo, essa interação não acontece da forma como os autores das homenagens gostariam. O que ocorre é que as pessoas não se identificam com muitas dessas figuras", diz.


Clique na imagem abaixo e conheça alguns dos bustos conhecidos, "ou não", em Belo Horizonte:

- Foto: Fotos: Rogério Sol/Encontro

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