Já se vão três meses desde os primeiros dias de meditação de Camila, mas não é difícil se lembrar das experiências iniciais. Aliás, para muita gente que já tentou se aventurar pelo caminho da meditação, a primeira vez (e segunda, terceira...) costuma funcionar mais ou menos assim. Afinal, num mundo movido pela velocidade de informação e que exige cada vez mais rapidez de raciocínio, parece até antinatural dedicar-se a acalmar o pensamento, dando um descanso para a mente. Mas é isso mesmo que a meditação, qualquer que seja sua vertente e filosofia, propõe: foco no momento presente, pois é nele que vivemos: não no passado, que já se foi, nem no futuro, que ainda não chegou.
Desde que se iniciou na prática, a estilista já se percebe mais paciente, mais presente, mais inteira, "sem pensar em mil coisas, ao mesmo tempo que estou fazendo outra", explica. E olha que ainda está na fase de meditar por 15 minutos por dia, ou algo próximo disso (nada perto das horas a fio que se costuma imaginar dos gurus). "Ainda estou no começo, mas já percebo mudanças", afirma. Assim como Camila, Belo Horizonte está cheia de iniciantes no mundo da meditação, praticada em casa, em templos budistas, em aulas de ioga, em praças públicas ou em grupos que combinam encontros pelas redes sociais. É difícil hoje não ter um conhecido que medite ou não ter visto alguém se aventurando no mantra "Om" na praça da Liberdade, do Papa ou outros espaços.
Que o diga a gerente de financiamento Juliana Ferraz de Abreu, de 29 anos. No final de 2014, ela teve uma crise de ansiedade e síndrome do pânico que a levaram, entre outras coisas, a passar noites em claro. Depois de uma visita ao psiquiatra, começou um tratamento para depressão e passou a tomar medicamento para dormir. Ainda sem conseguir melhorar de vez, e já no ponto de tentar qualquer caminho alternativo, decidiu fazer uma aula experimental de ioga, na qual havia uma sessão de meditação. Gostou tanto que nunca mais largou o curso. Com a prática da meditação, em que ela entoa um mantra e se concentra na respiração, ela controlou a ansiedade, está mais focada e com menos medo de lidar com o dia a dia.
Além da aula três vezes por semana e da meditação diária (duas vezes ao dia) em casa, Juliana já participou da meditação da lua cheia – evento que é promovido por diferentes grupos na cidade e acontece uma vez por mês, no primeiro dia dessa fase lunar. "Acho que a prática deveria ser incentivada não só nos espaços públicos da cidade, em que ela já vem crescendo, mas também em escolas, hospitais e outros ambientes que podem ser estressantes e agitados. Não tem nada igual", diz.
Segundo o abade Mokughen, fundador do Templo Zen das Alterosas, a meditação zazen, praticada pelos budistas, quer dizer exatamente "sentar-se concentrado". O intuito da prática, então, seria justamente focar no agora e religar-se a sua natureza interna. "A prática de meditação começou há 2.500 anos. Desde então, tem trazido benefícios para quem se propõe a tentar. E sem contraindicações", afirma.
Além dos benefícios mais subjetivos e difíceis de medir, como a maior facilidade para relativizar problemas, evitar entrar no círculo vicioso da negatividade e aceitar-se melhor, já há efeitos comprovados cientificamente e muitos outros sendo pesquisados no momento. "Pesquisa-se meditação desde a década de 1970, nos mais respeitados centros científicos do mundo, e há efeitos perceptíveis no organismo", diz o psiquiatra Frederico Porto. "É uma prática que desenvolve a meta-atenção, que é uma percepção que normalmente não se tem. Isso reduz a ansiedade, melhora a concentração, o controle emocional e tem sido inclusive indicada como recurso de saúde", afirma.
Como alguns dos resultados envolvem aspectos positivos até para a produtividade no ambiente de trabalho, já existem empresas incentivando a prática em horário de expediente. O engenheiro de produção Henrique Rocha, de 29 anos, fez um curso de meditação transcendental pago, em parte, pela empresa onde trabalha. Hoje, medita duas vezes por dia, em sessões de 20 minutos – uma delas costuma ser logo antes do almoço, na sala de reuniões. "Na primeira semana, já tive boa disposição, estava menos impaciente e menos estressado", afirma. "E esses efeitos geram ganhos profissionais, como mais facilidade de lidar com clientes e com situações-limite", diz. Outras nove pessoas da empresa estão fazendo o curso no momento: sinal de que tem dado certo.
Os espaços de meditação da cidade também estão em alta. No centro de raja ioga Brahma Kumaris, em BH, as duas turmas de janeiro tiveram mais do dobro de inscrições que o esperado (passaram de 40 alunos por curso). Responsável pela realização do Medita BH – que fez sucesso no ano passado na cidade, com eventos na praça Sete, praça da Savassi, Parque Municipal e praça do Papa, dos quais participaram mais de 5 mil pessoas –, o centro já planeja novas edições em 2016, tanto na capital quanto em outras cidades do estado.
Apesar de ser uma experiência subjetiva, compartilhar com amigos e conhecidos também é uma forma válida de se meditar. A jornalista e hoje coach de meditação Juliana Minardi, de 32 anos, participa de um Círculo de Meditantes que faz encontros quinzenais, muitas vezes, em espaços públicos, como a praça do Papa. Alguns dos encontros são abertos a quem tiver interesse. "Tenho percebido que as pessoas estão bem interessadas no tema. O mundo está muito agitado; os padrões de beleza, de consumo e de trabalho têm ocupado as mentes e ofuscado a visão do que realmente é importante", afirma.
É verdade que não há contraindicação para a prática, mas ela requer disciplina. Os efeitos aparecem com o tempo e enquanto a meditação é feita – os praticantes costumam dizer, inclusive, que, quando estão sem meditar, sentem falta do bem-estar que ela proporciona. Assim, é preciso achar um tempinho na agenda (nem que sejam 15 minutos) e tentar fazer disso uma rotina diária. "Mas acho que, no fundo, algumas pessoas têm é um pouco de medo de se confrontar com seus pensamentos mais profundos, pois nem sempre o que vem à tona é agradável", diz Carol Rache. "No entanto, elas devem saber que esse é o primeiro passo para se conhecer e se perdoar. A partir daí, começam a liberdade e o amor." Vale a pena tentar.