"Belo Horizonte é uma cidade bonita, tranquila, que agradou muito à minha família", diz o atacante, que se mudou para a capital mineira com a mulher, Vivian, e os três filhos: Robson Júnior, de 8 anos; Gianluca, de 5, e a pequena Giulia, de 8 meses. "Claro que nossa rotina não muda tanto (em relação às outras cidades): é treino, casa, concentração, viagem. Mas é uma cidade bem tranquila. O mais importante é a tranquilidade da família, dos meus filhos, que estão gostando, estão bem aqui", afirma o atacante, que sempre leva os garotos ao CT e aos jogos - a briga é para ver quem fica com a bola do jogo quando o pai balança as redes.
Aos 32 anos, Robinho não é mais um garoto e tampouco se comporta como tal. Em pouco mais de dois meses com a camisa do Galo, recebe elogios dos funcionários do CT, dos jogadores e da comissão técnica pela educação, bom trato, seriedade nos treinos e alegria nos momentos de descontração. Esse comportamento o ajudou a se tornar prontamente um líder do grupo, ao lado de atletas experientes e multicampeões pelo clube, como o goleiro Victor, o lateral-direito Marcos Rocha e o zagueiro Leonardo Silva.
"O Robinho é um líder técnico por todo o seu potencial, por tudo aquilo que já fez pelo futebol, pelas conquistas.
O bom início no Galo, segundo Robinho, se deve justamente aos companheiros. "A recepção que eu tive dos jogadores facilitou bastante a adaptação", diz o jogador, que foi repatriado pelo Galo em fevereiro, depois de passagem pouco produtiva pelo chinês Guangzhou Evergrande. Na equipe treinada por Luiz Felipe Scolari, Robinho fez apenas três gols em 10 jogos e foi reserva na reta final do Mundial Interclubes, em dezembro, inclusive na semifinal contra o Barcelona.
A chegada ao Atlético se deveu muito, segundo o próprio presidente Daniel Nepomuceno, ao acerto do clube com a Dryworld, empresa canadense que confeccionará o uniforme do Atlético pelos próximos cinco anos. Por ser um jogador de renome internacional, disputado por outros clubes brasileiros, empresa e clube entenderam que Robinho, que assinou contrato por dois anos, seria importante para a estratégia de marketing da parceria. Além disso, a contratação do camisa 7, com passagem vitoriosa pelo futebol europeu, manteria o Galo no patamar de cima da disputa por grandes astros, preenchendo a lacuna deixada por Ronaldinho Gaúcho, que defendeu o Atlético por 88 partidas, entre junho de 2012 e julho de 2014.
Somado a todo esse otimismo, os torcedores alvinegros não esquecem o vídeo que o jogador gravou ainda em 2006, quando atuava na Espanha: "Quando eu sair do Real Madrid, vou jogar no Atlético Mineiro. A torcida do Galo é fera, Mineirão lotado, engole a torcida do Cruzeiro.
Do franzino guardador de carros em São Vicente, na Baixada Santista, a Rei das Pedaladas, o caminho de sucesso de Robinho teve um início semelhante ao de milhares de atletas brasileiros: na pobreza. Morador de bairro carente, trabalhava vigiando carros em frente ao cemitério do Parque Bitaru - o que lhe rendeu, no início de carreira no futebol de salão, o apelido de "Neguinho do Cemi". Ainda no futsal, passou por agremiações menores como Beira-Mar e Portuários, antes de chegar ao Santos, em 1993, quando chamou a atenção de ninguém menos que Pelé, que supervisionava as categorias de base.
O Santos é um dos maiores celeiros de craques do futebol brasileiro. De lá já saíram gênios como Zito, Coutinho, Pelé e Pepe, além de Clodoaldo, Edu e Lima. Coube a Robinho ser o expoente de uma geração que marcou o ressurgimento do Santos no cenário nacional.
Ele chegou à categoria profissional no início de 2002, aos 18 anos, ao lado de outros jovens promissores como o lateral-esquerdo Leo, o volante Elano e o atacante Diego. A estreia foi contra o Guarani, em que o Santos venceu por 2 a 0. O treinador gaúcho Celso Roth, que comandava o time à época, tem acompanhado o bom momento do jogador. "Robinho sempre foi franzino.
A temporada de 2002 foi mágica para os Meninos da Vila. Já sob o comando de Emerson Leão, o Santos foi campeão brasileiro, dando fim ao jejum de 18 anos. Na decisão contra o Corinthians, Robinho aplicou um drible passando as pernas oito vezes sobre a bola antes de sofrer pênalti do lateral Rogério. O lance lhe rendeu o apelido de Rei das Pedaladas. Robinho e Diego levaram o Santos à decisão da Libertadores’2003, perdendo para o Boca Juniors, mas se sagrou bicampeão brasileiro no ano seguinte, marcando 21 gols em 37 partidas.
No clube inglês, que desembolsou 40 milhões de euros pelo brasileiro (à época cerca de 96 milhões de reais), Robinho até teve um início animador, mas acabou indo para a reserva ao ter desentendimentos com o técnico italiano Roberto Mancini. As farpas culminaram no primeiro de dois retornos de Robinho ao Santos, em 2010 - o outro retorno foi em 2014, até junho do ano passado. Na Vila Belmiro, já um jogador tarimbado, ajudou a moldar a geração promissora de Neymar e Paulo Henrique Ganso, com títulos do Paulista e da Copa do Brasil, além de conseguir a convocação para a Copa do Mundo’2010 - o segundo mundial de sua carreira, depois de ser reserva na equipe de Carlos Alberto Parreira, em 2006.
Robinho teve mais quatro anos produtivos na Europa, defendendo o Milan e dividindo os holofotes com estrelas como o sueco Ibahimovic e Ronaldinho. Em meados do ano passado, ao encerrar sua segunda passagem pelo Santos, assinou com o milionário futebol chinês por seis meses. Em fevereiro, ele chegou ao Atlético com alguns desafios: o principal deles, provar que, aos 32 anos, ainda pode jogar em alto nível, depois de passagem frustrante pelo Guangzhou.
"Um fator importante foi o interesse que ele demonstrou ao vir para o Atlético, isso ajuda muito. Foi uma congruência dele com o clube e do clube com ele. Foi uma adaptação rápida, porque ele está à vontade", afirma Carlinhos Neves, coordenador técnico do Atlético, contente com o início da trajetória de Robinho no Galo. "Não é surpresa. Conheço o Robinho desde a seleção olímpica, depois na principal, e no futebol da China, mesmo nós trabalhando em times opostos. Ele tem esse lado alegre, mas nunca foi só isso. Ele é agregador, respeita dos veteranos aos meninos da base. É um cara importante para o grupo", afirma Carlinhos.
"À vontade" talvez seja a melhor forma de definir o início da trajetória de Robinho no Atlético. Com 10 gols nas primeiras 10 partidas, incluindo três gols em um mesmo jogo contra o Villa Nova e o Tombense, pelo Mineiro, o atacante vive sua melhor média de gols da carreira em começo de trabalho. Guarda a esperança do torcedor atleticano de liderar a equipe do técnico Diego Aguirre ao bicampeonato da Libertadores e à quebra do jejum de 45 anos sem títulos do Campeonato Brasileiro. Sentindo-se em casa, Robinho está motivado e, como ele mesmo brinca: "A camisa está caindo bem, todo mundo fica bonito com a camisa do Galão".