Ele recebe com carinho amigos e parentes para lanches em seu apartamento. As conversas muitas vezes giram em torno da vida de Ponce e da própria região. "Nos anos 1960 eu comia muito pão com mortadela na Padaria Savassi", lembra.
As caminhadas tornaram-se cada vez mais frequentes depois que vendeu seu carro, há um ano. "Aqui tem tudo o que preciso. O meu carro ficou quatro anos na garagem sem uso. Decidi vender", afirma. Ele vai para o centro da capital, Praça da Liberdade e até ao Mercado Central a pé. As andanças levaram Ponce a observar também deslizes pelo bairro, como os buracos e a falta de cuidado nas calçadas, muitas destruídas. "Em alguns quarteirões, tenho de andar no asfalto", diz.
Os bairros Funcionários e Savassi marcam também a história do médico Luiz Carlos Teixeira e de sua mulher, Fernanda de Mello Teixeira. Foi lá que se conheceram e namoraram durante muitos anos. Hoje moram em apartamento na região com as filhas, Luiza, de 17 anos, e Júlia, de 12. O casal se viu pela primeira vez em julho de 1997, um dia depois da comemoração da formatura de Luiz Carlos. Ele saiu da festa com os colegas já ao raiar do dia. E estendeu a diversão pela manhã em um bar que ficava aberto 24 horas na região. Foi lá que encontrou Fernanda, que tomava café e lia jornal. O resultado da boemia foram as alianças nos dedos. "A energia daqui é boa", afirma Fernanda.
A família não costuma sair do bairro e os passeios são sempre feitos a pé. Durante o dia, Fernanda caminha com a a yorkshire terrier Cacau Sweet Angels. Em fevereiro o casal vendeu um dos carros. "Vimos que não tinha sentido ter dois", diz o médico. As filhas estudam na vizinhança, no Colégio Logosófico. "Todo mundo passa pela Savassi. É o bairro de referência do belo-horizontino", completa.
Os moradores da Savassi e do Funcionários raramente respondem com firmeza em qual dos dois bairros moram. Isso acontece porque nem o Correio sabe direito em que bairro estão. A família dos engenheiros Fausto Alves de Carvalho e Juliana Tavares Nogueira mora na rua Pernambuco e recebe correspondências no apartamento nomeadas em três bairros: Centro, Savassi e Funcionários. "Mas na hora que chega o IPTU, o bairro é Savassi", brinca Fausto.
Eles também se desfizeram de um dos carros há dois meses. "Só dirigimos no fim de semana", diz Fausto. As duas filhas do casal, Ana Luiza, de 11, e Manuela, de 7, estudam no colégio Santo Antônio, a um quarteirão do prédio onde moram. Elas vão para a natação e inglês a pé. Juliana trabalha a dois quarteirões de casa e Fausto, a quatro. "Fazemos tudo na região. Até médicos vamos por aqui. Tem de todas as especialidades", diz Juliana. A família não arreda o pé do bairro nem na hora de ir a salão de beleza, supermercado, bancos, farmácia e shopping. "É muito plano, facilita a locomoção", diz Juliana, que passeia diariamente pelas ruas com a cachorrinha Charlote, da raça shih tzu. A reforma da praça da Savassi, segundo Fausto, ajudou a movimentar mais a região e as lojas.
Se alguns moradores se confundem entre Savassi e Funcionários na hora de passar o endereço, a médica Cláudia Cançado não faz parte da regra. Não é para menos. Ela mora no coração da Savassi, na praça Diogo de Vasconcelos, entre as avenidas Getúlio Vargas e Cristovão Colombo. A escolha pela região aconteceu há 10 anos em função da escola do filho, Renato Gontijo. Na época, ele estudava no Colégio Santo Antônio. "A facilidade de locomoção fez com que ele ficasse independente aos 14 anos e não me prendeu tanto", diz. As aulas de vôlei e inglês também eram na vizinhança.
O ponto privilegiado e o lar acolhedor fazem com que Cláudia esteja com o apartamento sempre cheio de visitas, seja amigos seja familiares do interior. "É fácil pegar carona para cá. Tem sempre alguém passando perto", diz. Admiradora de livros, a médica sente saudades das diversas livrarias tradicionais que fecharam as portas nos últimos anos. Na sua avaliação, a revitalização da praça foi boa, mas a segurança da região deixa a desejar. O barulho é outro incômodo forte. "No período da Copa do Mundo, parecia que estavam tocando o tambor dentro do meu quarto", diz. No carnaval, ela sempre viaja ou vai para a casa da mãe. "É inviável ficar em casa."
A sujeira é outra reclamação da médica. "Pelo menos duas vezes por mês tem evento grande aqui e não dá nem para sair de carro", diz. Aliás, a frente da garagem obstruída por motoristas é outro problema que ela enfrenta com frequência. A Savassi, diz, tem suas dores e delícias. E as delícias sempre falam mais alto, pois, seja no lazer, nas compras, seja nos encontros com os amigos, a opção dos moradores é a mesma: ficar nas redondezas da região boêmia, que tem histórias e diversidade de público, lojas, serviços e gastronomia..