- Foto: Passaram-se 120 anos e inúmeras transformações na paisagem da cidade. Da década de 1950 até hoje, a população saltou de 350 mil para 2,5 milhões de habitantes, de acordo com o censo do IBGE. Avenidas foram alargadas, cursos d’água canalizados e tampados para dar lugar a veículos que hoje passam de 1,8 milhão, segundo o Detran-MG. Proporcionalmente aos números, crescem também os desafios e preocupações cotidianas. A sensação de insegurança insiste em pairar sobre o dia a dia dos moradores. Congestionamentos não são mais apenas registrados nos tradicionais horários de rush. A Pampulha, Patrimônio Cultural da Humanidade, segue poluída, apesar de algumas melhorias. E os moradores em situação de rua se multiplicam a cada ano.
São questões complexas que merecem atenção de todos. Para tanto, conversamos com especialistas que apontaram algumas possíveis soluções.
Despoluição da Lagoa da Pampulha - Foto: Thiago Mamede/EncontroA lagoa faz parte do Conjunto Moderno da Pampulha, alçado ao status de Patrimônio Cultural da Humanidade no ano passado. No entanto, ainda está longe do ideal. Apesar de ter atingido a categoria de classe 3, que permite atividades esportivas sem um contato demorado com a água, é possível notar a cor verde em determinadas partes da lagoa. Isso indica a presença de matérias orgânicas e algas. Em outras palavras: ela continua recebendo esgoto. De acordo com a Copasa, seu programa Caça Esgoto, que investiga lançamentos indevidos em galerias pluviais e sarjetas das ruas, permanece em andamento. A empresa, no entanto, informou que depende das prefeituras de BH e de Contagem, já que tais problemas dizem respeito também à urbanização de bairros vizinhos. “A lagoa tem de ser uma prioridade de política pública daqui para frente. Os primeiros passos foram dados para melhorar a qualidade da água, mas foram apenas remédios. É uma perspectiva de melhora temporária”, diz Marcus Polignano, coordenador do Projeto Manuelzão, da Faculdade de Medicina da UFMG, que surgiu em 1997, com a ideia de lutar por melhores condições ambientais, principalmente na Bacia do Rio das Velhas, que abrange municípios da Grande BH e da região central do estado. O projeto faz parte do Programa Pampulha Viva, que busca conscientizar moradores sobre os problemas decorrentes da poluição da lagoa e de cursos d’água que a alcançam.
Trânsito - Foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A PressNão é segredo para ninguém que a mobilidade urbana é um dos temas espinhosos das metrópoles. Como vimos na página 98, a frota urbana da capital mineira já ultrapassou o número de 1,8 milhão.
Trata-se de 0,74 veículo por morador, a maior taxa do país. Nos últimos anos, ações para minimizar o inchaço no tráfego saíram do papel, como a implantação de ciclovias, mudanças de circulação no hipercentro (privilegiando os pedestres e o transporte público) e criação de pistas exclusivas para os coletivos. Mas, para o engenheiro e professor da Fumec Márcio José de Aguiar, especialista em transporte e trânsito, ainda é pouco. Faltam, segundo ele, ações contínuas e investimentos mais pesados. “Se continuarmos apostando em mobilidade apenas na superfície, vamos piorar”, diz. Por isso, ele aponta que o antigo projeto de novas linhas subterrâneas de metrô tem de sair de vez do papel. “Desde a década de 1980, planejamos a expansão metroviária, mas não conseguimos avançar um centímetro. As pistas exclusivas de ônibus não são, de fato, só para ônibus e existe ainda a carência de integração das estações do Move”, ressalta.
Criminalidade - Foto: Edesio Ferreira/EM/D.A PressOs números apontam que a criminalidade na capital mineira vem diminuindo. Segundo recente pesquisa da Polícia Militar, comparado ao ano de 2014, houve redução de 14,6% no registro de crimes considerados violentos. Os furtos de veículos também tiveram queda, de 7%.
Entretanto, a sensação de insegurança persiste. Pensando nisso, a Polícia Militar implantou, em agosto, 86 bases móveis em pontos estratégicos de BH, onde é possível, entre outras ações, registrar ocorrências. Espera-se também que as vans militares possam afungentar criminosos. De acordo com o sociólogo Frederico Couto Marinho, a iniciativa da PM é importante. Além disso, ele comenta que a atuação mais incisiva da Guarda Muncipal, agora armada, pode ajudar a evitar furtos e assaltos em regiões mais movimentadas como o hipercentro. Ele destaca, contudo, que um dos gargalos em relação ao tema diz respeito aos jovens e sua ligação com as drogas. “É preciso quebrar essa relação, muitas vezes facilitada pela evasão escolar”, diz Frederico, um dos pesquisadores do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública da UFMG. Além disso, ele ressalta a importância de fortalecer as medidas socioeducativas impostas aos jovens que cometem infrações.
População de rua - Foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press Atualmente, BH possui mais de 4,5 mil pessoas vivendo nas calçadas, praças, baixios de viaduto e lotes vagos. Esse número é 150% maior que o registrado no último Censo de População em Situação de Rua, apresentado há três anos e que contabilizou 1,8 mil pessoas. Em setembro, a PBH divulgou uma operação para atacar o problema que inclui abertura de abrigos, oferecimento de empregos e até a criação de guarda-volumes para as pessoas deixarem seus pertences. Mas a questão se vislumbra como problemática, uma vez que, segundo a professora Maria de Fátima Almeida, da Faculdade de Educação da UFMG, a tendência é do número de sem-teto aumentar, principalmente por causa da conjuntura econômica e o avanço do desemprego. Maria de Fátima já desenvolveu uma tese sobre o assunto e sabe das dificuldades que envolvem a abordagem aos moradores. “Não vai ser apenas a prefeitura que conseguirá tirar a população da rua”, diz. “Temos de envolver outros setores da sociedade, como organizações não governamentais.” .