O mundo hoje empurra as pessoas para a conexão total e ininterrupta. As mensagens possuem sinal de recebimento e, quando a resposta demora, a ansiedade começa.
Fundadora do Delete, Anna Lúcia afirma que Whatsapp, Facebook e Instagram são os maiores ladrões de tempo. No caso das crianças e adolescentes, recomenda que usem a tecnologia no máximo duas horas por dia e sob supervisão dos pais. "A internet é uma porta aberta para o mundo e tem muita gente mal intencionada de plantão", afirma. Pode parecer ironia, mas a própria Randi Zuckerberg, irmã de Mark Zuckerberg, um dos fundadores do Facebook, a maior rede social da atualidade, lançou o livro infantil Dot!, nos Estados Unidos. A ideia é chamar a atenção de crianças que "desperdiçam" muito tempo on-line e ressaltar a importância de estarem desconectadas por um tempo.
Anna Lucia é organizadora do livro Nomofobia: Dependência do Computador, Internet, Redes Sociais? Dependência do Telefone Celular? O Delete fica no Instituto de Psiquiatria (IPUB) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e tem o objetivo de orientar a população sobre os benefícios e prejuízos relacionados ao uso abusivo de tecnologias no dia a dia, apresentando conceitos de uso consciente e etiqueta digital. "A nossa proposta não é a desconexão total, mas fazer o uso da tecnologia conscientemente", afirma Anna Lucia.
A médica dermatologisa Lívia Fernanda Santos descobriu que seus momentos mais felizes dificilmente acontecem quando está conectada ou com uma curtida na rede social. Mas sim quando está cozinhando, fazendo trilhas, andando de bicicleta e curtindo os animais, como a cachorrinha poodle Duda. Essas atividades, ela realiza nas redondezas de sua casa, em um condomínio em Nova Lima, em companhia do marido, o auditor fiscal Marcelo Impelizieri. Os quitutes são preparados com as verduras e frutas das árvores do seu jardim. Os ovos são das mais de 20 galinhas da casa. "Moro em um lugar que é como sítio, gosto de curtir" diz. Lívia já chegou a usar muito as redes sociais, como o Facebook. Ainda tem, mas não entra nem lembra mais a senha. No ano passado, começou a dar as costas para o celular nos fins de semana. O aparelho é colocado na gaveta na sexta-feira à noite e só é retirado na segunda pela manhã. "Se eu pudesse, não usaria nem o Whatsapp, acho que suga a energia", diz. O telefone dela está sempre no modo silencioso.
No segundo semestre deste ano, o Hospital das Clínicas, na UFMG, vai abrir um laboratório para dependências comportamentais, como a tecnologia. "É preciso ter atitudes preventivas nessas situações e não usar a conexão digital para reprimir alguma emoção negativa", afirma Frederico. Para ele, pessoas com dependência tecnológica são mais vulneráveis a doenças como depressão e ansiedade.
Muito conectada, a escritora e palestrante Sônia Jordão tem site, blog, fanpage, canal no Youtube, Facebook, Instagram e Twitter. No Whatsapp, faz parte de vários grupos, alguns com mais de 100 pessoas. "Já aconteceu de eu me prejudicar em tarefas por essa conexão excessiva", diz. Logo ela, que atua também com a gestão do tempo. "Mas eu passei a tomar consciência que não posso deixar me dominar pela necessidade do outro." Sônia não tomou nenhuma decisão radical. Ela não se mudou para uma cabana sem conexão com a internet para escrever seus livros nem cometeu o "Facebookicídio", o suicídio do Facebook. Entre as decisões, passou a deixar o Whatsapp no modo silencioso. Sua conta do Facebook, na qual tinha 5 mil amigos, foi cancelada. Mas ela voltou a abrir, agora com menos de 500 amigos. "Quanto mais amigos, mais tempo gastamos. Hoje sou eu que gerencio o Facebook, não é ele que me gerencia", diz. Resultado: curte mais a vida real.
Em vídeo que corre a internet e as redes sociais - como não podia deixar de ser -, o filósofo e escritor Mario Sergio Cortella fala sobre os abusos da tecnologia. "Esse mundo digital, que é exuberante, vem, em grande medida, estafando um pouco as pessoas", afirma, em entrevista ao apresentador Marcelo Tas. Cortella lembra que não faz muito tempo, quando as pessoas queriam descansar em um fim de semana ou feriado, escolhiam um lugar tranquilo, sem eletricidade, para desligar dos problemas. Mas agora, ao escolher o hotel, a situação mudou. "Qual é a primeira pergunta que fazemos?", diz. Ele mesmo dá a resposta: "Tem wi-fi?"
10 passos para se desentoxicar do mundo digital
- Ao dormir, deixe o celular desligado, no silencioso ou longe do seu alcance
- Silencie o aparelho durante as refeições
- Respeite as pessoas que estão ao seu lado, valorize o momento presente e privilegie as relações ao vivo
- Desative os alertas sonoros e ligue o modo silencioso
- Estabeleça horários e delimite o tempo de uso por dia. Faça uma coisa de cada vez. A capacidade de fazer várias ao mesmo tempo é um mito
- Limpe periodicamente as redes sociais
- Dose o uso de tecnologias no cotidiano. Verifique se seu desempenho acadêmico ou no trabalho e se a relação com a família e amigos estão sendo prejudicados pelo uso abusivo das tecnologias
- Não troque atividades, compromissos ou encontros ao ar livre para ficar conectado às tecnologias. Escolha relacionamentos e amizades reais em vez de virtuais
- Pratique exercícios físicos regularmente. Crie intervalos regulares durante o uso das tecnologias fazendo alongamentos
- Fique off-line e valorize o tédio. Ele é fundamental para o bom funcionamento mental
- Se a mensagem não for para o grupo, envie diretamente para a pessoa
- Atenção para a postura e movimentos repetitivos ao usar mídias digitais. Estudos indicam que o uso excessivo das mídias digitais como celular ou tablet tem causado obesidade, hérnia de disco, problemas na coluna e lesão por esforço repetitivo, além de depressão, angústia e ansiedade
- Evite usar o celular quando estiver dirigindo, pois corre o risco de acidentes
- Evite usar o telefone em lugares públicos ou apertados, como transporte coletivo ou elevador. A sua conversa é individual e não precisa ser compartilhada com outras pessoas
- Não abale o seu humor com publicações virtuais nem acredite em tudo o que é postado. Cuidado com o que você publica na internet
- Jogue o lixo eletrônico no local correto. Pense no meio ambiente, recicle os aparelhos fora de uso e evite a troca frequente sem necessidade
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