Para a professora da Escola de Arquitetura da UFMG Celina Borges, o edifício exala relevância histórica e cultural para Belo Horizonte. "Ele foi concebido para atender a diferentes tamanhos de famílias e classes sociais. Foi um avanço no modelo de habitação da época", diz. As formas de ocupação do conjunto e o seu tamanho motivam a comparação com uma cidade.
São duas portarias, uma pela rua Timbiras e outra pela Guajajaras. Mas o JK atual é um pouco diferente do idealizado ainda no começo da década de 1950. O pré-projeto previa, por exemplo, uma passarela ligando os blocos – atravessando a rua Guajajaras –, além de hotel, museu de arte contemporânea, teatro e boate. A magnitude da obra, entretanto, gerou uma excessiva demora na entrega do conjunto, que só foi finalizado na década de 1970, bem diferente da ideia inicial.
Mesmo após a conclusão, o JK enfrentaria outra turbulência relacionada à administração e a invasões. A despeito dos períodos problemáticos, a professora Celina Borges afirma que o Conjunto JK deve ser ratificado como patrimônio imaterial da cidade, entre outros motivos, pela relação afetuosa com os belo-horizontinos. "Quando o avistam de longe, as pessoas sentem orgulho. É o mesmo que aconteceu com o edifício Copan, na cidade de São Paulo, hoje uma espécie de museu arquitetônico", compara Celina. O prédio paulista também foi projetado por Niemeyer, mas com a colaboração de Carlos Alberto Cerqueira Lemos.
De longe e de outros bairros também é possível avistar o relógio digital que fica na cobertura da torre B, do complexo JK. Mas o equipamento que há décadas marca o tempo e a temperatura na cidade foi excluído do processo de tombamento. A decisão foi anunciada, neste ano, pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural. Assim, mesmo com a preservação dos prédios ratificada, o relógio pode ser retirado. Com ou sem relógio, no entanto, esse gigante já faz parte do horizonte do Santo Agostinho e da cidade.