FOTO1Nascida na cidade mineira de Divinópolis, localizada a 120 quilômetros da capital mineira, a artista plástica Michelle Campos, de 41 anos, é a caçula de cinco filhos. Temporã, tem 11 anos a menos que seu irmão mais novo. Quando ingressou na escola, os irmãos já estavam na faculdade. A família havia se mudado há pouco para Belo Horizonte e, junto com ela, vieram alguns agregados, filhos de amigos. "Em minhas memórias mais antigas, minha casa afigura-se como um misto de república de estudantes de medicina, enfermagem e serviço militar", diz ela. Lembranças vividas no contexto da ditadura militar. No colégio de freiras, onde estudou por 13 anos, as disciplinas religiosa e militar marcaram fortemente sua percepção sobre o mundo.
A ligação afetiva com o pai, advogado e fiscal aposentado, despertaram na menina o gosto pela arte. Foi nos desenhos que ele guardava de sua época de solteiro que ela se inspirou para criar os seus primeiros esboços. Retratos de atores hollywoodianos de cinema das décadas de 1930 e 1940, assim como cenas da guerra do Paraguai e jogadores do Flamengo, que permeavam o seu imaginário. Outro dos talentos do genitor era a escrita gótica, feita à mão livre, que sempre a impressionaram. Erudito, o pai compartilhava com a filha a paixão por músicas clássicas e livros de história da arte. "Dividimos muitas horas de silêncio e compreensão mútua. Por vezes, as palavras não eram necessárias". As aulas de pintura a óleo se iniciaram aos 11 anos, tendo o pai como um entusiasta de suas obras. Ofício que Michelle Campos praticou com regularidade até os 21 anos, quando abandonou o curso de comunicação social e iniciou o de artes plásticas na Escola Guignard.
Na época, em meados de 2000, Michelle se surpreendeu com tamanho reconhecimento. Intensificou ainda mais a sua preocupação com a condição das mulheres no contexto dos sistemas ditatoriais. Nasceu, então, a instalação da Grande Mãe. Um trabalho plástico suscitado por suas inquietações e baseado nas referências literárias de George Orwell, com o Grande Irmão, do romance 1984, e o mito pré-histórico da Grande Mãe Terrível, citado no livro, Personas Sexuais de Camille Paglia. "Essas obras resumem a primeira fase dos trabalhos artísticos que considero como os primeiros de uma pesquisa que ainda se desenvolve", diz.
*Leia também na edição impressa (nº 218) da Encontro