Proprietária da Commemorare, loja especializada em venda e aluguel de móveis para festas, Luciana, de 67 anos, encara a vida com otimismo, mesmo em situações extremamente delicadas. Foi assim no incêndio da filial da Commemorare no Rio de Janeiro, no final de 2016, em que as chamas devastaram 90% da empresa em três horas, depois do curto-circuito no ar condicionado que começou no almoxarifado e alastrou-se por todo o galpão. Muitos pensaram que ela desistiria do negócio. Enganaram-se. Luciana arcou com os compromissos e voltou revigorada.
Na época, a filial do Rio representava 60% dos negócios da empresa, que chegava a ter 42 eventos atendidos em um fim de semana. Referência em qualidade, pontualidade e design diferenciado, a Commemorare chegou a ter mais de 100 mil itens para locação no estoque. "Apesar do desastre, tentamos não passar o problema para o mercado. Nenhum evento foi cancelado", afirma o empresário Luiz Eduardo Gontijo Vasconcelos Porto, filho de Luciana, que foi gerente geral da Commemorare e trabalhou 10 anos na empresa. "Luciana é dinâmica e assertiva, mas escuta também muito os clientes e funcionários e aprende com os erros."
Agora, a Commemorare atende não só profissionais de eventos, decoradores e cerimoniais, mas também o cliente final. No showroom, é possível fazer uma simulação da festa com os móveis disponíveis. Os clientes podem alugar de uma simples cadeira a um amplo mobiliário para casamento em um palácio na França ou evento de mais de 2 mil pessoas na Serraria Souza Pinto. Entre as peças exclusivas estão a banqueta Spoletto, de madeira com couro pergaminho; a cama Firenze, de bambu e madeira; a mesa Vercelli, com tampo Toscana; e o sofá Fiuggi, com tecido inspirado na coleção 2016 de Dolce & Gabbana, resistente ao tempo e à chuva.
A filha caçula de Luciana, a economista Ana Florença Gontijo Vasconcelos Porto, trabalha com a mãe há 18 anos na empresa. "Flor", como é carinhosamente chamada pela família, é responsável pelo setor administrativo. "Nunca tivemos uma briga. Caminhamos juntas, porque reconhecemos o que a outra tem de melhor. A sua disposição é de dar inveja", afirma. A entrada de Flor na empresa, em 2001, foi, segundo Luciana, um divisor de águas. A filha ficou responsável por toda a informatização e deu respaldo para a Commemorare crescer e montar a filial no Rio, onde morou por cinco anos. "Quando cheguei, a empresa era tão pequena que eu nem tinha cargo. Todo mundo era tudo", lembra.
O incêndio não foi o único desafio que Luciana precisou vencer. Em 2007, quando tinha 55 anos, a empresária foi pega de surpresa com o diagnóstico de câncer de mama. Durante os sete anos, em que ficou envolvida nos procedimentos do tratamento, não deixou de trabalhar nem um dia. "Tratei como uma gripe forte", diz. O câncer de mama não foi a primeira má notícia relacionada à saúde que recebeu. Quando tinha 41 anos teve o diagnóstico de um tumor cerebral, retirado com cirurgia. Perdeu a audição no ouvido direito e o lado direito de sua face também ficou paralisado. Com fisioterapia, recuperou 70% das funções. É guerreira. "Penso que Deus me mandou a tempestade para eu fazer um capote, tirar de letra e ser exemplo", diz. Depois do câncer, Luciana mudou os hábitos alimentares e passou a consumir mais produtos naturais, frutas e legumes. Muita coisa cultiva na horta de sua casa. Se precisa fritar algo, usa banha. "O ovo e a couve ficam muito mais saborosos quando afogados na banha, no lugar do óleo", diz.
Cliente e amigo de Luciana há mais de 20 anos, o decorador Amadeu Scarpelli diz que ela tem a capacidade rara de inovar e misturar o clássico e moderno, além de sempre cumprir prazos e horários, qualidades essenciais nos serviços em festas. "É uma pessoa que reúne qualidade moral, capacidade intelectual, dinamismo no trabalho e carinho com todos", afirma. Amadeu admira também o carinho que Luciana sempre teve com a mãe (a pintora e escultora Lêda Selmi-Dei Gontijo, que morreu em junho). "Foi uma filha fantástica e presente", diz. Curador de exposições de Lêda, o produtor de eventos Paulo Rossi reforça essa impressão: "Luciana era generosa com ela", lembra. "E essa mesma generosidade ela estende aos amigos." Paulo está há 40 anos no mercado e já levou móveis da Commemorare para diversas cidades do país.
A trajetória da Commemorare em nove atos
- Março de 1995
Luciana Gontijo comemora a festa de 15 anos da filha caçula Ana Florença no Automóvel Clube e desenvolve mobiliário exclusivo para o evento, com estofados dos sofás e poltronas do mesmo tecido das cortinas do luxuoso ambiente. A decoradora Helena Fonseca, da Flor de Estufa, vê os móveis, gosta, e pede para alugá-los. Luciana vê aí uma oportunidade de negócios - Abril de 1995
A Commemorare começa as atividades de aluguel de móveis para
eventos no espaço onde era a empresa de locação de andaimes para construção civil do marido, Luiz Eduardo Porto, no bairro Planalto - Julho de 1997
A empresa ganha espaço próprio e se muda para o bairro Olhos d'Água - Dezembro de 2001
A economista Ana Florença, filha Luciana, começa a trabalhar na área administrativa da empresa e ajuda na implantação de sistema inteligente de controle de estoque, logística e entregas - Agosto de 2004
A informatização permite crescimento em escala e Luciana abre filial no Rio de Janeiro. A unidade inicial tinha 600 metros quadrados - Setembro de 2012
Empresa muda para um galpão de mais de 5 mil metros quadrados, no Centro do Rio. No auge, a Commemorare chegou a atender 42 eventos em um fim de semana, no Rio de Janeiro, e ter mais de 100 mil itens para locação. O quadro de funcionários chegou a 200 pessoas - Dezembro de 2016
A filial da Commemorare no Rio de Janeiro, que representava 60% dos negócios da empresa, é devastada por incêndio que queimou 90% da empresa em três horas - Julho de 2017
Luciana decide parar com o negócio de locação e vender móveis. No primeiro ano, o negócio deu certo, mas depois suas peças começaram a ser copiadas e fabricadas pelos próprios clientes - Agosto de 2019
Commemorare volta ao mercado de locação de móveis para festas