A questão é tão grave que a Sociedade Brasileira de Pediatria lançou, neste ano, um manual de orientação para médicos, pais e pacientes sobre os benefícios da natureza no desenvolvimento de crianças e adolescentes. "A criança precisa de múltiplos estímulos para desenvolver habilidades diversas", diz Liubiana Arantes de Araújo, vice-presidente do departamento científico de comportamento e desenvolvimento da Sociedade Mineira de Pediatria. "Em parques, praças e ambientes ao ar livre, ela consegue acesso a vários dos elementos necessários no processo." A pediatra explica que brincadeiras são parte essencial do desenvolvimento infantil e, nesses espaços, a criança tem estímulos visuais e auditivos, treina o equilíbrio (correndo no terreno irregular), pratica a coordenação motora grossa e fina ao explorar as folhas, pedras, gravetos, vê-se frente a desafios quando tenta subir em árvores, convive com outras crianças, realiza trabalho cardiovascular que favorece a saúde do coração no longo prazo, fortalece músculos e ossos, recebe vitamina D, entre vários outros benefícios. "Além da questão física, com os estímulos adequados, a criança desenvolve diversas habilidades que são necessárias a aprendizados mais complexos do futuro", diz Liubiana.
A empresária e professora de ioga Simone Las Casas também faz questão de que seu filho Yuri, de 1 ano e 1 mês, sinta-se à vontade com a natureza. "Eu preciso do contato com a natureza para me re-equilibrar, então, desde que ele tinha dois meses, vai comigo para o sítio, em Rio Acima", conta. Primeiro, ele ficava no moisés com mosquiteiro, apenas deitadinho. Depois, foi de carrinho para algumas caminhadas curtas em parques e, desde os oito meses, vai na mochila-canguru para caminhadas mais longas. "Fomos para a Lapinha da Serra e fizemos todas as trilhas, de duas, até três horas, com ele", explica. Quanto aos efeitos da natureza no filho, ela conta que percebe Yuri atento e distraído com os sons e estímulos visuais (sem que sejam "superestímulos", como na cidade ou até nas telas), e ao mesmo tempo, calmo, relaxado, sendo que até cochila melhor.
Como colocar a natureza na rotina das crianças
- Se possível, inclua idas a praças e parques no dia a dia
- Priorize passeios ao ar livre no fim de semana e férias em áreas naturais
- Monte um kit para levar nesses roteiros: papelão para descer barrancos, comidinhas para piquenique, bola ou frisbee, lupas para investigar pequenos animais e plantas
- Faça alguns trajetos do dia a pé. Todo passeio conta e pode ser fonte de curiosidade e exploração
- Vá (a pé) ao sacolão, mercado, padaria, e aproveite para apresentar alimentos saudáveis para os filhos
- Tenha pets e permita que a criança cultive plantas
- Encoraje seus filhos a interagir com o ambiente natural em todas as condições climáticas, inclusive chuva (vestidos de forma apropriada)
- Conte experiências de sua própria infância, compartilhe brincadeiras de sua época, brinque junto
- Dê preferência a escolas que promovam atividades e projetos ao ar livre e ambientalmente responsáveis
Benefícios de experiências ao ar livre para as crianças
- Melhora o controle de doenças crônicas como diabetes, asma, obesidade
- Diminui o risco de dependência ao álcool e a outras drogas
- Favorece o desenvolvimento neuropsicomotor
- Reduz problemas de comportamento
- Proporciona bem-estar mental
- Equilibra os níveis de vitamina D
- Diminui o número de visitas ao médico
- Fomenta a criatividade, a iniciativa, a autoconfiança, a capacidade de escolha, de tomar decisões e resolver problemas
Consequências da ausência de contato das crianças com a natureza
- Obesidade
- Sedentarismo
- Hiperatividade
- Baixa motricidade
- Falta de equilíbrio, agilidade e habilidade física
- Miopia
- Aumento de equivalentes depressivos, ansiedade e transtornos de sono
Fonte: Manual de Orientação Benefícios da Natureza no Desenvolvimento de Crianças e Adolescentes, da Sociedade Brasileira de Pediatria
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