Revista Encontro

CRÔNICA

O que eu vou ser quando crescer?, por Paula Pimenta

"Bastou entrar na faculdade para perceber que o que pensamos que sabemos sobre uma profissão não é bem o que ela é na prática"

- Foto: Pixabay
O fim do ano está chegando. Para muitos, essa é a ocasião de desacelerar, de curtir as festas, o verão. Mas uma grande parte da população tem planos bem diferentes para essa época: os vestibulares e o temido Enem.

A escolha da profissão parece tão simples quando somos criança, sempre temos na ponta da língua a resposta para a clássica pergunta: "O que você vai ser quando crescer?". E ela geralmente é: "bailarina", "cantora", "jogador de futebol". Na infância, levamos em conta apenas a emoção, pois é a etapa em que acreditamos que nossa vontade basta para tornar as coisas possíveis. Os pais acham graça e até incentivam aqueles sonhos, porém, basta chegar à adolescência que nos explicam que sonhar não é suficiente. É preciso escolher uma carreira segura. Que nos sustente, que dê status, que possa realizar as nossas ambições.

Essa fase realmente não é fácil.
Lembro que quando fiz vestibular todos me cobravam uma resposta. Com 16 anos eu já deveria saber o que almejava fazer pelo resto da minha vida, certo? Errado. Eu não tinha a menor ideia do que queria para meu futuro. Só sabia que era louca por música, que adorava escrever, que amava animais e que detestava matemática e física. Eu invejava profundamente os meus colegas, que desde os 5 anos de idade diziam: "Quero ser médico!" E durante a vida inteira se prepararam mentalmente para isso. Até o momento de fazer a inscrição no vestibular eu ainda tinha dúvidas! Acabei escolhendo jornalismo, pois isso parecia a coisa certa a fazer. Eu era muito boa em português, gostava de fazer redações, escrevia poesias. Mas, guardei no fundo do peito a vontade de ser veterinária. Quando intimamente eu achava que devia era estudar música.

Bastou entrar na faculdade para perceber que o que pensamos que sabemos sobre uma profissão não é bem o que ela é na prática. Não basta ter aptidão, é preciso perguntar: eu gosto disso como um hobby ou para fazer todos os dias? Logo que passei a ser obrigada a escrever, percebi que o que eu realmente gostava era de colocar minhas emoções no papel e não de relatar os fatos imparcialmente. Foi quando entendi que não era bem ser jornalista que eu desejava. A minha vontade real era de ser escritora.

O problema é que a vida inteira eu havia aprendido que escritora não era uma profissão "de verdade". Os escritores que eu conhecia eram também médicos, jornalistas, professores...
Então, em vez de investir nisso de cara, mudei para o curso de publicidade, uma carreira em que eu poderia ser criativa e ter estabilidade ao mesmo tempo. A partir de então, passei a escrever só nas horas vagas. Apenas vários anos depois da formatura, quando percebi que eu continuava insatisfeita, é que resolvi largar tudo e passar um ano em Londres, onde fiz um curso de escrita criativa que mudou minha vida. Na verdade, não foi bem o curso, mas o fato de ele ter me despertado a vontade de escrever um romance do início ao fim. Foi esse romance que transformou toda minha história e que me fez descobrir que ser escritora é, sim, uma excelente profissão.

Então, esse é o conselho que dou para todos os jovens que estão indecisos nesse momento da escolha profissional: não pensem que sua decisão é permanente. Vocês não têm de acertar de primeira. A vida é longa, dá tempo de experimentar algumas vezes antes de escolher o caminho definitivo. E, mesmo depois de escolhido, ainda dá para voltar atrás, começar tudo de novo. Claro que o quanto antes descobrirem o que realmente querem, mais cedo vão se realizar profissionalmente. Mas não pensem nessa escolha como se fosse sua única chance, senão a pressão pode atrapalhar muito! O mais importante é lembrar daquela frase clichê, mas que é tão verdadeira: siga o seu coração.
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