Só que a vida não parou por causa do vírus e a nova rotina agora é repleta de adaptações. Os escritórios foram transferidos para o interior de casas e apartamentos. E assim como o trabalho foi parar dentro dos lares, academias, pistas de corrida e salas de ioga ganharam suas novas versões, dentro de telas de computadores ou smartphones. Afinal, assim como a mente, o corpo também não podem parar. “A atividade física é uma das melhores medidas no combate a doenças crônicas”, diz Luiz Fernando Machado, ortopedista e professor de medicina da UniBH. Segundo o médico, tanto o tempo gasto quanto a postura do corpo na cadeira em frente ao computador pode levar ao aparecimento de dores e complicações em várias partes do corpo, como lombar, cervical, trapézio, punhos e cotovelos. “Não podemos esquecer também dos olhos, que ficam mais cansados por causa da luz dos monitores”, alerta. Para afastar alguns desses problemas, a melhor receita é desligar um pouco e, para usar uma expressão um tanto antiga, balançar o esqueleto.
Mas que ninguém ache que só por estar em casa vale abusar. Quem não está acostumado com o universo das academias – ou dos parques e praças – precisa pegar leve. “O ideal seria começar com atividades sem carga, que usam o peso corporal”. diz o médico. “Também é necessário redobrar a atenção com a postura e a maneira como cada movimento é feito, para evitar lesões”. A sobrecarga também é um dos grandes perigos para os atletas caseiros. “Não precisa fazer exercícios todos os dias. Respeite os seus limites e os dias de descanso”.
Segundas, quartas e sábados são dias de live para Jonathan Santos. Garrafa de água, amaciante, flanelas, mochila e outros utensílios do dia a dia se transformam em pesos e acessórios de academia nas mãos do personal trainer, que possui mais de 35 mil seguidores no seu perfil do Instagram (@jonathanpersonaltrainer). “Eu penso bastante sobre quais serão os exercícios das lives”, diz. Quem acompanha observa o cuidado do personal. Ao longo da transmissão, Jonathan explica com detalhes a postura correta de cada movimento, além de apresentar versões mais fáceis ou desafiadoras dos exercícios. “A vida não pode parar totalmente. Não adianta ficar preso em casa para se cuidar e acabar com outra doença.”
O isolamento social transformou as aulas do educador físico. Agora, ele passa os exercícios e corrige a postura dos alunos através de uma das ferramenta mais usada na quarentena: as videochamadas. Durante a sessão, o celular ou tablet dos alunos muda de posição frequentemente, para que o professor possa verificar os movimentos nos mínimos detalhes. Alguns alunos viram na rotina da quarentena uma nova possibilidade para o futuro. “Antes eu tinha que tomar um café da manhã bem rápido e já sair para a academia”, lembra Nicole Gori. “Ainda corria o risco de ficar agarrada no trânsito e chegar atrasada”. Agora, a empresária leva uma manhã bem menos corrida. O café pode ser apreciado com mais calma e tranquilidade ao lado da sua filha, a pequena Maria Eduarda, de 1 ano e 6 meses. Depois, é hora de treinar e começar mais um dia de trabalho. “Precisa de muita disciplina para treinar em casa. Mas eu estou adorando ficar mais com a família”, diz Nicole. “Penso em continuar assim mesmo depois do fim da pandemia”.
Agora inspire profundamente, faça movimentos suaves e se concentre bem na própria respiração. Famosa por ajudar a diminuir o estresse e alongar os músculos do corpo, a ioga é uma boa ferramenta para manter a saúde do corpo e da mente em dia durante a pandemia. “Além de tudo, é uma prática bem democrática. Você só precisa de um colchonete e um cantinho reservado”, diz Carol Rache. A criadora do Espaço Namah e professora de ioga foi adaptando suas aulas de acordo com o desenvolvimento do coronavírus. No começo, os professores passaram a atender metade dos alunos por vez, aumentando a distância para manter todos em segurança. Porém, no começo de março, chegou a hora de suspender as atividades do Espaço Namah. “Só que os nossos alunos estavam carentes de ioga, com saudade daquele momento.”
As academias também tiveram de encontrar suas próprias formas de inovar e continuar próximas dos clientes durante a quarentena. Muitas levaram as aulas dos seus professores mais carismáticos para as lives do Instagram. A BodyTech, porém, já tinha uma alternativa inovadora para o período de isolamento pronta e operando há anos: o BTFIT. “Nós criamos o aplicativo em 2015, para oferecer uma solução mais democrática e que pudesse chegar nos lugares onde a academia ainda não estava presente”, diz o CEO do projeto, Bruno Franco. Para garantir ao máximo a segurança dos alunos durante os exercícios, as aulas são gravadas com o auxílio de três câmeras, que mostram as minúcias de cada movimento. “Além disso, também colocamos mais dois figurantes junto com o professor, para demonstrar uma versão mais fácil e outra mais difícil.”
Disponível em português e em inglês, a plataforma registrou mais de 1 milhão de downloads entre os meses de março e abril, período promocional em que não cobrou dos clientes a mensalidade de 25 reais. Com 4 milhões de usuários espalhados em 162 países, o aplicativo oferece três formas diferentes de treinar. Aulas coletivas, de modalidades como ballet fitness e pilates, são carregadas diariamente na plataforma. Já quem procura uma rotina de exercícios com um objetivo bem definido encontra diversas opções nos programas de treinamento da plataforma. “Temos também um algoritmo, o Personal Trainer Online, que consegue criar uma ficha especial para cada pessoa”, diz Bruno. Para ele, a tecnologia tem tudo para ser cada vez mais importante no dia a dia de quem gosta de estar sempre em movimento. “Claro que o BTFIT não vai substituir os equipamentos de uma academia, mas é uma excelente opção para os alunos que só têm tempo para um treino rápido ou estão gripados e não querem expor ninguém”. Durante ou após a pandemia, ficar em casa não precisa ser sinônimo de ficar parado.