Revista Encontro

ESPECIAL NOVO CORONAVÍRUS

Como as baladas de BH planejam retomar a programação

Sem pista de dança e com paquera à distância, casas começam a preparar os seus planos para voltar de forma segura

Gabriel Marques
Henrique Chaves (à dir.), sócio da Land Spirit, se uniu ao chef Massimo Battaglini para pensar em um novo modelo para o espaço de eventos: "É a ideia de um banquete ao ar livre, sem pressa e com segurança", diz Henrique - Foto: Barbara Dutra/Divulgação
Complete a frase: sábado é dia de… Seja balada, boteco ou jantar romântico, de todo jeito, o fim de semana geralmente é reservado para algum programa especial. Ou pelo menos era. Com a pandemia do novo coronavírus, o mundo se viu preso em casa por meses. Os mesmos bares, baladas e restaurantes, tão acostumados a ficarem cheios de quinta a domingo, se viram vazios e silenciosos por meses. Enquanto esperamos pela queda no número de casos do novo coronavírus no Brasil, as características que vão definir como será o "novo normal" das baladas tomam contornos cada vez mais claros mundo afora. Por enquanto, máscaras, álcool em gel e lotação limitadas nas casas são obrigações em todos os eventos. No final de maio, um vídeo de uma rave na Eslováquia viralizou na internet, mostrando uma festa para poucas pessoas, a céu aberto e com faixas delimitando uma suposta distância segura entre as pessoas. Já na Alemanha, uma boate local chamada Index tem conduzido grandes festivais de música, nos quais todo mundo pode dançar seguro, no conforto dos seus automóveis - se não dá para dançar dentro do carro, pelo menos levantar as mãos e chacoalhar o tronco é possível.
Enquanto isso, a pista de dança de uma boate holandesa chamada Doornroosje está de portas abertas para o público, desde que seja respeitado o limite de 30 pessoas por noite e todos permaneçam sentados nas cadeiras a 1 metro e meio umas das outras. Pelo que parece, a paquera terá de ser à distância.

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Por aqui, se as pessoas não podem ir até a balada, a balada vai até elas. André Panerai não quis deixar que o coronavírus acabasse com uma tradição dos bares Gilboa e Jângal: o Baile dos Solteiros. "É um dos nossos maiores eventos, que ocorre poucos dias antes do Dia dos Namorados", diz o sócio das duas casas. Para manter a tradição viva, André recorreu a um novo modelo de balada. A quinta edição do Baile dos Solteiros aconteceu no dia 10 de junho, por meio de uma videoconferência para centenas de pessoas pelo aplicativo Zoom, mas de um jeito muito diferente daquela reunião de trabalho. "O DJ ficava maior na tela e nós íamos alterando a imagem entre os participantes mais animados", conta André, que foi responsável por controlar as mensagens enviadas através do correio elegante, colocando potenciais casais em salas separadas para um bate-papo rápido. A festa começou às 21h e só foi terminar bem depois das 3h da madrugada. "Ao longo do tempo, o pessoal foi se desprendendo a abraçando a experiência", diz o empresário. "Se feito de uma maneira profissional e planejada, este é um modelo com um excelente potencial matar a vontade de sair de casa na pandemia."

A Jabu Drinkeria será uma das primeiras casas do grupo Chalezinho a reabrir, assim que for liberado pelos órgãos de saúde: arquiteto foi contratado para reorganizar mesas, com distância segura - Foto: Nelson Avelar/BS Fotografias/DivulgaçãoReferência há anos quando o assunto é balada em Belo Horizonte, o grupo Chalezinho está com seus planos prontos, aguardando apenas a liberação dos órgãos de saúde para abrir suas portas. Mas esqueça aquela balada cheia, com filas no banheiro e pouco espaço para se movimentar. As primeiras noites, após a liberação dos órgãos de saúde, terão uma pegada muito diferente, focadas no respeito ao espaço de cada um. Agora, é cada um no seu quadrado.
"Nós contratamos um arquiteto para medir a distância entre as mesas, criando um ambiente seguro para todos", diz a produtora de eventos Bela Grecco. "Claro que isso diminuirá a capacidade da casa, mas vamos compensar abrindo mais dias." Bela é responsável pela Jabu Drinkeria, coquetelaria do grupo Chalezinho, que deverá ser a primeira a abrir as portas. E como diz o ditado, a primeira impressão é a que fica. "Estamos preparando um protocolo de segurança que vai da recepção até o pagamento", diz Bela.

Com o lema "sem abraços, nunca sem sorriso", a equipe de segurança da Jabu está pronta para receber os clientes, desde que sejam seguidos todos os procedimentos de segurança. Para garantir um lugar na casa, será necessário fazer uma reserva prévia pela internet. A segunda checagem de segurança será na porta da balada, com um termômetro infravermelho. Após serem levados à mesa por um caminho que não cruza com o de outras pessoas, é hora de folhear o cardápio da Jabu, disponível em versão descartável ou digital. O som ambiente continua a cargo de um DJ, só que sem a pista de dança. E na hora de sair, basta pegar o celular: aplicativos como Apple Pay e Google Pay ajudarão a substituir de vez as longas filas no caixa. Tudo isso com vários totens de álcool em gel espalhados pela casa.
"Nossos seguranças agora tem um novo cargo: fiscais do corona", diz Bela Grecco.

Já na região do Olhos d’Água, a Land Spirit planeja trocar a experiência dos grandes shows produzidos no espaço por algo completamente diferente. "É a ideia de um banquete ao ar livre, sem pressa e com segurança", diz Henrique Chaves. Batizado de Outland - Outdoor Meals and Drinks, o projeto idealizado pelo sócio da balada busca combinar o clima de um piquenique em família com um cardápio cheio de comidas aconchegantes, elaboradas pelo chef Massimo Bataglini. E assim como na Jabu, o protocolo de proteção dos clientes promete ser rigoroso. Para participar do evento, será necessário fazer uma reserva prévia, respondendo a um questionário sobre a sua exposição ao novo coronavírus. Na entrada da Land, um novo questionário, que deverá ser respondido por todas as pessoas do grupo, seguido por uma medição de temperatura. Caso todos os requisitos sejam atendidos, os clientes serão então levados a seu table pod, um espaço delimitado e seguro para que todos possam dançar e interagir sem se preocupar com a presença de outros grupos.

Além da retomada dos eventos, o sócio da Land Spirit espera usar o momento para ajudar na volta de outros setores da chamada economia criativa. "Vimos vários projetos eclodirem na quarentena com produtos e produtores locais, de pães especiais a charcutaria e queijos", diz Henrique. Tudo isso vai parar dentro da cozinha do chef Massimo, que sabe como combinar os sabores mineiros com suas raízes trazidas da Itália.
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