Revista Encontro

ESPECIAL NOVO CORONAVÍRUS

Saiba como livrarias se preparam para a reabertura em BH

Lojas tiveram o gostinho de retomar as atividades. E já experimentaram o que vem por aí

Marina Dias
Alencar Perdigão, livreiro e sócio da Quixote, na Savassi: "Quando tivermos possibilidade de recomeçar os eventos, vamos concentrar mais na calçada, como já fazíamos, e ver com os órgãos competentes a possibilidade de explorar a própria rua, em sábados pela manhã" - Foto: Divulgação
As pessoas que tinham por hábito, no pré-pandemia, frequentar livrarias físicas, buscar títulos nas prateleiras, conversar com livreiros, sentar para tomar um café enquanto folheavam uma edição especial, participar de saraus ou levar os pequenos para sessões de contação de história estão sentindo falta desse programa. Isso porque, diferentemente de alguns outros comércios, esses estabelecimentos não são exclusivamente "lojas de livros", mas lugares de encontro, de passeio.

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Por isso, livreiros da cidade estão pensando em como será o futuro do setor, enquanto não houver vacina ou tratamento para a Covid-19 que permita o retorno da realização de eventos que têm tanta ligação com o mercado literário. Ainda pouco se sabe como será esse futuro, mas as lojas tiveram chance de vivenciar, por cerca de um mês (de 25 de maio a 28 de junho), a reabertura das portas - ainda que com restrições relativas aos protocolos do novo coronavírus. Assim como em outros setores, as regras nas livrarias envolveram horário reduzido, uso de máscara para todos - funcionários e clientes -, número limitado de clientes por vez, sinalização dos espaços (quando necessário), além de proibição de funcionamento de cafés e realização de eventos (como os de lançamentos de livros).

Bernardo Ferreira, da Livraria Ouvidor, que completa meio século em 2020: "Acho que essa crise veio para dar outro rumo no comércio em geral e nas livrarias também. Estamos pretendendo ficar por pelo menos mais 50 anos" - Foto: DivulgaçãoSegundo Marcus Teles, diretor presidente da Leitura, que tem 73 lojas no país (cerca de metade fechada, até o fechamento da edição), as vendas em lojas reabertas representam, na média, 50% do que eram antes da pandemia. Isso se deve, segundo ele, tanto ao horário reduzido de funcionamento, diminuição das atividades possíveis e apreensão dos clientes. "O tempo médio de estadia de um consumidor em nossa loja era de 45 minutos. Hoje, caiu para 20", afirma. Para Alencar Perdigão, livreiro e sócio da Quixote, na Savassi, poder abrir as portas, ter a vitrine visível na rua, receber clientes na área interna foi um alívio.
No entanto, o serviço de entrega ainda foi responsável por uma fatia maior do faturamento do que as compras in loco, no período - a loja da Savassi, que já existe há 17 anos, chegou a reabrir, mas a loja da UFMG, que existe há dez, está fechada desde março, já que o campus não tem previsão de retomada das aulas.

As livrarias que não tinham e-commerce ou serviço de entrega tiveram de se adaptar para manter o negócio funcionando nos períodos mais restritos, ainda que de portas fechadas. Assim, muitas passaram a oferecer entrega de livros em casa e pedidos via redes sociais e Whatsapp, além de estratégias como dicas de livreiros em vídeos postados diariamente, contato direto na loja para sugestões e entrega de livros para presentes - com direito à cartão escrito à mão, ditado pelo cliente. "Durante o isolamento, atendemos muita gente com o serviço de entrega", diz Bernardo Ferreira, proprietário da livraria Ouvidor. A Quixote também inaugurou o serviço. "Funcionou melhor do que esperávamos", diz Alencar. Ele diz, ainda, que o serviço possibilitou o atendimento de clientes de outros bairros, que não tinham o hábito de ir até a livraria, e até de outros tipos de livros, com os quais não trabalhavam e passaram a pedir para atender a essas novas demandas. Na Leitura também as entregas e o e-commerce tiveram desempenho sólido durante o período de portas fechadas. "Nessas modalidades, a venda multiplicou por mais de três", diz Marcus.

Marcus Teles, diretor presidente da Leitura: "O tempo médio de estadia de um consumidor em nossa loja era de 45 minutos. Nas que podem estar abertas, caiu para 20" - Foto: DivulgaçãoA entrega em casa funcionou bem mesmo no período de reabertura, pois supre bem o tipo de serviço que elas podiam realizar - a venda do produto. Os estabelecimentos alimentícios continuaram fechados, e os lançamentos que não foram cancelados têm sido feitos online. "Nós, como editora, lançamos alguns títulos que já estavam programados para sair e eles sofreram impacto na venda por não termos tido evento na livraria. Fizemos online, mas não venderam nem 10% do que poderia ter sido vendido em um sábado de manhã com um coquetel", diz Alencar. "Quando tivermos possibilidade de recomeçar os eventos, vamos concentrar mais na calçada, como já fazíamos, e ver com os órgãos competentes a possibilidade de explorar a própria rua, em sábados pela manhã, para fazer os lançamentos", afirma.

Mas o setor não está pessimista. Marcus afirma que decidiu manter o plano de inaugurar mais sete lojas da Leitura este ano e nove em 2021, e que pretende recontratar, até o fim deste novembro, ex-funcionários que foram dispensados durante o período de fechamento e que ainda estiverem disponíveis.
"Estamos acreditando que aos poucos vai voltar. Este ano vai ter queda importante, mas ano que vem creio que já estará quase normalizado", diz. Para Bernardo, da Ouvidor, livraria que completa meio século em 2020, o investimento na comunicação digital e o relacionamento com os clientes são itens essenciais e que têm feito a diferença. "Acho que essa crise veio para dar outro rumo no comércio em geral e nas livrarias também. Estamos pretendendo ficar por pelo menos mais 50 anos."
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