A paixão pela medicina veio cedo. Em sua família, muitos seguiram as carreiras jurídica e militar ou se dedicaram a atividades agropecuárias, enquanto Elton, desde a infância, sempre dizia que queria ser médico. A neurologia também já estava traçada no destino do mineiro, hoje com 53 anos. "No primeiro período da faculdade, despertei um interesse maior por uma disciplina chamada neuroanatomia, que é o estudo das estruturas anatômicas complexas do sistema nervoso central e periférico", diz. Em seus 30 anos de carreira, o neurologista deu aulas na mesma faculdade em que se formou e trabalhou em hospitais importantes de Belo Horizonte, como Mater Dei, Santa Casa, Julia Kubitschek e o extinto Santo Ivo, da OAB. Elton exerceu atividades, ainda, no Centro Psíquico da Adolescência e Infância, da Fundação Hospitalar de Minas Gerais, onde conheceu sua mulher, a psiquiatra Joyce Junqueira, com quem tem dois filhos, os pequenos Michael, de 12 anos, e Sophie, de 8 anos.
A saga de um neurologista e um estatístico na fabricação de queijo tem origem familiar. A história de sucesso do laticínio produzido por eles, também. Quando crianças, os irmãos viajavam às fazendas de seus bisavós e avós - de origens alemã, no lado materno, e portuguesa, no paterno - onde, entre outras atividades rurais, eram fabricados queijos. "Algumas de minhas melhores memórias da infância vêm das visitas ao interior, sobretudo durante as férias. Porque mineiro é assim: quando não vai à praia, vai à roça", brinca Elton. Há cerca de 25 anos, quando algumas dessas propriedades rurais tornaram-se espólio devido à morte de seus avós paternos, e foram colocadas à venda, Elton e Edward resolveram comprar uma das partes do terreno. Aos poucos, foram resgatando as antigas atividades exercidas por seus familiares, como a criação de gado da raça girolando.
Os irmãos recordaram-se dos saborosos queijos degustados na infância e deram início à ideia de voltar a produzir o laticínio naquelas terras. Resgataram receitas de seus antepassados e trataram logo de por a mão na massa, literalmente. Depois de dois anos de experimentação, chegaram ao Joaquim da Rita, batizado assim em homenagem a seu avô e sua bisavó. "Unimos os toques português e alemão até chegarmos a um produto com boa aparência e que nossa família sente prazer em degustar", diz Elton. Com textura aerada, cor âmbar, aroma e paladar médio, e meia-cura, o produto começou a ser entregue como uma recordação a amigos e familiares. O Joaquim da Rita diferencia-se dos demais queijos Minas, também, por ser mais consistente por fora e macio internamente. É vendido em empórios selecionados em diversas regiões do estado, incluindo a capital. O preço médio do quilo varia de R$ 55 a R$ 75. Entre os segredos da fabricação e do sucesso do Joaquim da Rita estão os cuidados sanitário e com o bem-estar dos animais que produzem o leite utilizado no processo. "Todo o leite que usamos é extraído na nossa fazenda, não compramos de terceiros", diz Elton. "Além disso, tomamos todos os cuidados necessários e alguns extras com os animais, e até com a água utilizada."
Com o sucesso na carreira de médico e de mestre queijeiro, Elton poderia se dar por satisfeito, mas, lembre-se, estamos falando de um homem disposto a realizar múltiplas atividades. Pois bem, ele revela ainda sua paixão pela poesia. Apaixonado pelo legado do escritor mineiro Guimarães Rosa (1908-1967), o neurologista escreve textos inspirados na obra roseana, e criou um site e uma página no Facebook para publicá-los. "Sempre tive em mente que, quando a vida me desse um tempo, eu colocaria no papel alguns pensamentos. E esse período chegou com a quarentena por causa da pandemia do novo coronavírus", diz.
Ele relembra que o pontapé inicial para começar a escrever veio ao conversar com o compositor mineiro Celso Adolfo, após um show em um teatro de Ouro Preto, no final de 2019. Elton contou com a pouca presença de público para se aproximar do músico. "Entre outros assuntos, falei pra ele sobre o Joaquim da Rita, ele experimentou, gostou e até me enviou uma crônica sobre o queijo, que eu ainda não publiquei, mas pretendo fazer isso em breve", conta. "A partir daí, começamos a trocar alguns textos pela internet e a escrita começou a fluir naturalmente." Curiosamente, na ocasião, Celso Adolfo estava divulgando o álbum Remanso de Rio Largo, baseado na obra de Guimarães Rosa.
Elton conta que as poesias são baseadas em sua vivência desde a infância até os dias atuais nas regiões das cidades de Pompéu e de Corinto, que fazem parte do cenário das narrativas presentes no mais conhecido livro de Rosa, Grande Sertão: Veredas. Claro, a história do queijo produzido pelo neurologista em parceria com o irmão está presente em um dos textos. " Numa sentada vai uma peça, come tanto que a gente peca / E por mais que alguém peça, somente boa reza para parar / Todo aquele queijo trabalhado, com o tempo ficou afamado / Por todo mundo é procurado, põe na venda pra comerciar " (trecho da poesia "Da Lida de Joaquim da Rita").
O multitarefas Elton Augsten, é, sobretudo, um autêntico mineiro, porque haja causo bom para contar - e para ouvir -, hein, sô!
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