A percepção de Guilhermina encontrou eco em outros conhecidos que atuam no terceiro setor e também têm visto os pedidos por ajuda - sendo uma das principais, senão a principal, a comida - disparar. Nove pessoas de projetos diferentes decidiram se reunir para iniciar uma campanha de arrecadação para compra de cestas básicas. "Poderíamos fazer campanhas separadas, cada um com sua organização, mas na urgência e na escala que precisamos, achamos que uma grande campanha arrecadaria mais e mais rápido", explica. Assim surgiu o movimento Unindo Forças BH, em que iniciativas como Aceleradores do Bem, Transforma BH, Instituto Tio Flávio Cultural e outras reuniram esforços para distribuir alimentos para o maior número possível de pessoas. Os criadores do movimento se dividiram em núcleos, como demanda, logística, institucional, financeiro e comunicação. "Cada um criou sua própria equipe, uma rede de profissionais voluntários para fazer o projeto acontecer", explica Sílvia Castro, publicitária e videomaker, responsável pelo núcleo de comunicação.
A fome não tinha desaparecido, mas o país havia feito grandes avanços desde a época em que Betinho lutava nessas trincheiras. A situação, contudo, já tinha começado a piorar nos últimos anos e, de repente, veio a pandemia. A longa duração da crise sanitária até agora e seus desdobramentos econômicos e sociais, deixaram a situação ainda mais grave, especialmente após o fim do auxílio emergencial (que foi retomado apenas em abril, e com valor menor que o de 2020). Segundo dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o número de brasileiros abaixo da linha da pobreza triplicou. Passou de 9,5 milhões no ano passado, para 27 milhões este ano. São pessoas que sobrevivem com até 246 reais por mês. Números do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19, levantamento realizado em dezembro do ano passado (ou seja, que nem levou em conta o impacto do fim do auxílio emergencial), mostram que nos três meses anteriores à coleta de dados, moradores de 55,2% dos domicílios conviviam com algum grau de insegurança alimentar, um aumento de 54% desde 2018 (36,7%). Isso significa que 116,8 milhões de brasileiros não tinham acesso pleno e permanente a alimentos no período considerado na pesquisa. Desses, 43,4 milhões (20,5% da população) não contavam com alimentos em quantidade suficiente (insegurança alimentar moderada ou grave) e 19,1 milhões (9% da população) estavam passando fome (insegurança alimentar grave). Pesquisa do Instituto Data Favela realizada em fevereiro deste ano mostra que 68% dos moradores de favelas não tiveram dinheiro para comprar comida em ao menos um dia nas duas semanas anteriores ao levantamento.
Com essas questões na cabeça, a empreendedora social Camila Chiari está em sua segunda grande campanha na pandemia. No início da crise, no passado, atuou por quatro meses na arrecadação de recursos e distribuição de mais de 5 mil marmitas em 20 comunidades da Grande BH. A partir da experiência, escreveu um livro, Outros Horizontes, publicado em dezembro, em que conta relatos que coletou durante o projeto, mostrando o impacto da Covid-19 nesses locais. Em fevereiro deste ano, retomou a atuação, com a campanha Doe Cestas. É ela quem recolhe as doações e, em contato com líderes comunitários por meio do projeto Ajudar, distribui pessoalmente os donativos. Até o fechamento desta edição, havia arrecadado mais de 50 mil reais e distribuído quase 900 cestas em 11 comunidades da Grande BH. "Eu entrego as cestas e as pessoas agradecem e falam que não tinham nada para comer naquele dia", conta. Camila diz que os pedidos têm aumentado diariamente e não acredita que é algo que será resolvido no curto prazo. "Estamos apagando um incêndio", explica.
Desde o último fechamento da cidade, em março, o empresário Romeirik Gomes sai quase diariamente de casa, à noite, de moto, para distribuir lanches a moradores de rua em BH. De maneira descontraída, carregando uma mochila grande e quadrada "à la delivery", ele aborda as pessoas informando que o pedido chegou. A reação normalmente é de espanto. "Aqui ninguém pediu nada!" e "Nem celular eu tenho para pedir comida" são duas das frases que Romeirick já ouviu. Ele insiste. "O endereço é esse. Tenho de entregar aqui!". Deixa então a comida (normalmente sanduíche) e a bebida. "A abordagem brincando facilita muito, as pessoas ficam menos desconfiadas, ficam felizes ", conta ele, que já vai em pontos definidos do centro da capital e área hospitalar. Os locais foram mapeados pelo mineiro na atuação do Madrugada Sem Fome, grupo de voluntários que reúne doações e distribui, uma vez por mês, 500 marmitex, além de suco, café, frutas - "e muito amor e solidariedade", completa ele - na região.
De acordo com o economista Daniel Gonzalez, fundador da aceleradora de projetos sociais Hub Social, a retomada da mobilização se deve ao fato de que a sociedade está vendo por meio do noticiário que a situação é a pior até agora. Ao longo do ano passado, após um engajamento inicial muito forte devido ao baque pelo começo de uma crise sanitária mundial, a mobilização foi caindo. "Por um lado, houve a familiarização com o cenário, que passou a fazer parte da realidade e não necessariamente incomodava tanto mais", diz Daniel. "Por outro, muitas pessoas que contribuíram no início também tiveram a renda comprometida e reduziram o valor que poderiam doar", afirma. Mas as notícias de 2021 voltaram a impactar os mineiros. "Quando essa notícia ganha peso, pessoas voltam a levar um susto que as leva a agir."
Também com intuito de inspirar por meio de ação, o empresário Eugênio Mattar incluiu a Localiza na campanha Panela Cheia Salva, realizada pelo Instituto Gerando Falcões em parceria com a Central Única de Favelas (CUFA) e a Frente Nacional Antirracista. O movimento pretende arrecadar recursos para distribuição de 2 milhões de cestas básicas em todo o país. A proposta da Localiza é incentivar os funcionários a fazerem a doação de 1% do valor líquido de sua PLR (Participação nos Lucros e Resultados) para o Panela Cheia. A cada real doado pelo colaborador, a empresa doará outro. A meta é arrecadar 1 milhão de reais - que serão completados com igual milhão pela companhia, que tem cerca de 10 mil funcionários.
Se em situações mais "normais" já existe a noção de que um futuro melhor depende não apenas da ação dos governos, mas também das pessoas e das empresas, a pandemia exacerbou a necessidade dessa articulação. Um exemplo recente desse engajamento é o movimento Unidos pela Vacina. A iniciativa da sociedade civil está atuando no país inteiro desde o início de março no intuito de dar condições às prefeituras para que agilizem o processo de imunização quando a disponibilidade de doses permitir. O projeto é coordenado, em cada estado, por uma representante do Grupo Mulheres do Brasil (criado pela empresária Luiza Helena Trajano) e um representante do empresariado. Em Minas Gerais, são eles Patrícia Tiensoli, da Total Logística, e Rafael Menin, da MRV.
Patrícia explica que o SUS é referência mundial em vacinação em massa. Contudo, a pandemia é uma situação inédita, e as circunstâncias desta imunização (público muito abrangente, o mais rápido possível, com necessidade de distanciamento social) são os principais motivos dos gargalos. Ela afirma que o grupo dialoga com todas as instâncias, segue rigorosamente o Programa Nacional de Imunizações e tem meta ousada: ajudar na agilidade para que todos sejam vacinados até o final de setembro de 2021. "Estamos tendo só gratas surpresas quanto ao engajamento do empresariado e de instituições", afirma. "Começamos com 30 empresários e representantes de instituições em Minas e hoje somos quase 200."
Uma das dificuldades de uma crise sanitária, econômica e social como esta é justamente o fato de que há muitas frentes a serem atacadas. "O recurso financeiro é limitado e hoje a gente tem algo que não tinha há um ano, a vacina, que também está recebendo atenção de doadores", explica Daniel Gonzalez, do Hub Social. No caso da Fiemg, um desafio é acompanhar a mudança nas demandas que vão sendo levantadas com o passar dos meses. "Vamos identificando aquilo que se torna prioridade e redirecionando recursos nesta ou naquela direção", explica Roscoe. "Por sermos privados, temos agilidade nesse sentido e conseguimos nos adaptar de forma mais célere." Afinal, não custa relembrar novamente a frase célebre de Betinho: "quem tem fome tem pressa." Muita pressa.
Saiba como contribuir
Alimentando Compaixão
Voluntários para atuar na cozinha beneficente e doações de alimentos por parte de empresas
Site: www.leopaixao.com/compaixao
ChildFund Brasil
Doação para campanha de segurança alimentar
Site:
Doe Cestas
Doação para compra de cestas básicas
Instagram: @camilachiari8
Hub Social
Doação em dinheiro ou em cestas básicas
Instagram: @ohubsocial
Instituto Adotar - Adotando Vidas
Doação para compra de cestas básicas
Instagram: @institutoadotar
Site: www.adotaradotandovidas.com.br
Madrugada Sem Fome
Doações em dinheiro e itens (alimentícios, de higiene, fraldas e outros) para moradores de rua e famílias vulneráveis da Grande BH
Instagram: @madrugadasemfome ou @romeirik
Panela Cheia Salva
Doação para compra de cestas básicas
Instagram: @panelacheiasalva
Unindo Forças BH
Doação para compra de cestas básicas
Instagram: @unindoforcasbh
Unidos Pela Vacina
Empresas, instituições, ONGs podem auxiliar na solução dos gargalos da vacinação em cidades mineiras
Instagram: @unidospelavacina
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Alimentando Compaixão
Voluntários para atuar na cozinha beneficente e doações de alimentos por parte de empresas
Site: www.leopaixao.com/compaixao
ChildFund Brasil
Doação para campanha de segurança alimentar
Site:
www.materiais.childfundbrasil.org.br/campanha-seguranca-alimentar
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Instituto Adotar - Adotando Vidas
Doação para compra de cestas básicas
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Madrugada Sem Fome
Doações em dinheiro e itens (alimentícios, de higiene, fraldas e outros) para moradores de rua e famílias vulneráveis da Grande BH
Instagram: @madrugadasemfome ou @romeirik
Panela Cheia Salva
Doação para compra de cestas básicas
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Unindo Forças BH
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Instagram: @unindoforcasbh
Unidos Pela Vacina
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Instagram: @unidospelavacina