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A pedagoga Flávia de Paula e Silva decidiu passar uma temporada com a família na casa do seu pai, em Lagoa Santa. Lá, as filhas Eduarda, de 10 anos, e Valentina, de 12, respiram ar puro e se divertem com a bicharada: "Temos cachorro, gato, coelho, periquito, galinhas. Nos tornamos uma grande família" - Foto: Paulo Márcio/Encontro Em algumas de suas obras, a escritora Clarice Lispector revelou os seus sentimentos com relação aos animais. "Quando acaricio a cabeça do meu cão sei que ele não exige que eu faça sentido ou me explique", escreveu certa vez. A gratuitidade do afeto dos bichos faz tão bem que ganhou viés terapêutico, especialmente na pandemia. Um bem que contagia crianças e adultos. "Alguns pacientes têm feito escalas das atividades diárias, o que inclui o horário de dar atenção aos pets", diz a psicóloga Simone Lacerda, especialista em Terapia Familiar Sistêmica e atendimento infanto-juvenil. Uma conexão que, segundo alguns estudos científicos, potencializa comportamentos essenciais para a saúde e o bem-estar de humanos e animais, ampliando as interações emocionais, físicas e psicológicas.
A estudante Letícia Costa Mundim Veloso, de 10 anos, não se cansa dos seus tutelados, as calopsitas Snow e Sunny, e a cadelinha Dorothy, da raça whippet: "Pesquiso vídeos, estudo o comportamento dos bichinhos e me dedico aos cuidados diários" - Foto: Pádua de Carvalho/EncontroA administradora Marcelle Brum incluiu na reforma do novo apartamento um projeto para Nico, gatinho sem raça definida, de 2 anos de idade. Adotado aos 30 dias, ganhou passarela na sala de estar para percorrer e em breve terá um quarto "gatificado" com prateleiras e brinquedos. "Apesar do seu temperamento mais arredio, é o xodó da família", diz. Para a filha Maria Luiza, de 8 anos, tornou-se o irmão de quatro patas e um parceiro em tempos de isolamento social. Mas é preciso atenção. A psicóloga Simone Lacerda orienta que ter um animal de estimação requer comprometimento. "Tem crianças que desenham a família incluindo os bichinhos. Eles se tornam parte afetiva do grupo." Ela lembra que a decisão de tê-los em casa deve ser planejada, avaliando prós e contras. "Tenho observado que aqueles que têm maturidade para construir essa relação conquistam muitos ganhos", diz. "Já os que agem por impulso, atendendo unicamente aos desejos dos filhos, acabam tendo algum tipo de problema."
Mesmo aqueles que permaneceram em apartamentos descobriram que o sentimento legítimo pelos pets ajuda a combater a sensação de angústia e solidão. O psicólogo Diego Prais se rendeu ao amor que o filho Arthur, de 10 anos, tem pelos animais. "O interessante é que sempre fui resistente a ter pets em casa e hoje sou apaixonado por eles", diz. Primeiro chegou o peixinho betta, chamado Foguinho, e há quatro meses o hamster Max. "A casa se encheu de alegria. Muitas risadas, brincadeiras. Até o peixe interage com a gente". Diego se diz surpreso com os animais: "Aprendemos com eles todos os dias".
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