Revista Encontro

ESPECIAL

Mineiros do Ano 2021 | Carol Gattaz

Atleta de vôlei do Minas há sete anos, a central foi convocada pela primeira vez para os Jogos Olímpicos aos 40, ganhou a prata e foi a única representante do país eleita para a seleção das melhores atletas da modalidade em Tóquio

Marina Dias
A central Carol Gattaz, atleta brasileira mais velha a subir ao pódio de uma edição de Jogos Olímpicos em qualquer modalidade entre as mulheres: "A idade só fez bem para mim: melhorei fisicamente, ganhei experiência, calma, visão de jogo" - Foto: Pádua de Carvalho/Encontro
Perfil:

  • Caroline de Oliveira Saad Gattaz, 40 anos
  • São José do Rio Preto (SP)
  • Solteira, sem filhos
  • Desde 2003 na seleção brasileira, é duas vezes vice-campeã mundial, cinco vezes campeã do Grand Prix, duas vezes campeã da Copa dos Campeões. Com o Minas, clube do qual é capitã, é cinco vezes campeã da Superliga e três vezes campeã sul-americana de clubes. Medalhista de prata nos Jogos Olímpicos de Tóquio

"Sonhos não envelhecem." Foi com essa frase que a paulista de São José do Rio Preto Carol Gattaz comemorou nas redes sociais sua chegada a Tóquio, no Japão, para os Jogos Olímpicos, em julho de 2021. Usada em outro contexto, a frase poderia parecer algo piegas, um excesso de otimismo. Mas no caso da central de 1,92 metro, explica exatamente sua jornada até ali. Às vésperas de completar 40 anos, a jogadora do Minas Tênis Clube há oito temporadas realizou seu maior sonho: ser convocada para a seleção que disputaria as Olimpíadas. Se no mundo real, 40 anos é longe de ser idade avançada, no mundo dos esportes, atletas da maioria das modalidades já passaram de seu auge nessa época. Nas Olimpíadas, então, onde a média de idade de medalhistas brasileiros é pouco menos de 26 anos e competem pessoas tão novas quanto a nossa Fadinha (a skatista Rayssa Leal, que aos 13 levou a prata na categoria street), jogar pela primeira vez aos 40 é de fato pouco comum.

Em sua carreira, Carol já tinha passado por outros momentos em que ser convocada para os Jogos era uma chance real.
"Em 2004, eu fui cortada, mas sabia que era nova, que minhas chances eram menores", conta. Já em 2008, em Pequim, a possibilidade era muito grande. "Eu tinha feito o ciclo olímpico inteiro, jogado a maioria dos campeonatos. Não ter sido convocada foi realmente doloroso." Ela também não atuou nos Jogos de 2012 ou 2016, mas seguiu sua paixão pelo vôlei, continuou jogando de forma disciplinada e determinada - mas com a leveza e bom humor pelos quais é conhecida - e, ao contrário do caminho mais comum, não caiu de rendimento com o passar dos anos. Ajudou os clubes pelos quais atuou a chegar a diversos pódios nesse período. "A idade só fez bem para mim: melhorei fisicamente, ganhei experiência, calma, visão de jogo", diz. Segundo Gattaz, ela tinha medo de que outras pessoas não acreditassem que ela ainda pudesse jogar em alto nível nessa idade, mas ela mesma sempre acreditou. "Eu tinha certeza de que iria desempenhar bem  meu papel."

Dito e feito. Apesar de não terem chegado à mais alta posição do pódio - a seleção feminina levou a prata, perdendo para os Estados Unidos na final -, Carol voltou para a casa (BH, onde mora e atua) com medalha olímpica e o título de atleta brasileira mais velha a subir ao pódio de uma edição de Jogos Olímpicos em qualquer modalidade entre as mulheres. Ela, aliás, fez 40 em Tóquio, com direito a festinha surpresa organizada pelas colegas. Além disso, foi eleita para a seleção olímpica de vôlei, composta quase apenas por jogadoras do time norte-americano (só Gattaz e a oposta sérvia Tijana Boskovic não eram da equipe que levou o ouro). "Além de ter chegado na final, estar na seleção olímpica foi outro presente de Deus. Só não ficou 100% perfeito, porque não foi ouro."

A mineira de coração, como ela mesma se intitula, está no meio da temporada pelo Minas e longe de pensar em se aposentar.
"É motivo de muito orgulho eu ainda jogar em alto nível", afirma. "Quando fiquei sabendo da convocação para as Olimpíadas, mais do que nunca entendi que sonhos não envelhecem. Nós é que colocamos prazos e barreiras."
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