A observação vai ao encontro da mudança de expectativa de vida da população brasileira. No início do século XX, segundo o IBGE, a média era 33,7 anos. Em 2020, saltou para 76,8 anos, o que corrobora a afirmação dos especialistas de que a idade cronológica não é um bom parâmetro para se definir o idoso. Para o médico Marco Antônio Marques Félix, geriatra da American Heart Association, é preciso entender que o envelhecimento é uma consequência de como se administra a própria vida no presente e das expectativas que se tem para o futuro. "Não importa a quantidade de anos que o indivíduo tem, mas sim o que ele fez nos anos vividos", afirma ele. O administrador de empresas aposentado José Orlando Júnior, de 64 anos, colhe hoje o resultado dos cuidados que adotou desde sempre. Para ele, a juventude começa por se manter uma mentalidade jovem. "Vemos com frequência pessoas bem mais novas com atitudes e comportamentos esperados dos mais velhos, como sedentarismo, isolamento e desatualização tecnológica." Além dos serviços de marcenaria que realiza como hobby, pratica pilates e mountain bike. Imagine, então, qual não foi a sua surpresa ao receber a notícia de que a partir de janeiro deste ano a nova Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID 11), da Organização Mundial da Saúde (OMS), teria a velhice como sinônimo de doença. A polêmica gerou indignação mundial e resultou na campanha "Velhice Não é Doença", que fez com que a OMS revisse sua decisão, não mais associando "velhice" à causa de morte de pessoas com idade a partir dos 60 anos.
Coordenadora da geriatria do Instituto Orizonti, a médica Juliana Elias Duarte explica que o processo de envelhecimento natural, fisiológico, e que não costuma trazer limitações é chamado de "senescência". Já o envelhecimento que vem acompanhado de adoecimento e que, por último, tira a capacidade de se viver com autonomia e independência é denominado "senilidade’’. "A longevidade é uma construção feita ao longo da vida e quanto mais jovem o indivíduo adotar hábitos saudáveis, melhor." Para se envelhecer bem, diz ela, também é preciso controlar doenças já existentes. O elixir da longa vida não é segredo para ninguém: alimentação saudável, boas noites de sono, praticar atividade física, ter bom convívio social, evitar álcool e cigarro, entre outras drogas, além de cuidar da mente. O geriatra Marco Antonio reforça: "Somos o que comemos, pensamos e fazemos com o nosso corpo. A genética carrega a arma, o estilo de vida aperta o gatilho".
Especializado em treinamento para idosos, o personal trainer Níkolas Chaves Nascimento lembra a importância do fortalecimento muscular em qualquer idade. Segundo a OMS, entre 2000 e 2019 as quedas causaram a morte de 18,8 mil pessoas no Brasil, sendo 15,1 mil vítimas com mais de 60 anos. "O treinamento funcional melhora a coordenação motora, o equilíbrio e a orientação, além de dar mais flexibilidade e velocidade à marcha, diminuindo a incidência de quedas", afirma. Foi nos cuidados com os avós que ele decidiu se especializar na área. Aos 102 anos, sua avó Zilda Franco Chaves é ovolactovegetariana, faz caminhadas diárias, pratica exercícios físicos três vezes por semana ao seu lado, devora clássicos da literatura e tem até Instagram. Ao longo de sua vida, foi professora de ioga, acompanhou o marido em sua carreira de magistrado e criou cinco filhos. "Enxergo a vida com muita gratidão e busco sempre o caminho para o crescimento espiritual", diz ela.
O que é envelhecer
Para os especialistas, a velhice não pode ser definida pela simples cronologia. Saiba quais são os tipos de envelhecimento:
- Biológico: conjunto de mudanças físicas e orgânicas que resultam na redução da capacidade fisiológica do organismo
- Cronológico: identifica apenas o passar do tempo, determinando a idade que cada indivíduo tem
- Social: alterações nos papéis sociais que podem levar o idoso a se sentir excluído da sociedade, deixando de interagir com o outro e com o mundo
- Psicológico: alterações cognitivas (atenção, percepção, memória, raciocínio, juízo, imaginação, pensamento e linguagem), intelectuais, comportamentais e emocionais