O primeiro é o Mercedes-Maybach S680, "bicolor", desenvolvido por Virgil Abloh, o já falecido chefe de moda masculina da Louis Vuitton, que deverá ser lançado comercialmente no final deste ano, com edição limitada a 150 unidades. O segundo projeto, também assinado por Abloh, em parceria com Gorden Wagener, chefe de design do grupo Mercedes, é o veículo conceito off-road elétrico, que até agora é conhecido como Projeto Maybach.
Enquanto isso, o conceito "Haute Voiture" (alto veículo) da Mercedes-Maybach, revelado em 18 de maio, promete painéis de porta bouclé que lembram ternos Chanel e lançamento em 2023. Há também planos para os veículos mais caros, de maior margem de lucro. A Maybach passou a ser comandada recentemente por um novo e jovem diretor executivo, cuja missão é o ressurgimento e rejuvenescimento da divisão, como revelou o CEO da Mercedes Benz, Ola Kallenius, em recente entrevista em Mônaco.
Em 1997, após décadas de estagnação, a Mercedes apresentou um conceito Maybach no salão do automóvel de Tóquio, anunciando que iria produzir dois sedãs da marca nos cinco anos seguintes. O Maybach 52 e o Maybach 62 chegaram em 2002, mas foram malsucedidos. A marca admitiu que o prejuízo para cada carro vendido foi de 439 mil dólares. Em 2011, a Daimler anunciou que faria uma queima de estoque dos modelos restantes, após o que os sedãs bicolores entraram em uma longa hibernação.
O último ato aconteceu quando a Mercedes reviveu o emblema Maybach no salão do automóvel de Los Angeles de 2014, com a nova logomarca Mercedes-Maybach, que era essencialmente uma versão reestilizada do Mercedes S600. Os novos veículos Mercedes-Maybach foram projetados para serem conduzidos por choferes profissionais e tinham um nível de conforto tão grande e sofisticado que pareciam mais a cabine de um jato particular do que de um carro. Assentos totalmente reclináveis, refrigeradores de bebidas, mesas de trabalho retráteis e fones de ouvido de última geração eram os itens básicos. O enfoque no luxo extremo deu certo e as vendas vêm crescendo desde então. No ano passado, a Mercedes-Maybach vendeu 15.730 unidades em todo o mundo, um aumento de 50% em relação a 2020. Essas vendas foram impulsionadas principalmente pelo mercado chinês, que compra mais de 900 unidades por mês da marca Maybach.
"A marca está indo muito bem", disse Daniel Lescow, o novo chefe da Maybach, durante um jantar em Mônaco, em maio último. "Há muito potencial e o interessante é que o investimento em mídia foi zero", disse. A estratégia da Maybach para seus próximos projetos é uma tática de choque. A ideia é "encantar" as classes mais endinheiradas da sociedade mesmo não sendo a marca um nome com grande pedigree. Em primeiro lugar serão produtos fora do alcance de maioria dos mortais. "O propósito da Maybach não é produzir novos modelos todos os anos", diz Kallenius. "É preciso mantê-lo especial. Menor volume, clientes exigentes." Serão carros que chocam pelo estilo, sofisticação e conforto.
A denominação Haute Voiture (alto veículo) do próximo Maybach foi escolhida inspirada no termo francês "haute couture" (alta costura), sinônimo do que há de melhor, mais bonito e mais caro no mundo da moda. O interior é totalmente branco com revestimento em couro falso e detalhes encravados em dourado combinando com flautas (taças) de champanhe lembrando chuvas douradas em festas de casamento. Isso é parte do choque com que a Maybach pretende conquistar seus clientes. "Algumas pessoas podem dizer que é terrível, mas, como uma marca de luxo, é exatamente isso que devemos fazer - chocar", diz Steffen Köhl, diretor de design exterior durante uma entrevista no estúdio de design da Mercedes em Nice, França. "A disruptividade e a contradição são uma fonte de criatividade."
Os projetistas acreditam que esses exageros em estilo irão atrair compradores chineses, que tradicionalmente pagam mais por extravagâncias e são mais jovens e muito mais ricos do que os consumidores dos veículos Mercedes-Benz. A idade média de um comprador do Maybach na China é na faixa dos 40 anos e de uma forma geral inferior aos 50 anos. "O mercado chinês é um mercado mais jovem, que não demonstra o menor constrangimento em expor sinais de riqueza, e o Maybach certamente faz isso", diz Stephenson.
É uma atitude que está se espalhando, se você perguntar ao pessoal da Mercedes. O poder de surpreender é a melhor forma de a Maybach chamar a atenção dos compradores de carros - independentemente do mercado - dizem eles. "A China é o maior mercado de automóveis do mundo. E também é o maior mercado de carros de luxo do mundo. E, naturalmente, é o maior mercado Maybach do mundo", diz Kallenius. "Mas os Estados Unidos são muito importantes. A Europa Ocidental é importante. A Coreia é importante. O Japão é importante. O Oriente Médio é, naturalmente, importante. E há outros mercados ao redor do mundo que anseiam pelo mesmo tipo de veículo."
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