A paixão por cavalos surgiu por acaso na vida da jornalista Patrícia Albuquerque e de sua filha, Izabela, de 12 anos, trazendo um despertar de consciência para toda a família: "É uma relação de amizade e confiança", diz a mãe, ao lado do mestiço My Little Poney, 14 anos, e Graal Boreal, 14 anos, da raça Brasileiro de Hipismo - Foto: Paulo Márcio/EncontroA paixão por cavalos surgiu por acaso na vida da jornalista Patrícia Albuquerque e de sua filha, Izabela, de 12 anos. "Tudo começou há quatros anos, em um passeio em uma fazenda de amigos. Izabela queria fazer uma atividade com a amiguinha e ela propôs equitação", lembra Patrícia. Os treinos que a princípio eram feitos apenas uma vez por semana, passaram a ser realizados duas vezes e se intensificaram ainda mais na pandemia. "Foi nesse período que compramos um cavalo para ela, o My Little Poney, mestiço de 14 anos. Cuidamos dele, recuperamos sua confiança nas pessoas e virou o nosso Xodó". Depois chegou o Graal Boreal, também com 14 anos, da raça Brasileiro de Hipismo. Atualmente, Izabela treina e compete com seus dois tutelados, com obstáculos na altura de 90 centímetros e 1 metro.
Uma aproximação que trouxe um novo despertar de consciência para toda a família. "Não vamos para a hípica só para montar. Vamos para estar com os cavalos, limpar as baias, os cascos, deixá-los livres no pasto. É uma verdadeira terapia", diz a mãe.
A relação entre o homem e o cavalo tem raízes profundas na história mundial e é marcada pelo misticismo e por grandes conquistas. Na mitologia grega, a figura do centauro - metade humano e metade cavalo - representa o instinto animal associado à inteligência humana, fazendo menção à bravura, força e intempestividade de ambos, e ao fascínio que esses animais exercem sobre os seres humanos. De volta à realidade, estudos apontam que os cavalos existem há cerca de 55 milhões de anos e o seu encontro com o homem revolucionou a agricultura, o transporte, o esporte e, até mesmo, as fatídicas guerras. Uma parceria que nem sempre foi boa para ambas as partes. Com a evolução e a descoberta dos benefícios que podem ser gerados através do uso de animais, os cavalos passaram a ser cada dia mais explorados. Ao mesmo tempo em que também passaram a ser utilizados como canal de cura e tratamento em abordagens interdisciplinares nas áreas de saúde, educação e equitação.
Nina Henrique Manata, de 11 anos, começou no hipismo aos 8 e ao lado do cavalo Del Rey, da raça Brasileiro de Hipismo, participa de várias competições, entre elas o Campeonato Mineiro de Hipismo 2022: "Ficamos em primeiro lugar na categoria de 80 centímetros" - Foto: Paulo Márcio/EncontroGradativamente, a interação com o cavalo, desde a escovar, encilhar, além do ato de montar, despertou novas formas de socialização, fortalecendo o vínculo de troca, respeito e carinho entre bicho e gente. "Em cima do cavalo, nos tornamos um só", diz a facilitadora de cavalos Luciana Rocha, que se dedica ao treinamento de animais em liberdade, sem uso de técnicas que gerem medo ou sofrimento. Essa ligação com os animais trouxe à tona a certeza de que eles são seres sencientes, ou seja, com capacidade de experimentar sentimentos bons e ruins. Na sociedade pós-guerra, foram estabelecidas as "Cinco Liberdades" tidas como fundamentais para garantir o bem-estar dos animais de produção: liberdade de fome e sede, liberdade de medo e ansiedade, liberdade de desconforto, liberdade de ferimentos, dor e doenças e liberdade para expressar o seu comportamento natural.
A estudante Maria Paz Ferreira Souza, de 9 anos, pratica hipismo há quase dois: "Gosto muito do Athos, meu cavalo. A última coisa que vou fazer na vida é parar de montar", garante, ao lado da mãe, a nutricionista Diana Paz, com o cavalo Sereno - Foto: Paulo Márcio/EncontroA especialista, no entanto, vai além: "É preciso respeitar a natureza desses animais, valorizando as suas habilidades e características individuais", diz Luciana. Só assim, assegura ela, é possível estabelecer um vínculo de confiança e uma boa comunicação.
"O que aproxima o cavalo da gente é a liberdade. Eles precisam de tempo livre para se exercitar e liberar energia. Correr, se espojar para alongar e coçar as costas, aumentando o seu bem-estar". O interesse de Nina Henriques Manata, de 11 anos, por cavalos, teve início quando ainda tinha 2 anos de idade, nas visitas feitas à fazenda da família. Aos 8 anos, ingressou no hipismo e a sua conexão com os cavalos se tornou ainda maior. "Ele me transmite segurança, alegria, me traz conforto. É o meu melhor amigo", diz. Ao lado de Del Rey Itapuã, 18 anos, da raça Brasileiro de Hipismo, participou de várias competições, entre elas o Campeonato Mineiro de Hipismo 2022. "Ficamos em primeiro lugar na categoria de 80 centímeros", diz orgulhosa.
A facilitadora Luciana Rocha se dedica ao treinamento de animais em liberdade: "É preciso respeitar a natureza desses animais, valorizando as suas habilidades e características individuais" - Foto: DivulgaçãoEm se tratando de cavalos de competição, a cultura de que quanto mais horas de treinos tiverem, mais performance terão, é questionada. "Quanto mais cansado o cavalo está, menos ele aprende.
Fora os problemas físicos e psicológicos que a rotina de somente ir da baia para os treinos e vice-versa, acarreta", diz a treinadora Luciana. Com uma média de vida de 28 anos de idade, os cavalos são considerados idosos a partir dos 20 anos, e chegam a pesar 500 quilos, o que varia de acordo com a raça do animal e com os cuidados que recebe ao longo de sua vida. O tempo de gestação de um equino é de 320 a 360 dias. Para se manter saudáveis, precisam consumir aproximadamente 2,5% do seu peso vivo em matéria seca, com porções adequadas de sal mineral, volumoso (capim, gramíneas e leguminosas) e ração específica ou concentrado (para animais de alto rendimento). Água limpa e fresca deve estar sempre disponível. "É importante destacar que a quantidade de concentrado não deve ultrapassar 1 quilo para cada 100 quilos de peso", explica a veterinária Camilla Reinhardt Cintra, especialista em clínica médica equina.
A veterinária Camilla Reinhardt Cintra é especialista em clínica médica equina: "O ideal é que os cavalos fiquem soltos em pastos por no mínimo seis horas por dia para se desestressar" - Foto: DivulgaçãoA nutricionista Diana Paz conta que sempre gostou de cavalos. "Comecei a montar aos 7 anos, depois sofri um acidente e não pude continuar. Mas o amor por esses animais nunca acabou." Mãe de três filhas, diz que se surpreendeu com a paixão delas pelos equinos, mesmo antes de saberem de sua história. "Voltei a montar por elas", confessa. Seguindo os passos da mãe, a pequena Maria Paz Ferreira Souza, de 9 anos, pratica hipismo há quase dois, e faz questão de enfatizar que sempre "adorou" cavalos. Com Athos, mestiço de 13 anos, participa de competições na categoria de 60 centímetros e em treinos, na categoria de 90 centímetros. "Gosto muito do meu cavalo. A última coisa que vou fazer na vida é parar de montar", garante a menina.
A rotina diária de atividade física varia de acordo com o animal e o seu nível de treinamento, não devendo ultrapassar uma hora e meia por dia para não causar lesões nos ligamentos, tendões e coluna. "O ideal é que eles fiquem soltos em pastos por no mínimo seis horas para se desestressar", diz a veterinária Camilla. Ela também orienta que os cavalos devem ser vacinados com antirábica e vacina contra encefalites virais, influenza e tétano (associadas em dose única repetida anualmente). Para a especialista, são três os pilares a serem considerados para garantir o bem-estar dos equinos: forragem, liberdade e companhia. A somatória dos fatores nutrição, ambiente e comportamento refletem diretamente em sua qualidade de vida, assim como a relação de afeto com os donos.
.