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Casais têm optado por fazer o grande dia no museu

Locais icônicos e históricos capital mineira e região metropolitana têm abrigado cerimônias de casamento que fogem do óbvio

Patrícia Cassesse
Fabrícia e Rafael no Museu de Artes e Ofícios: "Os museus têm um pouco de todos nós e de nossas raízes, de nossos sonhos, lugares perfeitos para marcar no tempo as histórias de amor também" - Foto: Fernando Costa/divulgação
Foi com um trecho do poema “Os Parceiros”, de Mário Quintana (1906-1994), que a cerimônia de casamento da advogada Thais Aleixo de Melo, 32 anos, e do diretor de marketing Alessandro Stroscio, de 49, teve início, no dia 12 de abril. Quintana, ressalte-se, não foi o único poeta citado pelo cerimonialista, que também incluiu versos de Carlos Drummond de Andrade (1902 -1987) na condução do enlace que teve um cenário muito particular: o Museu das Minas e do Metal - MM Gerdau, integrante do Circuito Liberdade.
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Datada de 1897, a edificação histórica, também conhecida como “Prédio Rosa”, localiza-se na Praça da Liberdade e, no passado, foi sede da Secretaria Estadual de Educação. Em 2010, passou a ser um espaço museal, abrigando um rico acervo sobre mineração e metalurgia, com concepção museográfica de Marcello Dantas e projeto arquitetônico do mundialmente reconhecido Paulo Mendes da Rocha (1928 - 2021) e de seu filho, Pedro Mendes da Rocha. Naturalmente, as características originais do edifício, que é tombado, foram preservadas. E foi justamente no alto da imponente escadaria alemã que Thais surgiu aos olhos dos convidados para o início da cerimônia.
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O casal é um entre os vários que têm optado por realizar o enlace em locais icônicos da capital mineira e região metropolitana, como museus e outros pontos históricos. Além do MM Gerdau, atualmente é possível realizar casamentos no Museu de Artes e Ofícios (MAO), no Parque do Palácio (Palácio das Mangabeiras) e no Instituto Inhotim. Já o Museu Histórico Abílio Barreto (MHAB) não sedia cerimônias, mas é muito procurado para registros audiovisuais de casais na área externa.
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Evidentemente, além de proporcionar imagens memoráveis, por todas as suas particularidades, realizar eventos nos lugares apontados nesta reportagem requer uma atenção especial: regras que precisam ser cumpridas com rigor tanto em relação aos equipamentos históricos e artísticos como em relação à vizinhança e ao público frequentador. “No Parque do Palácio, por exemplo, por se tratar de uma edificação tombada (integra o conjunto paisagístico da Serra do Curral), há restrições, como bater pregos ou fixar coisas na parede ou no chão. E, pelo fato de se situar em área residencial, não pode ter barulho após às 22h”, afirma a diretora de comunicação do espaço, Luiza Jordá.
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No Parque do Palácio, edificação da década de 1950 que servia de residência aos governadores mineiros, o conjunto paisagístico de Burle Marx é %u201Cemoldurado%u201D pela Serra do Curral: %u201CJá fiquei com olhos marejados na primeira visita%u201D, conta Victoria Cabral, em momento de seu casamento com o advogado Gil Carvalho Neto - Foto: Fernando Lutterbach/DivulgaçãoLocalizado no Palácio das Mangabeiras, o conjunto arquitetônico, construído entre 1951 e 1955 para ser a residência oficial dos governadores de Minas Gerais, foi o lugar escolhido pela empresária Victoria Cabral e o advogado Gil Carvalho Neto celebrarem, há quase um ano, sua união. Com projeto atribuído a Oscar Niemeyer e paisagismo de Roberto Burle Marx (ainda não de todo implementado), o parque tem sediado vários eventos, como edições da CasaCor Minas. “Visitamos o local em julho de 2023 e, ali, já fiquei com olhos marejados”, conta Victoria. Cooptada também pelo céu azul do outono, ela não demorou a  perceber que a integração entre a área interna e a externa (com a Serra do Curral ao fundo) seria o cenário perfeito para balizar a união. “Não foi necessário nem ter um plano B”, confidencia.
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Se Victoria e Gil queriam um lugar aberto para a realização da cerimônia, Thais Aleixo de Melo tinha uma razão bem especial para o seu coração pender para o MM Gerdau como palco do seu grande dia. “Queríamos um local que ajudasse a contar a nossa história e que tivesse sentido para nós. O MM se encaixou perfeitamente, por diversas razões”, conta. A começar, pelo fato de ela, como advogada, atuar justamente na área de mineração. Já o noivo, o norte-americano Alessandro, queria um lugar simbólico da cultura do Estado, que confessa ter passado a amar.
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 “Chegamos a olhar salões de festa tradicionais, mas, ao fim, decidimos por um lugar que combina mais com a nossa trajetória, apesar dos custos e detalhes maiores”, diz Thais. O enlace do casal contou com 65 convidados, que vieram de quatro países (e de três continentes diferentes), e foi realizado na Praça de Convivência, um salão de 230 m², com teto de 15 m de altura e claraboia.
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 A experiência parece ter valido a pena. “O público saiu encantado”, conta Márcia Guimarães, diretora do museu. Ela destaca que o equipamento disponibiliza suas instalações para casamentos desde a abertura, em 2010. “No entanto, já há algum tempo não sediamos uma cerimônia no Prédio Rosa, e a retomada foi marcada pelo casamento de Thais e Alessandro.” 

Fugir do convencional e buscar espaços que tenham um sentido mais profundo é também, segundo Bruna Campos, coordenadora de produção de programação artística e eventos corporativos do Inhotim, o que leva casais a escolherem o local. “Seja por uma obra de arte, uma galeria específica, paisagismo dos jardins ou pela experiência sensorial proporcionada pelo espaço… A singularidade do ambiente faz com que o Inhotim seja uma escolha marcante, simbólica. Inclusive, já recebemos manifestações de interessados até de outros países.”
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Vale dizer que o instituto autoriza um número restrito de casamentos por ano. “Em 2025, observamos um crescimento significativo na demanda por eventos em geral com a inauguração do Clara Arte (hotel de alto padrão situado ao lado do instituto de arte contemporânea)”, diz Bruna. 
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Também no museu de arte contemporânea, os eventos devem seguir rigorosamente as normas firmadas em contrato, bem como apresentar documentos obrigatórios, como ARTs, seguros, licenças e comprovantes de pagamento de direitos autorais (ECAD). É vetado, por exemplo, o uso de materiais que gerem calor (como velas e carvão), efeitos pirotécnicos (fogos de artifício, tochas, papel picado ou chuva de serpentina) e máquinas de fumaça. Também não é permitido retirar quaisquer elementos naturais dos jardins.
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A própria riqueza arquitetônica dos espaços é um chamariz e atua como uma espécie de ornamentação para a festa. É o caso do Museu de Artes e Ofícios. Localizado no coração da capital, a praça Praça Rui Barbosa (Praça da Estação), funciona em um prédio icônico da cidade, inaugurado nas primeiras décadas do século XX com a finalidade de ser as Estações Ferroviárias de Belo Horizonte. Com uma arquitetura de influência italiana e elementos neoclássicos, o museu é, por si só, um cenário que impressiona. 
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Lá, todas as solicitações passam por uma análise criteriosa, em função das normas de segurança e limitações de um bem tombado. Dependendo do setor escolhido, é preciso também conciliar com exposições temporárias em curso (atualmente, o MAO abriga Faina, com obras de Dalber de Brito e Julia Gallo). “Existe um setor que atua para conciliar a agenda com outras ocupações culturais. Por outro lado, eventos voltados a um menor número de pessoas, como lançamentos de livros, podem ser acolhidos simultaneamente a outros”, explica Mariana Theodorica, supervisora do espaço, inaugurado em 2005 e, desde 2016, gerido pelo Serviço Social da Indústria – Sesi, entidade da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg).
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Thais e Alessandro na escadaria do Prédio Rosa, icônica sede do Museu das Minas e do Metal - MM Gerdau, na Praça da Liberdade: %u201CQueríamos um local que ajudasse a contar a nossa história e que tivesse sentido para nós%u201D - Foto: Flávio Malta Almeida/@studioquadros/Divulgação A analista administrativa Fabrícia de Oliveira Silva e o consultor Rafael Pereira Santos tiveram um motivo bem especial para escolher o MAO como cenário do casamento. “Nós dois somos historiadores de formação, então, o ambiente dos museus já nos seduzia antes mesmo de nos conhecermos. Além disso, nos conhecemos quando trabalhávamos como estagiários no Museu de Artes e Ofícios. Ele, desde sempre, fez parte da nossa história pessoal e profissional. É um museu que foi implantado em uma belíssima estação de trem, símbolo das idas e vindas, de chegadas e partidas de muitas histórias. Seu acervo é incrível, apresenta, de forma crítica e ao mesmo tempo valorosa, a história do trabalho no país. Assim, nos sentimos pertencentes a esse lugar e por isso foi escolhido”, diz ela.
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“Os museus têm um pouco de todos nós e de nossas raízes, de nossos sonhos, lugares perfeitos para marcar no tempo as histórias de amor também”, complementa Fabrícia. A química Valdilene Rhodes concorda, embora tenha se valido da área externa do Museu Histórico Abílio Barreto (MHAB) apenas como pano de fundo para as fotos do álbum que registra o casamento com o empresário Rodrigo Duelis. “Não sou de BH e, por isso, não conhecia o museu. Quando fui pesquisar, fiquei impressionada com a história do casarão (sede da antiga Fazenda do Leitão, construído em 1883), bem como com a sua conservação. Do mesmo modo, com a locomotiva e o bonde. Fiquei surpresa e encantada”, diz ela, que também elogiou o processo para liberação do espaço junto à administração. “Foi tudo muito simples”, constata.
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Instituto Inhotim
Onde: Rua B, Povoado Inhotim (Conceição do Itaguá), 20, Brumadinho
Capacidade: Espaço Igrejinha (que comporta até 60 pessoas na área interna e até 250 na externa) e o Restaurante Oiticica (até 350 pessoas). 
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O custo varia conforme o espaço e horário escolhidos, com valores a partir de R$ 40 mil. 
Regras: Os eventos realizados no Inhotim devem seguir rigorosamente as normas firmadas em contrato, bem como apresentar documentos obrigatórios, como ARTs, seguros, licenças e comprovantes de pagamento de direitos autorais (ECAD). É vetado o uso de materiais que gerem calor (como velas e carvão), efeitos pirotécnicos (fogos de artifício, tochas, papel picado ou chuva de serpentina) e  máquinas de fumaça. Também não é permitido perfurar, riscar ou danificar pisos, paredes e tetos, nem retirar quaisquer elementos naturais dos jardins.
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MM Gerdau
Onde: Prédio Rosa - Praça da Liberdade, 680, Funcionários, Belo Horizonte
Casamentos marcados apenas aos sábados. 
Em função da segurança e do acervo, local comporta até 100 convidados
O custo é de cerca de R$ 60 mil e abarca, além do salão, o uso do hall, da escada antiga e do Espaço do Aço, assim como os contratos terceirizados das equipes de atendimento, selecionadas pelo conhecimento das especificidades patrimoniais do Prédio Rosa. 
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Regras: Não é permitido o uso de gás e de chamas abertas (como velas), bem como a realização de frituras no local por parte dos bufês. Além disso, o layout, com projeto de decoração e mobiliário deve ser previamente apresentado e aprovado, garantindo que nenhuma estrutura ou instalação comprometa a integridade do espaço ou as normas de segurança.
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Museu de Artes e Ofícios (MAO)
Onde: Praça Rui Barbosa, 600 - Centro, Belo Horizonte
Capacidade: Possui três galerias no segundo piso (aptas a receber até 68 pessoas), o hall (para até 150 pessoas) e o Jardim das Energias, um espaço aberto (170 pessoas)
Valor: O preço para a realização de um casamento no MAO tem como base o valor de R$ 15 mil (com utilização da estrutura de cozinha e estacionamento) e tempo de duração de 10 horas (incluindo montagem e desmontagem). A partir deste tempo, para cada hora extra é cobrado o valor de R$ 270 por até duas horas. Após, R$ 1.080 por hora. Para o uso do espaço para fotografias/vídeo pré-wedding, cobra-se a taxa de R$ 550 por duas horas.

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