Trintaeum valoriza as raízes mineiras de forma contemporânea - Foto: Jomar Bragança/DivulgaçãoO chef Anthony Bourdain costumava dizer que comida, cultura, pessoas e paisagem são absolutamente inseparáveis. Essa afirmação traduz bem o universo de restaurantes, que cada dia mais não investem somente em um cardápio surpreendente, com ingredientes e um serviço qualificado, mas em um ambiente capaz de elevar a experiência gastronômica. Não basta saborear, é necessário também usar os outros sentidos, como o tato, a visão, e assim ser transportado para memórias afetivas, que tornarão a sua visita à casa inesquecível.
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Ofli Guimarães, proprietário do restaurante Trintaeum, reconhece a importância da decoração na gastronomia. Tanto que ao procurar Beth Nejm para a criação do projeto de sua casa, pediu a ela que traduzisse esteticamente a proposta do cardápio, feito de ingredientes 100% mineiros. "Nosso briefing era claro: queríamos um espaço que traduzisse a mineiridade, mas de uma forma completamente nova e elegante. Gostaríamos de fugir do lugar-comum, das caricaturas e dos estereótipos que muitas vezes acompanham a representação da cultura mineira. Nosso desafio era grande: como reverenciar a riqueza de Minas Gerais e também como usar insumos 100% mineiros sem ser clichê?", questiona. A seguir, selecionamos cinco restaurantes que vão muito além do sabor, oferecendo aos seus clientes uma experiência que aguça todos os sentidos.
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Trintaeum
Capitaneado pela chef Ana Gabi Costa, este restaurante valoriza as raízes mineiras de forma contemporânea. E a proposta pode ser sentida também na decoração. Ao entrar no local, percebemos a mineiridade nossa de todo dia nos mínimos detalhes: pedras típicas do estado, como o quartzito alaranjado, além de outras matérias-primas, como a madeira e a cerâmica, fazem parte do ambiente. "Busquei representar o Brasil colonial de forma marcante, utilizando pedras típicas de Minas e acabamentos comumente usados em nossa cultura. Cada detalhe foi pensado para contar nossa história e proporcionar uma experiência sensorial única", afirma a arquiteta Beth Nejm. Nas paredes, o contraste de fotos de paisagens tradicionais mineiras e outras contemporâneas, como do Centro de Arte Contemporânea Inhotim, traduzem a convivência do moderno e do antigo, conceito presente em toda Minas Gerais. Objetos espalhados pelo espaço, como os tachos de cobre, a mala de um antigo caixeiro viajante e uma adega feita com trilhos de trem completam a cena. Outro elemento que chama atenção são os pendentes, feitos de palha de milho.
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A arquiteta Beth Nejm - Foto: Jomar Braganca/Divulgação
Romerito
Romerito resgata a memória dos tradicionais bares mineiros por meio do uso de uma cartela de cores ousada e elementos marcantes
- Foto: Jomar Braganca/DivulgaçãoO restaurante-bar resgata a memória dos tradicionais bares mineiros por meio do uso de uma cartela de cores ousada e outros elementos marcantes, como o ladrilho hidráulico geométrico do piso, que remete aos antigos estabelecimentos do estado. A marcenaria é outro ponto que fica em evidência, e está presente tanto no teto quanto nos painéis da parede. “A curadoria de materiais e acabamentos foi conduzida com atenção aos detalhes. A marcenaria é um dos elementos centrais, presente no forro em retícula e nos painéis que emolduram o ambiente com textura e ritmo. Esses painéis, junto à estante espelhada para as bebidas e da malha de madeira no teto, estabelecem um compasso visual que dá movimento à cena do bar e restaurante", explica David Guerra, arquiteto autor do projeto. O caráter afetivo do espaço ganha forma por meio das cadeiras de madeira e seus estofados em tons suaves, que fazem um interessante contraponto ao balcão central, em Quartzito Red, e também nas luminárias compostas de globos leitosos, que sutilmente trazem o art déco à rotina do restaurante.
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O arquiteto David Guerra - Foto: Barbara Dutra/Divulgação
Lagar
Lagar investe em acabamentos como a pedra natural gnaisse em estado bruto - Foto: Mage Monteiro/DivulgaçãoO nome Lagar faz referência ao local onde a fruta é espremida: a uva se torna vinho, a azeitona, azeite. Seguindo essa narrativa, o espaço concebido pela Play Arquitetura investe em acabamentos como a pedra natural gnaisse em estado bruto, que foi escolhida para a superfície das mesas e cujas bordas assimétricas ressaltam o ato de valorizar as nossas origens, assim como as cadeiras com encosto em palhinha. “O desafio principal é criar uma atmosfera em um shopping, pois o local tem uma iluminação específica e uma certa assepsia que atrapalha a sensação de acolhimento", explica o arquiteto Marcelo Play (na foto, com a também autora Juliana Figueiró). As paredes em tom verde oliva e vinho garantem o clima gastronômico e o acolhimento do espaço. No salão, o balcão de pedra convoca os clientes a prestar atenção na cozinha de finalização, reforçando a sensação de proximidade e a valorização do fazer gastronômico.
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Marcelo Play e Juliana Figueiró, da Play Arquitetura
- Foto: Alessandra Torres/Divulgação
Gennaro
A atmosfera italiana que faz parte do cardápio do restaurante está presente também em sua decoração
- Foto: Jomar Braganca/DivulgaçãoA atmosfera italiana que faz parte do cardápio do restaurante está presente também em sua decoração. Os tijolinhos à mostra da unidade da Savassi, que recebem obras italianas renascentistas, dão o recado: você está prestes a entrar em um dos universos gastronômicos mais cobiçados do mundo. A adega, protagonista, foi pensada para que os clientes circulassem à vontade por ela. “Escolhemos uma parede de cerca de 8 metros para abrigar a curadoria de vinhos do restaurante", explica a arquiteta Silvia Carvalho, autora do projeto. A atmosfera de cave, (espaço situado no subsolo muito usado para receber adegas) é conferida por meio do jogo de luz e sombra e dos materiais mais rústicos. “Madeira, pedra e aço corten foram algumas das matérias-primas usadas", afirma.
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A arquiteta Silvia Carvalho - Foto: Barbara Dutra/Divulgação
Casa Calixto
A paleta de cores em tons bege, rosa e cinza chama atenção e segue a identidade visual da marca Casa Calixto
- Foto: Pádua de CarvalhoA casa modernista tombada pelo patrimônio histórico no bairro São Pedro valorizou elementos como o piso original e as janelas da casa. “O objetivo foi criar um local para abrigar um novo tipo de ocupação, que fizesse parte da rotina da cidade", afirma a arquiteta Marina Bahia, que junto com o pai, Cláudio Bahia, assina o projeto. No interior, a paleta de cores em tons bege, rosa e cinza chama atenção e segue a identidade visual da marca Casa Calixto. “Essa escolha dialoga com os elementos originais do imóvel tombado, como o piso em taco de madeira e as esquadrias em tons claros. Para complementar, integramos materiais naturais, como palha nas luminárias, madeira no mobiliário com um projeto paisagístico”, diz ela.
A arquiteta Marina Bahia, que junto com o pai, Cláudio Bahia, assina o projeto da Casa Calixto
- Foto: Divulgação
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