Ambiente de Joana Hardy junta a mistura de texturas e cores ao uso de matérias-primas naturais
- Foto: Jomar Bragança/divulgaçãoEsqueça estereótipos como o fogão à lenha e a Namoradeira na janela de uma casa colonial. O morar mineiro assume trajes contemporâneos ao comemorar os 30 anos da CASACOR Minas. Mas se engana quem acha que este ar contemporâneo tem foco exclusivamente no futuro. Como bom mineiros que somos, damos um passo à frente levando conosco um legado de tradições e costumes. Não abrimos mão da história – ou de contar várias delas – o que torna a 30ª edição da mostra mais especial. Uma curadoria de profissionais já proeminentes do mercado se junta a uma nova geração talentosa para trazer à tona o melhor da cultura mineira. “Temos a sorte de ter nascido em Minas Gerais, estado que foi berço do primeiro movimento genuinamente brasileiro de representação sócio-cultural de uma época, o Barroco", explica Pedro Lázaro, que assina a sala de jantar. “O Barroco também foi motivo de inspiração e reflexão para o movimento Modernista, que ganhou forma plenamente brasileira em terras mineiras, com Oscar Niemeyer e a Pampulha."
Tamanho pioneirismo faz da visita à CASACOR Minas uma oportunidade de conhecer a fundo a história da arquitetura e do design mineiros. Ela está presente no edifício art déco que marcou época, antes ocupado pelo Instituto Metodista Izabela Hendrix, nas obras de arte de artistas como Lorenzato e Maria Lira, nos tapetes em textura arraiolo, no acabamento em pedra-sabão e em móveis revestidos em madeira e tábua. A seguir, seis ambientes que contam essa história por meio de volumes, cores e formas.
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Living do Colecionador por Joana Hardy
O acolhimento é a base do conceito do ambiente, que junta a mistura de texturas e cores ao uso de matérias-primas naturais para traduzir essa sensação representativa do morar mineiro. Já ao entrar, uma cortina recebe obras que contam a história da arquitetura em Minas Gerais, como o desenho da Casa Bonomi feito pela arquiteta Freusa Zechmeister e desenhos de profissionais que fizeram parte da história afetiva da própria Joana, como os arquitetos Álvaro Hardy e Raphael Hardy Filho, seu pai e avô, respectivamente. Na sala de jantar, o teto ganhou pintura do artista Marcel Diogo, desenvolvida especialmente para o espaço, que remete aos tapetes de serragem produzidos durante a Semana Santa nas cidades históricas. O mobiliário mistura peças modernistas com criações contemporâneas, como o banco Taboa de Porfírio Valadares e o armário preto e branco da sala de jantar, assinado pelo arquiteto Carico.
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A arquiteta Joana Hardy - Foto: Bárbara Dutra/divulgação
Sala de jantar por Pedro Lázaro
No ambiente criado por Pedro Lázaro, sala de jantar é um espaço de convívio múltiplo - Foto: Jomar Bragança/DivulgaçãoA mineiridade é naturalmente expressa no trabalho do arquiteto Pedro Lázaro, que acredita no poder do regional como instrumento para uma comunicação global. “As pessoas falam que o mineiro é muito acolhedor. Eu acredito que somos acolhedores porque somos desconfiados. Para a gente entender se aquela pessoa é legal, tratamos ela com intimidade dentro da nossa casa, que aí percebemos o melhor e o pior dela e decidimos se queremos continuar aquela relação", afirma. Assim, o arquiteto criou uma sala de jantar que é um espaço de convívio múltiplo. À direita, há um espaço para o bate-papo inicial, que ganha continuidade na mesa de jantar, localizada ao centro, para ter seu desfecho à esquerda, em um petit comité, regado a um bom café mineiro ou, porque não?, uma cachaça. A simetria das janelas, outro elemento que chama atenção de quem entra, ganhou a companhia de grandes quantidades de cerâmicas saramenhas, cuja técnica é típica da região de Ouro Preto e foi resgatada por Paulo Rogério Lage. “Essa história de não deixar as tradições morrerem é muito importante para as novas gerações porque só um passado consciente pode criar a estrutura para a inovação", diz Pedro.
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O arquiteto Pedro Lázaro - Foto: Bárbara Dutra/Divulgação
Restaurante Minéra por Arca Arquitetos
No restaurante Minéra, a cartela em tons terrosos e verdes evocam as paisagens de Minas, enquanto os acabamentos remetem a minerais e pedras naturais
- Foto: Gustavo Xavier/DivulgaçãoAs camadas da identidade mineira são reveladas neste espaço, assinado por Rafaela Mertens e Silvana Mertens. A cartela em tons terrosos e verdes evocam as paisagens de Minas, enquanto os acabamentos remetem a minerais e pedras naturais. “Eu acredito que o conceito mais forte se apresenta nas texturas do ambiente. Nós queríamos literalmente fazer uma homenagem à nossa terra, às nossas texturas, à nossa riqueza mineral", afirma Rafaela. O restaurante está localizado na capela assinada por Sylvio de Vasconcelos, anexa ao edifício art déco. Sua arquitetura modernista foi incorporada na decoração por meio de elementos como os pilares redondos que permeiam o espaço, a madeira escura acetinada presente nos painéis da parede e a divisória de vidros quadrados verdes pintados à mão.
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As arquitetas Rafaela Mertens e Silvana Mertens, da Arca Arquitetos - Foto: Gustavo Xavier/Divulgação
Sala dos Espelhos por Esc Arquitetura
Na Sala dos Espelhos, cores terrosas refletem o cerrado e o minério e obras da arte popular brasileiras completam o cenário que faz um convite ao diálogo - Foto: Studio Tertúlia/divulgaçãoO encontro ao redor da mesa foi o ponto de partida para o ambiente assinado por Mariana Queiroz e Patrícia Naves, arquitetas fundadoras da Esc Arquitetura. Para ressaltar esse hábito que tem como essência a nossa mineiridade, a dupla optou pelo uso de poucos elementos decorativos. Em vez disso, foram usados espelhos, que refletem metaforicamente a importância que a mesa, como objeto e conceito, tem no cotidiano mineiro. “Criamos um bloco de espelhos em toda a periferia do espaço, de alturas variadas, para que eles refletissem a mesa, de forma literal e simbólica", explica Patrícia. Cores terrosas refletem o cerrado e o minério e obras da arte popular brasileiras completam o cenário que faz um convite ao diálogo.
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Mariana Queiroz e Patrícia Naves, arquitetas fundadoras da Esc Arquitetura
- Foto: Bárbara Dutra/Divulgação
Closet Dell Anno por Cris Capanema
Iluminação pontual na área de circulação sinaliza que estamos entrando em um espaço privativo, enquanto dentro dos armários, luzes de LED auxiliam nas atividades do cotidiano
- Foto: Estúdio NY 18/DivulgaçãoO espaço apresenta uma marcenaria de alto luxo para revelar a intimidade que guia a essência mineira. Com formas orgânicas, o ambiente esconde e revela ao mesmo tempo. Na poltrona, é possível receber os mais chegados e não abrir mão da intimidade que permite a troca de roupa no outro canto do closet. A iluminação pontual na área de circulação sinaliza que estamos entrando em um espaço privativo, enquanto dentro dos armários, luzes de LED auxiliam nas atividades do cotidiano.
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A arquiteta Cris Capanema - Foto: Bárbara Dutra/Divulgação
Banho Violeta por Luisa Mano
Arquitetura em estilo art déco do espaço foi realçada graças a elementos mineiros, como a pedra-sabão - Foto: Jomar Bragança/DivulgaçãoA arquitetura em estilo art déco do espaço foi realçada graças a elementos mineiros, como a pedra-sabão, que envolve as esquadrias e se transforma nas duas pias presentes no ambiente. Móveis de família, como a cristaleira que recebe toalhas e outros objetos, reforçam a identidade mineira. “A mineiridade está justamente no encontro entre memória e tradição: a pedra-sabão como símbolo do artesanato, envolvendo as esquadrias da sala, os móveis de família como elo cultural, e a arquitetura art déco do edifício, patrimônio que carrega a história de Minas. É nessa soma que se revela a identidade do espaço: um lugar de cuidado, tradição e pertencimento”, descreve Luisa.
A arquiteta Luiza Mano - Foto: Bárbara Dutra/Divulgação
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