Para começar, em um capricho do destino, foi nascer em um 18 de outubro de 1984 em Fortaleza, capital cearense, para onde os pais mineiros haviam momentaneamente se mudado justamente a trabalho. Já no primeiro ano de vida, com a separação do casal, voltou com a mãe para Varginha, na região Sul de Minas Gerais. “Sou cearense, veja só, com esse sotaque tão mineiro”, brinca. Ela passou os primeiros quatro anos da infância na famosa cidade do circuito ufológico. Depois, mudou-se com a mãe, Raquel, e o padrasto chileno, a quem Bárbara chama de pai, para Belo Horizonte, onde cresceu entre colégios tradicionais.
. Na juventude, conciliava dois cursos universitários – Direito e Ciências Sociais – e dois empregos. Trabalhou como vendedora na Arezzo, no BH Shopping e no Del Rey, e animava festas infantis nos fins de semana. “Sempre tive fama de workaholic. Trabalhava de meio-dia às seis e estudava de manhã e à noite”, conta. Ao fim, acabou optando por concluir apenas a graduação em Direito, atraída pela objetividade da profissão.
. A descoberta do interesse pela política viria anos depois, em 2014, após a morte precoce de um namorado com quem planejava se casar. “Decidi transformar aquela dor em amor, em propósito”, diz. Mergulhou em leituras e encontrou na escritora russa de nacionalidade americana Ayn Rand (1905-1982) e no liberalismo a ideia de que é possível mudar o mundo pela responsabilidade individual. Passou a frequentar movimentos de rua e, mais tarde, conheceu o então nascente Partido Novo.
. Foi ali que se aproximou de figuras que hoje compõem o governo estadual. Sem ocupar cargos, organizava reuniões e apresentações do partido em BH. “Eu tinha um auditório na minha empresa (a JusLog, com foco em logística jurídica para empresas), e as reuniões aconteciam ali. Não conhecia ninguém; fui conhecendo durante o processo”, lembra. Em 2018, grávida do primeiro filho, Alexandre, percorreu o Estado apresentando Romeu Zema a eleitores e possíveis apoiadores. Também foi a responsável por organizar, de forma voluntária, a posse do governador em 2019 – “com pão de queijo e sucos Tial doados”, assinala.
. Aos poucos, apesar da relutância inicial, a militância deu lugar à gestão pública. “Na faculdade, eu era do time que não pretendia tentar carreira no serviço público, porque me identificava mais com a iniciativa privada”, situa. Em 2020, porém, aceitou o convite para atuar por seis meses na Secretaria de Desenvolvimento Econômico, na superintendência de Atração de Investimentos e Incentivo à Exportação. O trabalho se estendeu por anos e rendeu resultados de que orgulha, como a chegada dos grupos hoteleiros Vila Galé e do Clara Resorts a Minas. Ela ainda passou pela Assessoria Internacional e pela Secretaria de Comunicação, até ser chamada, em setembro, para comandar a pasta de Cultura e Turismo.
. A nomeação foi rápida e inesperada, mas, segundo ela, conduzida de forma leve e com apoio do trade cultural e turístico. “Recebi muitas mensagens carinhosas, de todos os setores, do audiovisual à hotelaria. Isso me deu muita confiança”, anima-se. Agora à frente da Secult, Bárbara fala sobre os desafios de dar continuidade às políticas públicas de seu antecessor – a quem chama de mentor –, imprimir sua própria marca e consolidar a cultura e o turismo como eixos estratégicos da economia criativa mineira.
. - QUEM É: Bárbara Barros Botega, 41 anos
- ORIGEM: Fortaleza (CE)
- CARREIRA: Advogada formada pela Universidade Fumec. É, hoje, Secretária de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais. Anteriormente, atuou como secretária adjunta de Comunicação no Estado de Minas. Foi superintendente de Atração de Investimentos e Estímulo à Exportação no Governo do Estado de Minas Gerais, onde também coordenou a Assessoria Internacional do Estado, ambas dentro da estrutura da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico. Atuou também na assessoria estratégica para novos negócios na Invest Minas, sendo responsável por desenvolver a área de investimentos em turismo e atrair mais de 2 bilhões em investimentos em 29 municípios.
Como foi o momento da transição e o convite para assumir a Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais (Secult)?
Foi tudo muito repentino. Eu estava na Secretaria de Comunicação quando recebi uma mensagem de um jornalista perguntando se era verdade que o Leônidas (Oliveira) deixaria a pasta. Respondi que não, porque nem sabia. Pouco depois, veio a confirmação pela imprensa — e logo começaram as ligações: o Bernardo (Santos, secretário de Comunicação), o vice-governador Matheus Simões, o próprio governador. O nome circulou bem e o próprio Leônidas, inclusive, sugeriu o meu ao governador. No domingo à noite, já estava tudo decidido, e na segunda de manhã o anúncio foi feito. Foi uma transição leve, com muito acolhimento do setor. Tenho profunda admiração pelo Leônidas e me comprometi a dar continuidade ao trabalho dele.
. E qual é a sua principal diretriz à frente da Secult?
Dar continuidade, sim, mas com minha digital. Sou muito ligada à gestão prática, à eficiência e a resultados. Quero fortalecer a cultura e o turismo como motores da economia criativa, que será o tema central de 2026. Acredito que geração de emprego e renda deve ser a diretriz máxima de qualquer política pública. No fim das contas, o que queremos é o mineiro vivendo bem – e isso passa por valorizar a cultura e atrair mais turistas.
. Você menciona continuidade. Como pretende avançar no trabalho do Leônidas Oliveira, especialmente na área do turismo, que vive um momento de expansão?
O turismo mineiro está em alta e isso é fruto de muito trabalho. Já atuava junto à Secult em projetos como o da Cordilheira do Espinhaço (ação que visa promover a única cordilheira do Brasil como um novo e importante destino turístico, conectando cidades do centro e do norte do Estado). É um produto estratégico, que vamos seguir aprimorando. Também tenho um projeto de internacionalização e atração de investimentos em patrimônio e turismo, que deve ser lançado em breve. É uma iniciativa grande, que envolve várias secretarias e órgãos – Invest Minas, Casa Civil, Iepha, BDMG, Cemig – e pode colocar Minas na rota internacional do turismo de experiência. Não posso dar mais detalhes porque ainda estamos em fase de desenvolvimento.
. Quais são as prioridades de curto prazo na sua gestão?
Continuar fortalecendo a Cordilheira do Espinhaço, estruturar esse novo projeto internacional e consolidar a agenda de eventos e grandes atrações, que movimentam a economia. Também estamos trabalhando na Virada da Liberdade, que vai reunir três eventos: o réveillon na praça da Liberdade, que terá Lô Borges, Lagum, Biquini, Aline Calixto e Pé de Sonho, além de um show de drones; uma virada eletrônica, que vai virar a noite mesmo; e uma terceira atração, na Arena MRV, mais focada em espiritualidade. E já estamos planejando o Carnaval, que é uma política de Estado. O objetivo é manter o equilíbrio entre a capital e o interior, descentralizando recursos e valorizando as tradições locais.
. Você trabalhou na produção do Carnaval nos últimos anos. O que muda agora como secretária?
Seguimos com o mesmo propósito: descentralizar e fortalecer o Carnaval de todo o Estado. Já conseguimos equilibrar a concentração de público e investimentos entre Belo Horizonte e o interior. No ano passado, 65% dos ônibus que passaram pela rodoviária de BH saíram rumo a cidades do interior, o que mostra essa retomada. Ouro Preto, Diamantina e tantas outras voltaram a brilhar. Em BH, seguimos com o Palácio do Samba, o átrio na Praça da Liberdade, as avenidas sonorizadas e incentivo aos desfiles de passarela, que terão novidades, que não posso antecipar muito.
. E quanto às reformas de estruturas culturais, como a Pinacoteca e o Palácio das Artes?
A Pinacoteca segue em reforma, e buscamos recursos para uma grande intervenção no Palácio das Artes. Também estudamos a viabilidade de instalar parte do Arquivo Público no Prédio Verde do Iepha, integrando-o ao Circuito Liberdade. A ideia é manter o circuito como espaço vivo, aberto à experimentação e à convivência, reforçando sua posição como linha de museus mais visitada da América Latina. Mas ainda não temos data para finalizar essas obras, que estão ainda na etapa de captação.
. Nos últimos meses, houve debates sobre o Regime de Recuperação Fiscal e a possibilidade de federalização ou venda de equipamentos culturais. Essas medidas repercutiram negativamente. Como você percebe essas questões?
Participei do comitê do RRF enquanto estava na Secretaria de Comunicação e conheço bem o tema. Confio plenamente na capacidade técnica do grupo que conduz esse processo. Ninguém quer ceder equipamentos, mas se for uma condição necessária para garantir o equilíbrio financeiro do Estado, é algo que precisa ser avaliado com serenidade. O objetivo é preservar a previsibilidade fiscal e evitar retrocessos como o atraso de salários ou a falta de recursos em áreas essenciais.
. A descentralização continua sendo uma bandeira da pasta?
Sem dúvida. É uma diretriz do governador Romeu Zema e um compromisso meu. Setenta por cento dos mineiros vivem no interior, e a secretaria trabalha para 100% da população. A descentralização dos recursos e das políticas culturais é o caminho para fortalecer as identidades regionais e ampliar o alcance das ações.
. E sobre os editais e o diálogo com o setor cultural?
Os últimos editais estão sendo concluídos e teremos novas chamadas em breve. Sou muito favorável ao uso da tecnologia para tornar os processos mais ágeis e transparentes. Estamos estudando mecanismos que possam automatizar etapas de inscrição, inclusive com uso de inteligência artificial, que pode facilitar desde a inscrição de projetos até o acompanhamento de editais, ajudando na pontuação automática, na checagem de critérios. Já temos bons índices de execução de recursos, mas sempre há espaço para melhorar. A subsecretária Maristela (Rangel) segue conosco e tem ótimo diálogo com o setor, o que ajuda a manter a continuidade e a proximidade com os produtores e artistas.
. Em alguns momentos, nessa conversa, percebi seus olhos marejados, com você se emocionando ao repassar sua trajetória. O que te toca mais nessa caminhada?
Pronto, me emocionei de novo! Eu me emociono… Tenho fama de durona, mas é impossível não se sensibilizar ao olhar para trás. Tenho dois filhos pequenos, Alexandre e Tereza, com diferença de idade de um ano e meio, e o que mais quero é ser exemplo para eles – e, ao mesmo tempo, deixar um mundo melhor para eles viverem. Nada disso foi muito planejado; as coisas foram acontecendo de forma orgânica e rápida. Hoje percebo que me realizo fazendo o que faço: trabalhar para transformar a vida das pessoas por meio de ações concretas.
Pronto, me emocionei de novo! Eu me emociono… Tenho fama de durona, mas é impossível não se sensibilizar ao olhar para trás. Tenho dois filhos pequenos, Alexandre e Tereza, com diferença de idade de um ano e meio, e o que mais quero é ser exemplo para eles – e, ao mesmo tempo, deixar um mundo melhor para eles viverem. Nada disso foi muito planejado; as coisas foram acontecendo de forma orgânica e rápida. Hoje percebo que me realizo fazendo o que faço: trabalhar para transformar a vida das pessoas por meio de ações concretas.