Revista Encontro

Protagonismo feminino

Menopausa deixa de ser tabu e ganha espaço na saúde, na mídia e no debate

Sintomas, tratamentos, reposição hormonal e novas narrativas mostram como o climatério passou a ser encarado com mais informação e acolhimento

Lilian Monteiro
Jaísa Santana Teixeira, Esmerada Jacinta, Alessandra Faria, Marina Chagas Sales e Priscila Abreu (da esq. para dir, de pé) e Cynthia Dias Pinto Coelho e Mariza Chagas Sales: elas nos deram depoimentos de vida e orientações médicas sobre esta importante fase da vida - Foto: Pádua de Carvalho
De repente, aparece um calor estranhamente excessivo. Ao chegar na garagem, esqueceu a chave do carro dentro de casa. Do nada, um choro sem explicação aparente. Num minuto está plena, no seguinte, ansiosa. A gordurinha que apareceu no quadril se instalou e não seca mais. O parceiro chega cheio de desejo e você quer mesmo é sair correndo. É… chegou o tempo de lidar com o climatério e a menopausa, marcos de um processo biológico natural que marca o fim da capacidade reprodutiva da mulher e ainda é incompreendido, estereotipado, discriminado e estigmatizado. Um tabu encarado como segredo por gerações, mas que agora vem, aos poucos, ganhando a discussão que merece.   
 
Já não era sem tempo. Desde o século XIX, mais precisamente 1816, quando o médico francês Charles-Pierre-Louis de Gardanne, conhecido por ter cunhado o termo “menopausa” em seu livro “De la ménopause, ou de l'âge critique des femmes” (Sobre a Menopausa, ou a Idade Crítica das Mulheres), o tema não se fazia tão presente. Nada mais relevante. Pois, pior que um período chato, a menopausa é um processo fisiológico que pode interferir de forma determinante na saúde, no bem-estar e na qualidade de vida das mulheres.
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Se antes esta fase era vivida em silêncio, graças à mudança de comportamento e à exposição feita por mulheres conhecidas ao redor do mundo, o assunto ganhou os holofotes. Estrelas de calibre internacional como as atrizes Naomi Watts e Angelina Jolie, e personalidades nacionais como Fernanda Lima, Angélica, Claudia Raia, Mônica Martelli, Astrid Fontenelle e Maria Cândida passaram a compartilhar em seus canais de atuação o que têm enfrentado. Seja em livro, peça de teatro, podcast, entrevistas e palestras. São desabafos, trocas de experiências e cobranças por mais cuidado, precisão nos diagnósticos e tratamentos adequados.
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Conhecida dos brasileiros por longos trabalhos na TV Globo, a jornalista Maria Cândida, 54 anos, é, hoje em dia, uma ativista da maturidade e uma dessas vozes. Aos 46 anos, em crise financeira e sem espaço nas grandes emissoras ao lidar com o etarismo, pegou um celular, um pau de selfie e se reinventou como criadora de conteúdo, mergulhou no estudo da menopausa e da longevidade e transformou sua carreira. Criou o quadro “Menopausa Sem Susto”, exibido no programa “Encontro com Patrícia Poeta”, e, atualmente, codirige a série documental internacional “Menopausa Sem Fronteiras”, em gravação até 2027. Também escreveu o livro “Menopausa como Jornada”, pela Editora Literare Books International, já um best seller.
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Jornalista Maria Cândida, 56 anos, no Peru; comunicadora com 30 anos de carreira na TV brasileira tem estudado como a menopausa impacta a vida das mulheres em diversos cantos do mundo - Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação“A menopausa, para mim, foi um processo difícil, turbulento, cheio de sintomas que me desestabilizaram por inteira. Tive insônia, irritação absurda, vários episódios de calor intenso, exaustão e, principalmente, lapsos de memória que até hoje me atrapalham, o famoso ‘nevoeiro mental’. Teve um momento em que eu realmente achei que estava enlouquecendo. Não entendia o que estava acontecendo e ninguém explicava direito. Foi a partir daí que resolvi investigar e mergulhar nesse tema que poucas pessoas falam ou que alguns ainda consideram ‘frescura’”, relata.
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Hoje, faz pós-graduação em gerontologia pelo Hospital Israelita Albert Einstein. E em seu estudo, a jornalista conta que percebeu o quanto as mulheres desconhecem e deixam de honrar seu corpo desde meninas. “Desde a puberdade, o papel dos hormônios é fundamental. O sobe-desce ocorre na TPM, na maternidade, com os blues do puerpério, e na menopausa. Mudei de um médico homem para uma ginecologista mulher, que tem a minha idade e me indicou a reposição hormonal. Mais de 80% dos sintomas desapareceram. Entendi a necessidade de exercícios e percebi que, se não começasse um trabalho sério de readequação da minha saúde, seria difícil”.
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O projeto da jornalista, “Menopausa Sem Fronteiras”, investiga como essa fase é vivida em diferentes culturas e regiões. “Já estive na Amazônia (Brasil), México, Colômbia e Peru. Conversei com mulheres ribeirinhas, indígenas, urbanas... e todas, de algum modo, enfrentam os mesmos desafios. A falta de acolhimento é global. Tem um projeto de lei parado na Câmara desde 2019 que prevê a oferta de reposição hormonal no SUS, e ninguém se mobiliza por isso. Quero que cada mulher também leia meu livro e sinta: ‘eu não estou sozinha’”.
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A projeção da Organização Mundial da Saúde (OMS) é que a população mundial de mulheres na menopausa e pós-menopausa atinja 1,2 bilhão até 2030. No Brasil, cálculos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que aproximadamente 30 milhões de mulheres vivem na faixa etária do climatério e menopausa (geralmente entre 45 e 55 anos), ou seja, 7,9% da população feminina. A revista científica ”Climateric” indica que 82% das brasileiras nessa faixa etária apresentam sintomas que comprometem sua qualidade de vida. 
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E cada mulher tem sua história e experiência diante do que é inevitável. A Encontro ouviu testemunhos e especialistas que nos ajudaram a entender melhor esta fase da vida da mulher e apontar caminhos para uma melhor qualidade de vida.
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Procure seu ginecologista aos primeiros sinais 

Ao longo de toda a vida a mulher tem que lidar com diferentes montanhas-russas hormonais. Na adolescência, com a menarca -  a primeira menstruação - e a puberdade. No período fértil, com os desafios da gravidez e do pós-parto. Ao final dessa etapa, a menopausa, quando cessam os ciclos menstruais. Nenhuma delas é fácil. Mas a médica ginecologista e obstetra do Hospital Mater Dei Mariza Chagas Sales enfatiza que, na menopausa, há o fato de a mulher ter de lidar com o envelhecimento, o que afeta sua autoimagem. 
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Médica ginecologista e obstetra do Hospital Mater Dei, Mariza Chagas Sales lembra que diante de uma sociedade que valoriza a juventude, a mulher, além de lidar com o envelhecimento, tem de encarar o tabu e o preconceito com a chegada da menopausa - Foto: Pádua de Carvalho“Vivemos numa sociedade que, ao valorizar a juventude e beleza como atributos femininos, reforça o tabu e o preconceito com a chegada da menopausa. As mulheres precisam ficar atentas e procurar seu ginecologista aos primeiros sinais de baixa do estrogênio para iniciar seu tratamento na janela de oportunidade – até 60 anos de idade ou com menos de 10 anos de menopausa”.
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A especialista destaca que a paciente deve ser submetida a uma anamnese completa e a um exame físico detalhado, realizar o rastreamento para o câncer de mama e endométrio e avaliar a dosagem de colesterol e glicemia de jejum para o apontamento dos tratamentos. E defende que a Terapia de Reposição Hormonal (TRH) individualizada é o caminho mais efetivo para sintomas da peri e pós-menopausa. 
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Sim, meus amigos, a famigerada reposição hormonal - talvez o maior mito que cerca a menopausa. Frequentemente associada a um medo generalizado de riscos como câncer e trombose, nos últimos anos a TRH evoluiu e trouxe mais segurança às mulheres, como o uso de menores doses de estrogênio e o tipo de progestagênio melhor selecionado. 
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Marina Chagas Sales, médica ginecologista, especialista em hormônios, afirma que terapia de reposição hormonal (TRH) evoluiu bastante, trazendo mais segurança às mulheres com o uso de menores doses de estrogênio e o tipo de progestagênio melhor selecionado - Foto: Pádua de CarvalhoFilha de Mariza, a médica ginecologista Marina Chagas Sales explica que “muito se fala do medo do uso de hormônios, mas pouco se diz de seus benefícios. Na verdade, quando corretamente indicado, eles reduzem a mortalidade. Estudos atribuem esse resultado à redução do risco de infarto e de diabetes quando utilizados no momento adequado. Além disso, há muito tempo está provado que a TRH protege contra o câncer de intestino e de útero. A reposição hormonal tem o objetivo primordial de melhorar a qualidade de vida da mulher.”
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A médica afirma que, sim, os avanços nos conhecimentos científicos permitem concluir que a reposição hormonal de fato aumenta o risco de câncer de mama. “Entretanto, para a população sem casos na família, esse risco é da ordem de 8 em 10 mil mulheres - o que nos permite prescrever a reposição hormonal, diante do monitoramento com exames de imagem periódicos (mamografia e ultrassom). Feita de maneira adequada, a TRH é segura e deve ser prescrita”.
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Marina diz que a contraindicação para o uso da TRH é um passado de câncer de mama ou a presença de nódulo mamário com potencial de transformação maligna. “Já a existência de casos de câncer de mama em parentes de primeiro grau não contraindica a reposição, mas ela deve ser vista com mais cautela.” Por esse motivo, cada paciente deve ser milimetricamente avaliado. 
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E o fundamental é avaliar a mulher não somente embasado no resultado do exame laboratorial, mas também ouvir suas queixas, determina o médico cardiologista e especialista em emagrecimento Hélvio Marotta. “A clínica é soberana. O sintoma é maior do que qualquer resultado de exame. Estar atento aos sinais e ajudar estas mulheres a mudarem o estilo de vida para amenizar os riscos. E, quando necessário e possível, iniciar a reposição hormonal de forma correta. De preferência, no início da instabilidade da produção hormonal”. Lembrando que a via mais segura de reposição do estrogênio é a transdérmica, tópica, como o uso dos adesivos, de acordo com Marotta.
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O cardiologista lembra que existe uma menopausa para cada mulher. Há aquelas assintomáticas, outras com período curto e alargados de sintomas. Normalmente, as que prezam por um bom estilo de vida, alimentação adequada e atividade física regular tendem a sentir menos os efeitos. Assim como quem teve filhos. Quem lida com muita TPM e enxaqueca também costuma sentir mais. “É cruel ver a mulher se vendo incapaz de lidar com essas adversidades diante de suas duplas jornadas, às vezes como chefs de família, e limitada por questões hormonais. O importante é saber que há aliados que vão trazer benefícios”.
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Laser genital x chá de amora
 
Outro tratamento que tem trazido resultados é o laser genital. “É o que temos de melhor para oferecer hoje na medicina. Ele tem como principal aplicação a melhora da secura vaginal e da perda de urina. É possível resgatarmos a feminilidade da mulher, com melhora da libido, lubrificação e do conforto na relação sexual. Para o sintoma urinário, a melhora é em torno de 70%”, afirma a ginecologista Marina Chagas. O procedimento pode ser feito a partir do início dos sintomas ou mesmo preventivamente, com o aproximar da menopausa. 
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E o famoso chazinho de amora? “É melhor que o placebo, mas tem efeito mais leve e carece de grandes estudos”, diz a especialista que  costuma indicar intervenções dietéticas, meditação e acupuntura, embora a evidência científica de melhora nesses casos também não seja forte. 
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Jaísa Santana Teixeira, médica ginecologista e cirurgiã onco ginecológica do Hospital Orizonti, assegura que a chave para uma menopausa tranquila e um envelhecimento saudável reside na prevenção contínua - Foto: Pádua de CarvalhoMédica ginecologista e cirurgiã onco ginecológica do Hospital Orizonti, Jaísa Santana Teixeira assegura que “a chave para uma menopausa tranquila e um envelhecimento saudável reside na prevenção contínua, com visita anual ao ginecologista e a adoção de hábitos de vida saudáveis. Hidratação abundante, atividade física regular com foco para a manutenção da massa óssea e muscular, dieta equilibrada e higiene do sono são fundamentais”. 
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Sexo: diálogo entre o casal é fundamental 
 
Não foram poucas as vezes em que a apresentadora, podcaster e modelo brasileira Fernanda Lima declarou, no último ano, ter tido vontade de dizer “não” na hora H para o maridão Rodrigo Hilbert, também modelo e apresentador. Sim, ele mesmo, o “homão da p…”. A falta de libido foi um dos sintomas que mais impactou Fernanda, também uma mulher linda e poderosa, na chegada da menopausa. Um fator que, ela conta, a abalou  como mulher e poderia ter afetado seu casamento. Foi a partir daí que ela resolveu escrever e compartilhar suas vivências numa temporada do podcast “Zen Vergonha”, que ela apresenta.
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A psicóloga e sexóloga Cynthia Dias Pinto Coelho afirma que o sexo na idade madura pode não ter mais o mesmo vigor e intensidade da juventude, mas a qualidade das relações melhora e o sexo ocorre de forma mais leve e com apelo emocional maior - Foto: Pádua de CarvalhoE se a diva Fernanda Lima não escapou da questão, que dirá nós, pobres mortais? Brincadeiras à parte, é importante entender que a falta de libido nesta fase ocorre não apenas pelas alterações hormonais, mas também por fatores emocionais como a ansiedade e as oscilações de humor, e desconfortos físicos como o ressecamento vaginal, resultando em impactos na autoestima. E uma nova abordagem se faz necessária, defende a psicóloga e sexóloga Cynthia Dias Pinto Coelho.
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Para a especialista, é preciso ressignificar conceitos e resgatar a autoestima. “É importante se enxergar de uma nova maneira, entendendo que essa fase traz um ‘perde e ganha’, como em quase tudo na vida. Perde%u2011se o corpo jovem, mas ganha%u2011se em autoconhecimento; perde%u2011se o desejo intenso, mas ganha%u2011se na qualidade de um sexo confiante e mais à vontade, sem as inseguranças comuns à juventude.”
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A falta de diálogo entre o casal, alerta, pode ser mais prejudicial do que a carência hormonal. “A mulher está aprendendo a lidar com algo que acontece tanto em seu corpo físico como em seu psiquismo. Tudo é novo, mas é real e concreto para ela. O homem, na maior parte das vezes, não conhece e não entende o porquê de tantas mudanças em sua companheira. O que tornará essa fase da vida conjugal mais suave será exatamente a conversa, sem constrangimentos ou embaraços. Compreender as mudanças para que surjam novos acordos e ajustes nos relacionamentos.”
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Há também aspectos físicos que interferem: muitas mulheres sentem dor ou incômodo durante o sexo por causa da menor lubrificação. Por isso, é essencial esclarecer que, mesmo quando há desejo, poderá haver a necessidade de um “auxílio extra”, como lubrificante íntimo. “Em alguns casos pode ser necessário o auxílio da fisioterapia pélvica ou o laser íntimo para atenuar esse sintoma.”
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As transformações da menopausa, ressalta Cynthia, vão além do corpo — atingem a mente e os sentimentos. Alterações de humor, disposição para viver com alegria e força, e a percepção da autoimagem fazem parte da constelação de mudanças. “Como é a cabeça que comanda todo o resto, é importante cuidar da saúde mental e ressignificar o conceito do climatério e da menopausa. A construção de novas formas de ser e de vivenciar a sexualidade serão necessários e a psicoterapia torna tudo isso mais suave e viável. O sexo na idade madura vai além do físico. A maturidade dá lugar à espontaneidade e à autoconfiança de quem já conhece o caminho para a obtenção do próprio prazer.”
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Entendendo os termos

Climatério: fenômeno fisiológico que se manifesta em todas as mulheres de meia idade, em decorrência da falência funcional das gônadas, levando a deficiência dos hormônios ovarianos. Período que vai desde o momento em que seus ovários começam a claudicar até o fim da vida.
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Perimenopausa: período que antecede a menopausa e vai até seus primeiros anos. Em média, dos 45 aos 55 anos.
Menopausa: é a última menstruação e é diagnosticada após 12 meses da sua manifestação. Ocorre, na maioria das vezes, em torno dos 50 anos (de 48 a 52 anos).
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Pós-menopausa: período após a menopausa. Vai dos 55 aos 65 anos.
 
(*) Fonte: Médica ginecologista e obstetra do Hospital Mater Dei, Mariza Chagas Sales
 
Efeitos do climatério
 
A curto prazo: irregularidades menstruais, fogachos, transpiração, palpitações, insônia, sono entrecortado, labilidade de humor, humor depressivo, desânimo, cefaleia e falta de concentração.
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A médio prazo: atrofia genital (secura vaginal), dispareunia (dor na relação sexual), infecções vaginais de repetição, maior frequência de infecções urinárias, incontinência urinária, prolapsos genitais, pele fina.
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A longo prazo: maior risco cardiovascular, osteoporose e demência.
 
(*) Fonte: Médica ginecologista e obstetra do Hospital Mater Dei, Mariza Chagas Sales

Confira livros lançados neste 2025 sobre a menopausa
 
  • “A Nova Menopausa” (Ed. Intrínseca, 2025), da médica, obstetra e ginecologista especializada em menopausa na região de Houston (EUA) Mary Claire Haver, que avisa: “a menopausa é inevitável; sofrer com ela, não”. 
  • “Vou te Contar” (Ed. BestSeller, 2025), da atriz e produtora anglo-australiana Naomi Watts, 56 anos. Ela revela que entrou na perimenopausa aos 36 anos e, em 2022, fundou a Stripes Beauty, marca de autocuidado que desenvolve uma rede de apoio às mulheres.  
  • “Menopausa como Jornada” (Ed. Literare Books International, 2025), da comunicadora Maria Cândida. Na obra, a autora compartilha sua experiência pessoal e conhecimento adquirido ao longo dos anos para desmistificar essa fase da vida feminina.
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Depoimentos  
 
Esmeralda Jacinta, 56 anos, empresária e cabeleireira

%u201C%u2018A chave virou%u2019, me disse o terapeuta, ele só não me falou que iria piorar e, não, melhorar%u201D, conta Esmeralda Jacinta - Foto: Pádua de Carvalho“Entrei na menopausa aos 47 anos. Não me preparei, foi tudo novidade, uma nova fase da vida. Busquei terapia para lidar com as mudanças. ‘A chave virou’, me disse o terapeuta, ele só não me falou que iria piorar e, não, melhorar. Continuo trabalhando direto, mas às vezes o desânimo bate forte. Uso adesivo para os calores. Sinto a pele e a vagina ressecadas, tenho osteoporose, artrite e por aí vai... São dores que não acabam mais. Às vezes, tudo parece piorar. Não consigo mais dormir sem remédio. Também tomo medicação para a ansiedade. Tenho altos e baixos. Há dias bons e outros em que parece que você vai ficar louca. Não posso fazer reposição hormonal, pois já tive dois quadros de trombose. Nenhum médico arrisca receitar. Mas faço reposição de cálcio, vitamina D e magnésio, bebo mais água e caminho sempre que dá. O meu marido tenta me acolher. Diz que entende bem, mas olha para mim e fala: ‘te vejo tão perfeitinha, mas a sua cabecinha não anda boa’. Até ganhei o apelido de ‘baronesa’ de uma amiga, por conta daquela personagem da novela (Laurinha Figueroa, interpretada pela atriz Glória Menezes em ‘Rainha da Sucata’, de 1990) porque esqueço tudo.”
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Priscila Abreu, 40 anos, jornalista e especialista em marketing digital
 
%u201CA mulher precisa entender que a menopausa não é nada sobrenatural. É consequência da idade e que, hoje em dia, existe ajuda%u201D, pontua Priscila Abreu - Foto: Pádua de Carvalho“Entrei no climatério cedo, aos 37 anos. Não sabia o que estava acontecendo. Marquei consultas com vários médicos — ginecologista, endócrino — e descobri que meus hormônios estavam alterados. Foi aí que a ficha começou a cair. Hoje, aos 40, já estou na menopausa. Notei queda de cabelo, ossos mais fracos e insônia. Apesar do receio diante do tabu de que a reposição causa câncer, procurei por uma médica geneticista, me senti segura e decidi fazer o tratamento. Faço a reposição com hormônios bioidênticos, que são mais seguros. O único sintoma que ainda tenho é insônia, mas já estou tratando para melhorar. Sou casada, não temos filhos. Quando comecei a namorar, falei sobre as falhas da menstruação e que estava ocorrendo algo de errado. Quando falei sobre a menopausa, ele me apoiou, até mesmo porque, possivelmente, não teremos filhos gerados. Mas ele foi amoroso e, possivelmente, daqui a alguns anos, adotaremos um filho, se Deus quiser! Não me sinto só. A mulher precisa entender que a menopausa não é nada sobrenatural. É consequência da idade e que, hoje em dia, existe ajuda e remédios que a fazem passar por essa etapa de forma mais leve e tranquila”.
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Alessandra Faria, 55 anos, empresária, proprietária da marca Alèss Beauty de pré-maquiagem e skincare para peles maduras

%u201CTemos de conversar. Nenhuma mulher tem de passar por tudo isso calada%u201D, diz Alessandra Faria - Foto: Pádua de Carvalho“Desde 2012, quando criei meu blog, compartilho experiências sobre climatério e menopausa. Falo deste tema desde meus 40, portanto, há 15 anos. Apesar da preparação, o climatério me surpreendeu. O que passei foi pior do que podia imaginar. Aos 50 anos, comecei o controle hormonal e passei por uma histerectomia. Em 2021, os sintomas se intensificaram. Comecei a apresentar sinais fortes, com fogachos intensos que começavam a partir das 18h e se repetiam a cada 15 minutos, foi terrível. Tinha mal-estar constante e fiquei um mês sem dormir. Em três meses, engordei 6 kg e sentia um cansaço extremo. Voltei à médica e o exame indicou que já estava na menopausa há um ano. Atualmente, sigo com acompanhamento médico, uso suplementos, faço atividade física e reposição hormonal. A questão é que não é uma situação linear. Você faz a reposição, fica bem por um tempo, depois passa mal de novo e tem de voltar ao médico para fazer nova dosagem e reposição e assim vai. Sou divorciada, mãe de três filhos e estou namorando. Lembro a todos que vivo um momento de transição eterna, porque estes sintomas não passam em definitivo, já que os hormônios não existem mais. No trabalho, há compreensão, mas sem passar a mão na cabeça. Aprendi que é fundamental falar sobre o que estamos passando. Temos de conversar. Nenhuma mulher tem de passar por tudo isso calada.”

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