O empreendimento José Torres Franco, no bairro Lourdes, da Patrimar, alcançou o nível Advanced da certificação EDGE, concedido a edificações com índices de economia acima de 45% em energia, água e carbono incorporado - Foto: Patrimar/DivulgaçãoEm um setor historicamente movido por concreto e aço, uma nova agenda vem ganhando corpo e propósito na construção civil: a sustentabilidade. A pauta deixou de ser apenas tendência ou diferencial competitivo para se tornar um eixo estratégico, diretriz corporativa e compromisso geracional. “Construir de forma sustentável é um dever do setor e uma responsabilidade com as próximas gerações”, afirma Patrícia Veiga, Diretora Executiva de Inovação e ESG do Grupo Patrimar. Concorda Mara Rabelo, diretora-executiva da Canopus. “Hoje, energia limpa, gestão qualificada de resíduos, logística reversa, cálculo de carbono e iniciativas como o ProLata estruturam uma cultura ambiental sólida”, defende.
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Ao longo dos últimos anos, as empresas do ramo têm avançado em práticas ambientais, sociais e de governança (ESG) que reposicionam seus empreendimentos e reforçam sua visão de futuro em busca de cidades inteligentes, eficientes e humanas, onde o impacto positivo é tão importante quanto o acabamento impecável. “Precisamos investir neste aspecto como uma cultura. Em nossos projetos, quando mantemos um ipê, uma jabuticabeira ou um pequizeiro no terreno, estamos preservando a natureza e a memória do lugar. Aquilo fica como legado vivo para o bairro”, diz o gestor de sustentabilidade da MRV, José Luiz Esteves.
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"Construir de forma sustentável é um dever do setor e uma responsabilidade com as próximas gerações", afirma Patrícia Veiga, Diretora Executiva de Inovação e ESG do Grupo Patrimar - Foto: Patrimar/DivulgaçãoPara além do discurso, as mudanças têm sido concretas na vida dos futuros moradores e também dos investidores. Isso porque a eficiência energética e hídrica nos empreendimentos reduz contas mensais e contribui para taxas condominiais menores. Ambientes mais ventilados, iluminados e confortáveis elevam a qualidade de vida e promovem saúde e bem-estar. “Sustentabilidade também é conforto e esse conjunto de atributos contribui para a valorização dos imóveis e para menor vacância”, reforça Patrícia.
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Na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP 30, realizada no último mês de novembro em Belém (PA), governantes de 12 países se uniram a mais de 300 empresas e organizações da sociedade civil para endossar os “Princípios para a Construção Responsável em Madeira”, uma estrutura baseada em ciência que orienta o uso sustentável, desde a origem na floresta até a aplicação final nos canteiros de obras.
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O movimento representa um avanço significativo na convergência dos esforços globais para transformar a indústria da construção civil, promovendo práticas que beneficiem simultaneamente o clima, a biodiversidade e as pessoas. Segundo o World Green Building Council, organização global que trabalha para promover a sustentabilidade, o setor responde por cerca de 34% das emissões globais de CO%u2082, mas também é uma das áreas em que a ação climática gera os benefícios mais amplos.
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Ao adotar ações sustentáveis, as empresas não apenas reduzem emissões: elas criam empregos, melhoram a saúde pública, fortalecem a resiliência das cidades e abrem novas oportunidades econômicas. Trata-se, portanto, de um campo estratégico onde inovação e responsabilidade ambiental caminham lado a lado para transformar o futuro urbano.
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Segundo Patrícia Veiga, as práticas ambientais da Patrimar estão efetivamente incorporadas aos empreendimentos, desde os de alto padrão até os de habitação popular. E são validadas por certificações internacionais de Excellence in Design for Greater Efficiencies (EDGE), excelência em design e eficiência, de organizações como o International Finance Corporation (IFC) e o Selo Casa Azul (Caixa), que avaliam soluções que abrangem eficiência hídrica, energética e o uso de materiais de baixo impacto.
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Embora a Patrimar já desenvolvesse iniciativas de sustentabilidade, foi a partir de 2022 que o movimento ganhou estrutura, métricas e governança robusta. A publicação do primeiro Relatório de Sustentabilidade da empresa consolidou indicadores ambientais e sociais e estabeleceu metas claras de curto, médio e longo prazo. “Esse documento foi fundamental porque reforçou nossa transparência e nos permitiu acompanhar de forma contínua nossos impactos e avanços”, diz Patrícia.
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O ciclo se fortaleceu ainda mais com a criação da Diretoria de Inovação e ESG em 2023 e, posteriormente, com o estabelecimento de um Comitê de ESG em 2025, passos que, segundo a executiva, mostram a importância estratégica do tema dentro do grupo. Entre os projetos que melhor simbolizam essa virada, o empreendimento José Torres Franco, no bairro Lourdes, é uma vitrine. O projeto alcançou o nível Advanced da certificação EDGE, reconhecimento concedido a edificações com índices de economia acima de 45% em energia, água e carbono incorporado. “É a prova de que é possível reduzir o impacto ambiental sem abrir mão da qualidade para o cliente”.
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History Funcionários, da Construtora Canopus, primeira empresa brasileira a receber, da IFC (International Finance Corporation), o certificado EDGE (Excellence in Design for Greater Efficiencies) de construção sustentável - Foto: DivulgaçãoPara garantir evolução contínua, as construtoras utilizam alguns indicadores que monitoram emissões de CO%u2082, consumo de energia e água, destinação e reaproveitamento de resíduos, horas de capacitação e investimentos sociais e comunitários. Na Canopus, as práticas ESG também são tidas como pilares fundamentais. “Quando ignoradas, comprometem valor e perenidade”, afirma a diretora-executiva Mara Rabelo. Ela reforça que construir é, antes de tudo, garantir dignidade: “Ter um lar, água tratada, energia elétrica, não é apenas conforto, é segurança, saúde e cidadania”.
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"Ter um lar, água tratada, energia elétrica, não é apenas conforto, é segurança, saúde e cidadania", afirma a diretora executiva Mara Rabelo - Foto: DivulgaçãoFundada em Belo Horizonte e com atuação em vários estados, a construtora alcançou um marco importante em 2012, com o Complexo Júlio Prestes, em São Paulo, que recebeu a certificação EDGE da International Finance Corporation (IFC), tornando a Canopus a primeira do Brasil a conquistar o selo. O reconhecimento veio após o empreendimento atingir reduções expressivas: 31% no consumo de energia elétrica, 32% no consumo de água e 57% na energia incorporada aos materiais.
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Na MRV, falar de ESG não é um anexo ao negócio. É o próprio negócio. Líder no segmento de habitação popular, especialmente no programa Minha Casa, Minha Vida, o grupo constrói para um público historicamente pouco valorizado pelo mercado imobiliário. E é justamente aí que entra a força do propósito: “Nossa missão é oferecer moradia digna, bem localizada e com menor impacto ambiental, sem perder de vista a viabilidade econômica”, diz José Luiz Esteves. Na construtora, o tema está diretamente ligado à remuneração variável da alta liderança e se desdobra por toda a empresa. “Todos os anos, definimos cinco metas de sustentabilidade que entram na remuneração variável da diretoria e vão sendo cascateadas para as demais áreas”, explica.
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Nos chamados projetos Smart City, como o Cidade Sete Sóis Betim, a MRV vem incorporando soluções como jardins de chuva, plantio de espécies nativas e áreas verdes integradas ao cotidiano dos moradores - Foto: MRV/DivulgaçãoEsses propósitos dialogam com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), conjunto de 17 metas globais e 169 metas menores, estabelecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2015, para alcançar um mundo mais justo, pacífico e sustentável até 2030. O que inclui desde descarbonização, redução de resíduos e consumo de água até indicadores sociais, como redução de acidentes de trabalho e aumento da participação feminina na construção civil. “A construção ainda é um setor com cerca de 80% de mão de obra masculina. Trabalhamos metas para ampliar a presença de mulheres, inclusive em posições de liderança”, completa.
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José Luiz destaca que a MRV foi pioneira em levar energia fotovoltaica para habitação de interesse social. “Temos meta de entregar 100% dos produtos com alguma solução de energia renovável”, afirma o gestor. A estratégia inclui placas solares nas áreas comuns, lâmpadas de baixo consumo e parcerias com geradoras de energia renovável para oferecer desconto na conta de luz. A água é outro ponto de atenção: a empresa busca reúso dentro do próprio processo construtivo, como na umidificação de canteiros, e soluções para uso em áreas comuns dos condomínios, na irrigação de jardins e limpeza. Em algumas cidades, há ainda projetos com reaproveitamento de água cinza (de lavatórios) para vasos sanitários.
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"Temos meta de entregar 100% dos produtos com alguma solução de energia renovável", diz o gestor de sustentabilidade José Luiz Esteves
- Foto: Gabriel Araújo/DivulgaçãoNo campo da economia circular, a MRV vem testando e ampliando iniciativas que reaproveitam resíduos que antes iam para descarte. Sobras de concreto, por exemplo, hoje viram peças de paisagismo e acabamento como bloquetes, “chapéus” de muro e elementos arquitetônicos. Nos chamados projetos Smart City, como o Cidade Sete Sóis, a MRV vem incorporando soluções baseadas na natureza: jardins de chuva, plantio de espécies nativas, e áreas verdes integradas ao cotidiano dos moradores. Para José Luiz, o olhar começa antes mesmo da obra. No momento da terraplenagem, a equipe busca o chamado “balanço de massa”, evitando ao máximo a necessidade de aterros e descartes em bota-fora.
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Foi assim que surgiu o selo interno “MRV+ Verde”. “Em vez de simplesmente importar uma certificação, criamos um padrão nosso, adequado à realidade do Minha Casa, Minha Vida”, conta José Luiz. O selo avalia tanto práticas sustentáveis no canteiro de obras quanto soluções entregues ao cliente final. E, para garantir credibilidade, todo o processo passa por auditoria de terceira parte, independente. “Não basta dizer que é verde. A gente faz auditoria externa para comprovar que aquilo que falamos está de fato incorporado, da construção à entrega”, explica. Além disso, a empresa procura deixar um legado no entorno: áreas de convivência, paisagismo, acessibilidade e integração com a cidade.
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Pilar inegociável
Para a PHV Engenharia, a preocupação ambiental deixou de ser diferencial e se tornou regra no setor da construção civil, tornando-se um caminho inevitável e estratégico. Quem explica é Marcos Paulo Alves, vice-presidente executivo da construtora, que coloca a sustentabilidade no centro da tomada de decisões da empresa. “Não dá para imaginar o sucesso de nenhum projeto sem o equilíbrio da sustentabilidade”, afirma. Ele lembra que, durante anos, qualquer empreendimento precisava se apoiar em três pilares básicos: resultado econômico, embasamento legal e desejo do mercado. Hoje, esse tripé ganhou um quarto elemento indispensável: a responsabilidade ambiental. “Esse pilar virou regra para o sucesso de qualquer negócio, e não pode ser diferente na construção civil”, completa.
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Um dos empreendimentos que melhor sintetizam o compromisso da PHV Engenharia é o Quatro Ventos, no Vila da Serra, em Nova Lima. O projeto se tornou uma vitrine das práticas sustentáveis adotadas pela empresa, como o paisagismo regenerativo e o uso de elevadores inteligentes e placas solares - Foto: DivulgaçãoDestacada no cenário nacional por sua atuação nas áreas de desenvolvimento e incorporações imobiliárias, execução de obras residenciais de alto luxo, comerciais e industriais personalizáveis, além de obras de urbanização, infraestrutura e terraplanagem, a empresa possui certificação ISO 9001 e aprovação com nível A no Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H). Segundo Marcos Paulo, não houve um único momento em que a PHV decidiu se tornar mais sustentável. O processo foi orgânico. “Veio naturalmente, da nossa preocupação com os custos e da consciência sobre o que estamos fazendo com o planeta. O mais legal é que ações de sustentabilidade normalmente estão diretamente ligadas a ganho econômico”, explica.
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Para Marcos Paulo Alves, vice-presidente da PHV Engenharia, a preocupação ambiental deixou de ser diferencial e passou a ser premissa no setor da construção civil: "Antes, qualquer empreendimento precisava se sustentar em três pilares básicos: resultado econômico, embasamento legal e desejo do mercado. Hoje, esse tripé ganhou um quarto elemento indispensável: a responsabilidade ambiental", afirma.
- Foto: DivulgaçãoA construtora já utiliza uma série de medidas voltadas à eficiência ambiental em seus projetos. Painéis solares, aproveitamento de água, eficiência energética e materiais ecológicos compõem o pacote básico, mas não param por aí. Um dos empreendimentos que sintetiza esse compromisso é o Quatro Ventos, no Vila da Serra, em Nova Lima. O projeto concebido pelo arquiteto Gustavo Penna é apontado como vitrine das práticas sustentáveis que vêm sendo incorporadas pela empresa, entre elas o paisagismo regenerativo e elevadores inteligentes. Para além da agenda ambiental, os futuros moradores são beneficiados com economia e bem-estar. “Diretamente, há redução no consumo de água e energia. Indiretamente, há mais qualidade de vida”, resume o vice-presidente. No campo social, a PHV investe na formação de mão de obra por meio do programa PHV Educa, que acompanha a evolução dos colaboradores e incorpora temas de consciência ambiental na capacitação.
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Soluções sustentáveis aplicadas na construção civil
Certificações: EDGE (alto padrão) e Casa Azul (MCMV)
- Placas fotovoltaicas
- Iluminação LED com sensores
- Recarga para carros elétricos
- Reaproveitamento de água da chuva
- Irrigação automática
- Torneiras com temporizador
- Dual flush
- Medição individualizada por radiofrequência
- Projetos elétricos e hidráulicos otimizados
Indicadores monitorados
- Emissões de CO2
- Consumo de água
- Consumo de energia
- Resíduos: geração, destinação e reaproveitamento
- Capacitação de colaboradores
- Investimento social e comunitário
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