Em Belo Horizonte, construtoras e incorporadoras vêm trilhando esse percurso rumo ao futuro, porque entendem que o jeito de comprar um imóvel mudou – e continua mudando rapidamente.
Já para Vitória Nejm, sócia-fundadora da Fataha, a digitalização dos processos precisa ser encarada de forma estrutural, não apenas instrumental. “Ela abrange toda a nossa cadeia de valor”, explica, detalhando que a empresa opera com IA, agentes autônomos e plataformas como Azure e Google Cloud, automatizando desde rotinas administrativas até análises jurídicas complexas. Um dos braços dessa estratégia é a Conecta, startup criada pela própria Fataha: “Ela integra etapas como financiamento, documentação e pós-venda, reunindo em uma única plataforma serviços que antes eram dispersos”.
. A aposta é seguir por um caminho híbrido, defende Carolina Lara, gerente de Marketing e CX da Somattos, combinando modernização de canteiros e digitalização da jornada do cliente. “Hoje, todas as etapas — do primeiro contato ao pós-entrega — contam com suporte tecnológico”, destaca, citando que os contratos são assinados digitalmente, as vistorias são agendadas on-line e a assistência técnica opera em plataforma unificada. Nos canteiros, a leitura facial controla acessos e reforça a segurança operacional.
. Imersivo
Além de agilizar, com a digitalização, a parte administrativa do processo, em outra frente, a tecnologia, com as experiências virtuais, está transformado a forma como os clientes visualizam seus futuros lares ao permitir que apartamentos sejam explorados em detalhes antes mesmo de eles existirem fisicamente.
. Não por outro motivo, na Fataha, a aposta está na imersão. A empresa testa tecnologias de ponta, como o Apple Vision Pro, e desenvolve experiências que unem Tour 360°, decorados virtuais e simulações reais captadas por drones. “Para o nosso próximo lançamento, vamos simular a vista exata do apartamento andar por andar”, antecipa Nejm. “Isso elimina a dúvida e tangibiliza o produto antes mesmo da obra começar”. A ideia é aproximar o cliente da realidade futura com o máximo de precisão e, ao mesmo tempo, elevar a qualidade da experiência digital.
. A tecnologia imersiva, encarada como suporte à experiência humana, também avança no Grupo Caparaó. “Adotar tecnologias imersivas é condição básica para existir e crescer no mercado”, diz Alexandre Lodi, antes de reforçar que o encantamento ainda nasce da relação: “Que a inovação caminhe junto com o olhar atento, o aperto de mão e a escuta qualificada”, determina.
. Cançado situa que a Conartes, mesmo reconhecendo o avanço dessas ferramentas, tem especial cuidado em garantir total aderência entre o que é apresentado e o que será entregue.“Nossa maior preocupação é garantir que tudo o que é apresentado no material de marketing esteja alinhado à realidade da entrega”, explica, estabelecendo que a empresa desenvolve perspectivas e imagens fiéis aos acabamentos e à experiência real do espaço, mas mantém o decorado físico como centro da decisão. “Nada substitui o encantamento de entrar no ambiente e sentir a luz, os materiais, a amplitude”, diz.
. Sustentabilidade e inovação
E há ainda aspectos em que a tecnologia foi se consolidando como aliada, como o das metas de sustentabilidade, que englobam ações do canteiro de obras a todo ciclo de vida do empreendimento.
. A Caparaó, por exemplo, conjuga em seus projetos esses dois atributos – sustentabilidade e inovação – em uma trajetória marcada pela inovação. Lodi relembra que o edifício Lolita (2008) já nascia com automação residencial; que o Amadeus (2007) foi pioneiro em inteligência tecnológica; que o Domani, com sua fachada de LED, marcou o bairro de Lourdes; e que o empreendimento Concórdia, com 170 metros de altura, revolucionou o setor ao ser o maior prédio em estrutura metálica da América Latina. “Inovação faz parte do nosso DNA”, afirma. O Reserva Green, atualmente em execução, preserva uma área de mata nativa dentro do próprio terreno.
. Trajetória similar percorre a Conartes, que usa elevadores inteligentes, irrigação automatizada, sensores de presença e medição individualizada para ajudar a reduzir desperdícios e consumo energético. “Construir bem é também construir de forma inteligente e responsável”, situa Cançado. Ele destaca ainda sistemas como fachadas ventiladas em granito e persianas automatizadas, que aumentam conforto térmico e reduzem custos ao longo dos anos.
. A Somattos reforça essa sinergia ao utilizar BIM – um modelo digital integrado capaz de prever e evitar erros – aliado ao drywall, que reduz drasticamente o desperdício de materiais e o consumo de água. As fachadas ventiladas, iluminação natural e áreas comuns pensadas para conforto ambiental complementam o conjunto.
. Segurança como desafio
Na mesma medida em que trouxeram soluções, as novas tecnologias impuseram desafios. Nesse sentido, um dos aspectos mais sensíveis a esses processos é a segurança dos dados. “Estamos entre as empresas com maior maturidade em segurança da informação, com processos altamente rigorosos”, afirma Lodi, detalhando que, na Caparaó, proteção e privacidade são prioridades absolutas – não por formalidade, mas por posicionamento de marca.
. O reforço na segurança digital também é um investimento da Somattos. Por lá, os sistemas possuem diferentes níveis de permissão e seguem rigorosamente a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados). Até mesmo a leitura facial nos canteiros opera com controles rígidos de privacidade e uso estritamente operacional.
. A proteção é reforçada por um ERP – sistema de gestão integrado – que controla acessos, anonimiza informações sensíveis e monitora movimentações internas, na Conartes. “Segurança não é apenas exigência legal, é compromisso contínuo com a privacidade e a experiência dos nossos clientes”, defende Cançado.
. Futuro
Ainda que lidando com novos desafios, as expectativas para o futuro soam entusiásticas e parecem convergir para um mesmo horizonte: mais dados, mais automação, mais interatividade m e mais protagonismo da Inteligência Artificial, sem dispensar o humano – visto como basilar em todo esse processo.
. A Conartes vê o BIM e a industrialização como caminhos para elevar produtividade e reduzir desperdícios. A Somattos aposta em IA aplicada à gestão de obras, marketing e atendimento. E a Fataha enxerga a união entre IA e robótica como um salto decisivo: “lNão é substituição do humano, mas uma forma de nossa equipe produzir mais, com menos energia e tempo”.
Alexandre Lodi, da Caparaó, arremata: “No fim, vendemos muito mais que imóveis. Vendemos projetos de vida, pertencimento e realização. Moramos em lares, não em unidades; construímos memórias, não apenas metragem. E é justamente nessa união entre tecnologia e humanidade que enxergamos o futuro do setor – um futuro em que a inovação potencializa relações e transforma a forma como as pessoas vivem”.