Revista Encontro

Saúde

Mulher vai ao urologista? Vai, sim senhor!

Doenças do aparelho urinário feminino atingem 50% das mulheres acima dos 40 anos

Daniela Costa
Na menopausa, as chances de incontinência urinária também são maiores: %u201Cisso ocorre devido às alterações hormonais, especialmente, à queda nos níveis de estrogênio, o que pode afetar a mucosa vaginal e a uretra%u201D, explica a urologista Julia Duarte de souza, da Clínica de urologia do Hospital felício rocho, junto à paciente regina Célia Gallo - Foto: Pádua de CarvalhoCom o passar dos anos, é comum que as mulheres experimentem mudanças no funcionamento do aparelho urinário, que podem manifestar-se de forma desconfortável e muitas vezes até mesmo constrangedora. Aos 71 anos de idade, Regina Célia Gonçalves Gallo relata que, a princípio, observou uma dificuldade de ficar sentada com a coluna ereta. Outro sinal de que algo não ia bem foi a sensação de peso e de não esvaziamento da bexiga ao urinar. Ela buscou um especialista, fez o tratamento e agora, recém-operada, conta que já se sente muito melhor: "Não há dor, já me sento normalmente e a urina está regular. Sem dúvida, estou recobrando a minha qualidade de vida", diz. 
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Regina não está sozinha: estudos indicam que cerca de 50% das mulheres acima dos 40 anos enfrentam algum tipo de alteração no aparelho urinário. Sensações como perda involuntária de urina, dificuldade de esvaziar completamente a bexiga e aumento na frequência urinária são queixas frequentes. Esses sintomas podem vir acompanhados de um desagradável odor de urina na roupa íntima, dores no canal da uretra e episódios recorrentes de infecções (cistites), que acabam comprometendo a qualidade de vida da mulher. Por isso mesmo, os especialistas alertam: essas ocorrências não devem ser encaradas como algo normal ou inevitável com o envelhecimento da pessoa. Para cada caso, existe um tratamento adequado.
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Em primeiro lugar é preciso entender qual a origem do problema. Apesar de ser mais predominante em pessoas já adultas, as alterações do trato urinário também podem acometer jovens e crianças. De modo geral, fatores como alterações hormonais durante a menopausa, enfraquecimento do assoalho pélvico devido à gravidez ou ao parto, hábitos de vida inadequados e infecções frequentes contribuem para o surgimento de doenças. Entre elas a incontinência urinária - que pode ser de esforço, urgência ou mista -, a retenção urinária e os cálculos renais que causam dores intensas, impactando não apenas a saúde física, mas também o bem-estar emocional e social da mulher. Em todos os casos, a prevenção e o tratamento precoce continuam sendo a melhor opção: "Aos primeiros sinais de dor ao urinar, sangue na urina, aumento da frequência urinária, sensação de peso na região pélvica ou qualquer desconforto, busque ajuda de um especialista", afirma o urologista Geraldo Magela de Queiroz Tavares, das clínicas UroVila e Urolaser, especialista em cirurgia robótica.
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"Aos primeiros sinais de dor ao urinar, sangue na urina, aumento da frequência urinária, sensação de peso na região pélvica ou qualquer desconforto, busque ajuda de um especialista", orienta o urologista Geraldo Magela Tavares - Foto: Pádua de CarvalhoA boa notícia, diz ele, é que a medicina, através da urologia, oferece soluções eficazes para a maioria dos casos. Outro avanço é que cada vez mais as mulheres estão buscando profissionais especializados na área, já que embora a especialidade médica muitas vezes seja associada apenas à saúde masculina, ela também desempenha um papel fundamental no cuidado do aparelho urinário feminino. "Pelo fato de o urologista tratar o sistema genital masculino, criou-se a falsa ideia de que a especialidade não é voltada para as mulheres", diz Geraldo Magela. Ele explica que, comparadas aos homens, as mulheres têm muito mais chances de desenvolver doenças, o que pode ser explicado pela anatomia do aparelho genital feminino, composto por uretra bastante curta e com grande proximidade da região anal, que, por sua vez, é colonizada por bactérias do intestino.
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A urologia se dedica ao diagnóstico, tratamento e prevenção de doenças que afetam os rins tais como tumores e cálculos renais, ureteres, bexiga e uretra, além de cuidar de condições relacionadas ao assoalho pélvico. Os tratamentos incluem mudanças de hábitos - a começar pela melhora da saúde intestinal -, sempre urinar após as relações sexuais, não utilizar ducha vaginal, manter uma boa hidratação diária, fazer exercícios para fortalecimento do assoalho pélvico (como os de Kegel), até tratamentos mais específicos, como uso de medicações e, em alguns casos, intervenções cirúrgicas. Outra dica dos especialistas é fazer a higiene da região íntima apenas uma vez por dia, assim o PH se mantém ácido e protege a área de possíveis infecções. "Exagerar na limpeza da região íntima pode levar a um desequilíbrio na flora bacteriana local e, paradoxalmente, favorecer o surgimento de infecções urinárias", afirma a urologista Julia Duarte de Souza, da Clínica de Urologia do Hospital Felício Rocho. 
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%u201CPromover a conscientização das mulheres de que perder urina, entre outros sintomas, não é normal e nem é parte do envelhecimento, faz com que se sintam incentivadas a procurar assistência médica%u201D, diz a uroginecologista Marilene Vale de Castro Monteiro, do Hospital Madre Teresa - Foto: Pádua de CarvalhoA médica também explica por que a gestação é um dos fatores de risco para a incontinência urinária, independentemente do tipo de parto: "O corpo da mulher passa por várias mudanças hormonais e fisiológicas nesse período, como o aumento do peso, o crescimento do útero e a pressão exercida sobre a bexiga e os músculos do assoalho pélvico", diz. Na menopausa as chances de incontinência urinária também são maiores. "Isso ocorre devido às alterações hormonais, especialmente, à queda nos níveis de estrogênio, o que pode afetar a mucosa vaginal e a uretra.". 
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Da ginecologia e urologia nasceu a uroginecologia, área médica que cuida dos sintomas do trato urinário baixo da mulher e do assoalho pélvico. Mesmo ainda não sendo reconhecida pela Associação Médica Brasileira (AMB), a especialidade tem trazido vários benefícios para as mulheres. "Por isso solicitamos o seu reconhecimento juntamente com a Associação Brasileira de Uroginecologia e Assoalho Pélvico (Uroginap) e a Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo)", diz Marilene Vale de Castro Monteiro, ginecologista e obstetra no Hospital Madre Teresa. Ela acredita que a implantação dessa futura área de atuação é muito importante, considerando o alto índice de mulheres com problemas no aparelho urinário: "Falar que se perde urina é muito triste para a mulher e, às vezes, dizer isso para um profissional do gênero masculino é ainda mais complicado". O assunto é tão sério que, em 2022, um projeto de lei no Senado Federal promulgou o Dia Nacional de Conscientização da Incontinência Urinária. "Promover a conscientização das mulheres de que isso não é normal e nem parte do envelhecimento, faz com que se sintam incentivadas a procurar assistência médica", diz a especialista.

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