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Estado de Minas ENTREVISTA | HILMA NOGUEIRA DA GAMA

Hospital Madre Teresa faz campanha de prevenção de câncer colorretal

Tumor é o 3º tipo mais comum entre os homens e o 2º entre as mulheres


postado em 29/04/2016 08:29 / atualizado em 29/04/2016 08:44

A coloproctologista Hilma Nogueira da Gama, médica do Hospital Madre Teresa, de Belo Horizonte, fala sobre o câncer colorretal, que vem crescendo no país(foto: Denis Medeiros/Encontro)
A coloproctologista Hilma Nogueira da Gama, médica do Hospital Madre Teresa, de Belo Horizonte, fala sobre o câncer colorretal, que vem crescendo no país (foto: Denis Medeiros/Encontro)
Estimativas mundiais apontam o câncer colorretal como o terceiro tipo mais comum entre homens e o segundo em mulheres, respondendo por aproximadamente 10% do total de tumores malígnos. No Brasil, a previsão é de cerca de 35 mil novos casos em 2016. Não é pouco. E ainda tem mais: o número de pacientes com menos de 50 anos tem crescido 2% ao ano, segundo a coloproctologista Hilma Nogueira da Gama, coordenadora do serviço de coloproctologia do hospital Madre Teresa.  Em seu consultório, no ano passado, a maioria dos pacientes que se submeteram à cirurgia eram de pessoas mais jovens. A mudança do perfil, de acordo com a especialista, tem a ver com o estilo de vida atual e, especialmente, com a má alimentação. No entanto, ela também traz boas notícias: além de se poder evitar a doença por meio de uma rotina mais saudável, esse tipo de câncer é totalmente evitado por meio do exame de colonoscopia. Através do procedimento, é possível identificar e retirar os pólipos que podem, no futuro, se transformar em tumores. Isso quer dizer que, caso a prevenção fosse amplamente difundida no país, não haveria novos casos da doença, pois todos seriam identificados antes de acontecerem.

É por isso que a médica está à frente da Campanha de Prevenção do Câncer de Intestino no hospital Madre Teresa. De 2 a 31 de maio, uma equipe estará disponível, de segunda a sexta, das 18h às 21h, para realizar todas as etapas da prevenção: consulta com o coloproctologista (em que é feito o exame retal), e, se necessário, com o anestesista e o colonoscopista – saindo de lá com a colonoscopia já agendada. O processo, se feito fora da campanha, demora cerca de três meses. Uma facilidade, segundo Hilma, para dar chance às pessoas de se cuidar. "Prevenir é melhor que remediar. Nenhum preconceito pode nos atrapalhar de viver felizes e saudáveis".

ENCONTRO – Primeiramente, vamos esclarecer: o que é o câncer colorretal?
HILMA NOGUEIRA DA GAMA – É o tumor no cólon ou no reto. Existe o intestino delgado e o intestino grosso, mas nosso foco é o grosso, pois é muito raro haver câncer no delgado. O intestino grosso se divide entre a parte de baixo, perto do ânus, chamada reto, e a de cima, chamada cólon.

Por que a senhora diz que a doença está mudando de perfil em relação ao público afetado?
O câncer colorretal já foi uma doença de pessoas idosas, mas hoje não é mais. Estamos vendo o número de pacientes mais jovens aumentar 2% ao ano. Isso é uma estatística americana. Atualmente, pessoas com menos de 50 anos já representam 30% das cirurgias. É muito! Era raro ter pessoas jovens com tumor no intestino, mas hoje já se operam pessoas abaixo de 50 anos com certa frequência. No meu consultório isso se confirma. No ano passado eu operei mais pessoas abaixo dos 50 do que pacientes idosos.

E por que está acontecendo essa mudança no perfil dos pacientes?
Pelo nosso estilo de vida. Dieta, agrotóxicos, químicos na comida, nitritos e nitratos usados para manter a carne com aspecto saudável Fora outros elementos que nós ainda desconhecemos.

Alimentação seria o mais importante fator para acometimento desse câncer?
Sim, o mais importante. E para preveni-lo, a pessoa deve ingerir muita fibra, comer carne vermelha com moderação [um bife do tamanho da palma da mão por dia, não mais que isso] e diminuir as gorduras. Além disso, é preciso ingerir muita salada, quatro porções de fruta por dia. E muito líquido.

Quais são os principais vilões da alimentação, que deveriam ser cortados da dieta?
Corantes, conservantes, embutidos... Mas nem acho que seja necessário cortar, e sim controlar. Não é preciso ficar sem comer o que gosta, a pessoa também tem que viver a vida. Mas o que recomendo é moderação, ingerir fibras, fazer exercícios físicos e realizar os exames de prevenção. Por isso eles são tão importantes. Porque o câncer de intestino é previsível, então é preciso insistir nisso. Se não podemos viver em outro mundo, comer outra comida, podemos, sim, prevenir.

Quais são os sintomas do câncer de intestino?
Sangue nas fezes – e não precisa ser muito –; gosma, parecida com clara de ovo; e água cor de rosa no vaso. Isso tudo é sutil e pode ser difícil de perceber. Então a pessoa tem que prestar atenção, tem que ter o hábito de observar as fezes. Outro sintoma pode ser uma diarreia que não passa, ainda que não tenha havido mudança na alimentação. Se a pessoa tem intestino normal e de repente a barriga começa a inchar, o intestino começa a ficar preso ou ela fica cheia de gases pode ser um indicativo.

E qual é o procedimento que a pessoa deve seguir, caso perceba algum desses sintomas?
Primeiramente, ela precisa saber qual médico procurar: o coloproctologista. Tem gente que nem conhece a especialidade. E aí esse médico irá examiná-la. Ele faz o exame de toque e, com um aparelho, consegue examinar parte do reto de uma vez. Só com isso, às vezes, já é possível identificar se existe alguma suspeita. Então é importante ressaltar que essa é a primeira etapa, porque tem gente que faz a colonoscopia, guarda o resultado na gaveta e acha que fez a prevenção. Não fez. A prevenção começa com o exame do ânus e do reto, no consultório médico. Uma vez feito esse exame, alguns terão que fazer a colonoscopia em seguida [se estiverem sentindo algum sinal de que têm algo no intestino, se foi encontrado algo no exame do reto, se há histórico familiar desse tipo de câncer, se a pessoa tem sangramento e não tem hemorroida, se tem anemia e não sabe o motivo etc.].
Hilma Nogueira da Gama:
Hilma Nogueira da Gama: "O câncer colorretal já foi uma doença de pessoas idosas, mas hoje não é mais. Estamos vendo o número de pacientes mais jovens aumentar 2% ao ano" (foto: Denis Medeiros/Encontro)

As pessoas têm o hábito de procurar o médico quando percebem algum desses sintomas?
Não. Essa é a importância de divulgar o tema e essa questão do paciente jovem, que está passando batida. Tenho pacientes de 30 e poucos anos que demoraram um ano para chegar até meu consultório. Vão ao ginecologista, ouvem que "não é nada". Passam pelo clínico, que diz que "a diarreia deve ser intolerância à lactose". Se é anemia, atribuem à menstruação excessiva. Até que acontece algo mais grave – uma delas desmaiou na aula de dança, por exemplo – e, depois de extensos exames no hospital, descobrem o tumor no intestino.

E a prevenção, no caso do intestino, consegue evitar o câncer...
Sim, é um câncer 100% previsível. A colonoscopia é muito detalhista e já vai reconhecendo e retirando os pólipos, quando estes são encontrados. Em seguida, são enviados para análise, onde se saberá se eles são adenomatoides [que viram câncer] ou hiperplásicos [que não viram]. E a partir daí se estabelece o controle. Diferentemente de outros cânceres, como o de mama ou de próstata, que já são encontrados como câncer em si (exigindo que a pessoa retire o tumor, faça tratamento), no caso do intestino ele dá essa chance à pessoa, porque leva cinco anos para crescer o pólipo e se transformar em tumor. Dá tempo de fazer o exame, retirar o pólipo e resolver seu caso. Se não fosse a ausência do exame na rede pública e o pavor da colonoscopia que as pessoas têm, não haveria mais câncer de intestino. Sendo que ele é o terceiro mais comum no mundo. E não é apenas no Brasil: no mundo todo existe essa falta de atenção com a prevenção.

Fale sobre a campanha do mês de maio no hospital Madre Teresa.
Serão atendimentos todas as noites, das 18h às 21h, com consultas agendadas pelo telefone. Não são do SUS, mas lá são aceitos mais de 60 convênios. É uma equipe de mais ou menos 15 pessoas, sendo seis coloproctologistas. E vamos oferecer as três etapas do exame de prevenção em uma única noite: a pessoa vai passar pelo coloproctologista, fará o exame do reto, e, caso seja necessário, passará para a consulta com o anestesista [que avalia a possibilidade de sedação para a colonoscopia] e com o colonoscopista. A única coisa que não é feita no dia é a colonoscopia em si, mas o paciente já sai de lá com ela agendada e com o preparo – esse processo, fora da campanha, demoraria cerca de três meses. Fizemos essa campanha em 2013 e foi um sucesso, foram mais de 800 pessoas atendidas.

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