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Estado de Minas MEIO-AMBIENTE

Pesquisadores conseguem cultivar arroz na lama da tragédia da Samarco

O solo se mostrou com baixa concentração de substâncias tóxicas e de nutrientes


postado em 14/06/2018 11:29 / atualizado em 14/06/2018 11:41

Um estudo da USP cultivou arroz em lama retirada do desastre ambiental de Bento Rodrigues (MG), do rompimento da barragem de resíduos da mineradora Samarco em 2015(foto: Antônio Cruz/Agência Brasil/Divulgação)
Um estudo da USP cultivou arroz em lama retirada do desastre ambiental de Bento Rodrigues (MG), do rompimento da barragem de resíduos da mineradora Samarco em 2015 (foto: Antônio Cruz/Agência Brasil/Divulgação)
Especialistas da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da USP e da Universidade Federal do ABC (UFABC) realizaram estudos preliminares na lama de resíduos da barragem do Fundão, da mineradora Samarco, que se rempeu em 2015, mostram baixas concentrações de substâncias tóxicas, mas também de nutrientes. Eles avaliaram o solo e a lama do distrito de Bento Rodrigues, no município de Mariana (MG). Os resultados, publicados na revista científica Chemosphere, em fevereiro de 2018, indicam que é possível o uso da terra afetada pelo desastre ambiental para agricultura e para o reflorestamento, desde que seja feita a correção do solo.

A equipe, liderada pelo professor Bruno Lemos Batista, da UFABC, esteve em Bento Rodrigues logo após o desastre, e coletou amostras de solos, não atingidos pela lama, e de lama, vinda da barragem do Fundão. Logo nas primeiras análises comparativas, para medir níveis de metais na lama, verificaram que ela era mais pobre que o solo natural da região, tanto em elementos tóxicos quanto em essenciais.

Essas informações agora foram confirmadas por testes com o cultivo de arroz. Como se trata de um alimento básico para o consumo humano, conhecido pelo acúmulo de substâncias tóxicas, os pesquisadores decidiram plantar arroz nas amostras de lama.

Segundo o professor, o arroz pode acumular arsênio, chumbo, cádmio e mercúrio. Sabendo que o desastre espalhou cerca de 50 milhões de m³ de resíduos de mineração de ferro no ambiente, incluindo rios e áreas agrícolas, "essa foi uma forma de verificar se a lama poderia contaminar os grãos", argumenta Batista ao Jonral da USP.

Para os que acreditavam que a situação seria pior, as análises mostram que o arroz cultivado na lama residual da Samarco produziu grãos com baixos teores de arsênio, chumbo e cádmio. Mas se os componentes tóxicos são baixos, o mesmo vale para os nutrientes. O pesquisador afirma que o "excesso de lama durante o cultivo reduziu o crescimento das raízes e o rendimento dos grãos". Também ficaram menores nos cultivos de lama, as quantidades dos corantes naturais clorofilas e carotenóides.

Considerando os parâmetros agronômicos do cultivo do arroz na lama de resíduos da mineradora, Bruno Batista conta que as alterações da planta estão relacionadas à deficiência de nutrientes e às propriedades físicas da lama. Para compensá-las, os pesquisadores adubaram o solo com matéria orgânica e utilizaram solo sedimentar, o que proporcionou melhores condições para o desenvolvimento das plantas.

Extrapolando os experimentos para a condição real do solo alagado de Bento Rodrigues, o especialista acredita que o fato de não terem encontrado metais potencialmente tóxicos nos grãos de arroz torna viáveis a agricultura e o reflorestamento na terra afetada pelo desastre, sendo necessária a correção do solo em relação a nutrientes e matéria orgânica. Mesmo assim, o professor lembra que cada planta tem necessidades diferentes.

(com Jornal da USP)

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