Publicidade

Estado de Minas MEIO-AMBIENTE

Uirapuru é mesmo um sentinela da floresta amazônica

Estudo comprova ação de proteção da ave que tem o canto muito característico na Amazônia


postado em 07/06/2018 11:58 / atualizado em 07/06/2018 12:02

O uirapuru-de-garganta-preta foi confirmado, pro um estudo americano, como uma ave que
O uirapuru-de-garganta-preta foi confirmado, pro um estudo americano, como uma ave que "trabalha" como sentinela de outros pássaros da Amazônia (foto: Flickr/chrysoptera/Reprodução)
Os moradores da Amazônia chamam o raro pássaro uirapuru de "sentinela da floresta". Esse apelido, finalmente, pode ter mesmo um sentido prático. Pesquisadores da Universidade Estadual de São Francisco, nos Estados Unidos, descobriram que, na floresta amazônica, várias espécies de aves adquiriram o hábito de voarem juntas, mas para uma função acima da "fraternidade": essa formação funciona como um mecanismo de proteção. Um deles trabalha como vigia, cantando um alarme quando há a aproximação de predadores. Dessa forma, os vizinhos escapam juntos do perigo.

O pássaro-chave é justamente o uirapuru-de-garganta-preta (Thamnomanes ardesiacus), que tem em média 14 cm de comprimento e pesa cerca de 18 g. No estudo, os cientistas coletaram dados sobre o número de espécies que haviam em oito conjuntos mistos no sudeste do Peru e colocaram pulseiras coloridas nas aves. "Isso nos ajudou a identificar os membros do bando individualmente no caso de eles se mudarem para grupos vizinhos ou outras partes da floresta", explica Eliseo Parra, um dos autores da pesquisa, no artigo divulgado em maio na revista científica Ecology.

O passo seguinte da equipe americana foi capturar aves vigilantes dos oito rebanhos e separá-las do grupo durante três dias. Poucas horas depois da captura, os demais pássaros começaram a reagir. "Os bandos de espécies mistas alteraram o local onde se alimentavam durante o dia e usaram diferentes partes da floresta após a remoção", comenta Eliseo. Três bandos recuaram para áreas da floresta com cobertura mais densa, e os outros cinco se juntaram a outros grupos em áreas que ofereciam mais proteção contra predadores (como falcões).

Para Eduardo Santos, professor do departamento de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP), o uirapuru-de-garganta-preta é considerada uma espécie sentinela por produzir vocalizações de alarme quando percebe a presença de aves de rapina predadoras. Os grupos de animais ocupam uma camada intermediária na floresta tropical, não tão perto do solo nem da cobertura das árvores. "Muitos artigos científicos sugerem que essa área é muito arriscada. Há mais oportunidades para o predador se esconder e ainda ter uma rápida rota de voo", diz o professor.

Outra constatação do estudo americano é de que, com a remoção da ave sentinela, a revoada de pássaros mudou de configuração. Animais trocaram de hábitat ou de bando. Dessa forma, mesmo não tendo muito impacto no ambiente físico, o uirapuru tem influência sobre comportamento de muitos outros pássaros. "Às vezes, até mais de 60 espécies o seguem e respondem aos seus alarmes. Nosso estudo ajuda a entender como complexas relações comportamentais e ecológicas entre as espécies podem impulsionar as comunidades de animais da floresta tropical", diz o pesquisador americano.

Segundo Eduardo Santos, o principal benefício para as espécies seguidoras da famosa ave amazônica é o aumento na taxa de forrageamento. "Ou seja, esses indivíduos se beneficiam por poder gastar menos tempo levantando a cabeça para ver se não há nenhum predador por perto e podem passar mais tempo com a cabeça no meio do folhiço ou das folhas procurando alimentos", diz Eliseo Parra.

Os comentários não representam a opinião da revista e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação

Publicidade