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Estado de Minas SAÚDE

Aplicativos ajudam no tratamento da depressão

Cientistas criam softwares capazes de complementar as terapias


postado em 30/07/2018 14:28 / atualizado em 30/07/2018 14:42

(foto: Pixabay)
(foto: Pixabay)
Aproveitando a facilidade de acesso aos dispositivos móveis e a ampla disponibilidade de redes como 3G, 4G e wifi, pesquisadores investem em plataformas e softwares que auxiliem pacientes com transtornos mentais como depressão – doença que afeta 300 milhões de pessoas no mundo e é principal causa de incapacidade no trabalho.

A ideia de usar smartphones e tablets não é substituir os profissionais de saúde, mas complementar o tratamento, afirmam os cientistas, já que atingem o paciente nos pontos em que a abordagem tradicional não costuma surtir efeito.

É o caso do aplicativo Outcome Feedback, desenvolvido por pesquisadores europeus, sob a liderança do instituto Wellcome Trust, da Inglaterra. "Os pacientes que não respondem bem à terapia geralmente largam o tratamento depois de poucas sessões. A tecnologia que desenvolvemos identifica problemas precocemente, com precisão, e permite que os terapeutas fiquem mais atentos às dificuldades e aos obstáculos que os pacientes precisam enfrentar", explica o psicólogo Jaime Delgadillo, da Universidade de Sheffield, no artigo de divulgação do estudo, publicado na revista científica The Lancet Psychiatry. Ele conta que o sistema usa o feedback do usuário para identificar rapidamente aqueles em risco de piora, o que faz por meio do rastreamento dos sintomas como interrupção no ciclo de sono, perda de apetite, sensação de cansaço, dificuldades para relaxar, entre outros.

A pesquisa foi realizada com mais de duas mil pessoas em oito centros de tratamento para a depressão na Inglaterra. Com os dados fornecidos pelos pacientes, o terapeuta os insere no software, que gera gráficos mostrando alterações do nível sintomático do usuário. O app possui um algoritmo que compara o estado de ânimo da pessoa com o que seria esperado para aquela etapa do tratamento e avisa o especialista caso a resposta esteja aquém do esperado. No estudo inglês, o uso do software reduziu em 74% a probabilidade de o paciente piorar e, assim, abandonar o acompanhamento profissional.

Uma das vantagens das ferramentas tecnológicas é poder acompanhar o paciente 24 horas por dia, oferecendo uma rápida resposta, algo impossível de ser feito pelas vias convencionais. A maioria dos aplicativos de celular na área da saúde mental explora essa funcionalidade, e os resultados de estudos indicam que, sendo amparado em tempo real, o paciente tem mais chances de melhorar, além de aderir mais ao tratamento. "No caso daqueles que têm indicação de acompanhamento semanal, podemos perder até metade dos pacientes quando pedimos que venham à clínica com frequência", afirma Dror Ben Zeev, professor de psiquiatria e ciência comportamental da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, em comunicado enviado à imprensa. "Dependendo da qualidade, uma abordagem móvel pode ser não só mais acessível, mas clinicamente tão útil quanto sessões de terapia em grupo conduzidas pessoalmente", completa o pesquisador.

Zeev é autor de um estudo publicado recentemente na revista Psychiatric Services e que avaliou um aplicativo chamado Focus, voltado a pacientes com depressão severa, transtorno bipolar e esquizofrenia. Dos 163 voluntários que participaram da pesquisa, 90% utilizaram o app ao menos uma vez. Ao mesmo tempo, somente 58% compareceram à sessão de terapia em grupo nessa mesma frequência. Segundo o professor, a maior vantagem da ferramenta é a conveniência de ter disponível o atendimento em qualquer lugar e a qualquer momento, algo que é essencial quando se sofre com sintomas como alucinações, alterações de humor e abuso de medicamentos, entre outros.

"As doenças mentais graves afetam aproximadamente 4% da população. Com o suporte apropriado, essas pessoas podem ter vidas produtivas e satisfatórias. Porém, o momento em que mais precisam gerenciar a doença geralmente é aquele em que elas evitam procurar ajuda, pois têm medo de ser estigmatizadas e rotuladas ou mesmo pela dificuldade de acesso a clínicas", afirma Dror Zeev. O Focus é uma intervenção voltada para pacientes com esse perfil, que oferece um aplicativo e assistência de especialistas em saúde mental.

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