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Estado de Minas MEIO-AMBIENTE

Uso de ar-condicionado está piorando a mudança climática

Aparelhos demandam mais energia e a poluição das termelétricas fará mais mortes até 2050, diz estudo


postado em 09/07/2018 11:49 / atualizado em 09/07/2018 11:45

(foto: Pixabay)
(foto: Pixabay)
Apesar de ajudar a amenizar as altas temperaturas dos ambientes durante o Verão, o ar-condicionado também contribui para deixar a Terra ainda mais quente. Um estudo da Universidade de Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos, publicado na revista científica Plos Medicine, mostra que as consequências do uso cada vez maior desses aparelhos vão muito além do preço da conta de energia.

Na análise, os pesquisadores combinaram projeções de cinco modelos diferentes para prever o aumento do consumo da energia no Verão e calcularam como isso afetaria o uso de combustíveis fósseis, a qualidade do ar e, consequentemente, a saúde humana daqui a poucas décadas. "O que descobrimos é que a poluição do ar vai piorar. Há consequências na adaptação do homem às futuras mudanças climáticas", destaca o pesquisador David Abel, principal autor do estudo, no artigo de divulgação.

Com base nos cenários avaliados, os cientistas constataram que, sozinho, o ar-condicionado será responsável pelo aumento da mortalidade nos Estados Unidos, país onde o estudo foi realizado, e cuja principal matriz energética são combustíveis fósseis. O padrão americano também se repete pelo mundo: mais de 80% da energia não é renovável e 60% vêm de fontes poluentes, como carvão e petróleo. No Brasil, carvão e derivados do petróleo constituem somente 6,6% da matriz energética, e 68,1% da energia é produzida pela água, segundo dados do Ministério de Minas e Energia. Contudo, somos uma exceção no planeta.

A equipe da Universidade de Wisconsin-Madison calculou que o incremento das emissões de gases poluentes das termelétricas, causado pela demanda por ar-condicionado, pode aumentar de 4,8% a 8,7% a mortalidade associada à poluição atmosférica em 2050. A queima de combustíveis fósseis gera um subproduto invisível, mas muito prejudicial à saúde: o material particulado. São finas partículas que, suspensas no ar, acabam sendo inaladas e, em grandes quantidades, afetam os sistemas respiratório, imunológico e cardiovascular.

Mortalidade

"Nós descobrimos que as concentrações de material particulado fino e de ozônio vão aumentar 6,7%, apenas devido ao uso extra de ar-condicionado", observa o professor Jonathan Patz, um dos autores do estudo, no mesmo artigo. "Consistentemente com outros estudos, calculamos que as mudanças climáticas, sozinhas, causarão cerca de 13 mil mortes prematuras a mais no verão, associadas ao material particulado, e três mil relacionadas ao ozônio. Essa análise destaca a necessidade por fontes mais limpas de energia, eficiência energética e conservação energética para atender à nossa crescente dependência dos sistemas de refrigeração de prédios, ao mesmo tempo em que se mitiga a extensão das mudanças climáticas", acredita o pesquisador americano.

Patz ressalta que durante um Verão muito quentes, como o que vem sendo vivenciado no Hemisfério Norte em 2018, não há dúvidas de que o ar-condicionado pode salvar vidas, especialmente porque se estima que as ondas de calor vão aumentar em intensidade e frequência. Porém, ele destaca que se esse benefício é anulado pela quantidade de pessoas que morrerão prematuramente em consequência da poluição atmosférica. "Nós só vamos trocar de problema. Se nossa nação [EUA] continuar a depender de uma matriz baseada em carvão, cada vez que ligarmos o ar-condicionado sujaremos a atmosfera, causando mais doenças e mortes", alerta o cientista.

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