Publicidade

Estado de Minas ECONOMIA

Produtos à base de trigo estão mais caros

Brasil importa 50% da demanda do grão, que sofre com valorização do dólar


postado em 14/09/2018 09:52 / atualizado em 14/09/2018 10:05

(foto: Pixabay)
(foto: Pixabay)
Desde julho, os preços de produtos à base de trigo, como massas alimentícias, pães e biscoitos, além da própria farinha de trigo, já tiveram aumento de até 10% no Brasil, segundo estimativas de entidades do setor. O percentual representa cerca de 40 vezes a variação da inflação média dos últimos dois meses, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que subiu 0,24% entre julho e agosto.

A principal explicação para a inflação dos alimentos à base de trigo está na dependência externa que nosso país tem do produto, além das recentes oscilações do dólar e do preço da commoditie no mercado internacional. O trigo é um dos poucos grãos que o Brasil precisa importar de outros países para abastecer o mercado doméstico.

Pelos dados mais recentes da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o país deve produzir 5,2 milhões de toneladas de trigo em 2018 e comprar do exterior mais 6,3 milhões de toneladas, a maior parte oriunda da Argentina, seguida de países como Estados Unidos, Paraguai, Uruguai e Rússia.

Economistas confirmam o cenário descrito pelos produtores do setor. "No caso do trigo, o Brasil importa mais da metade da demanda interna. Assim, maiores taxas de câmbios terão impacto direto sobre os mercados atacadista e varejista. Além disso, no primeiro semestre de 2018, os preços internacionais subiram, diante da menor oferta mundial. O Brasil também foi impactado pelos maiores preços na Argentina, diante das incertezas quanto ao tamanho da safra desta temporada", explica o professor Lucílio Alves, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP).

O preço do trigo, que é um dos principais produtos negociados na Bolsa de Chicago, nos EUA, chegou a atingir US$ 197,80 (cerca de R$ 819) por tonelada em agosto, o maior valor desde julho de 2015. Na parcial de setembro, o preço caiu um pouco, para US$ 181 (R$ 749,34), mas ainda bem superior à média do início do ano (US$ 158,91 por tonelada em janeiro).

Além disso, como o preço internacional do produto é calculado em dólar, a desvalorização do real aumenta seu custo de importação. No ano, o dólar se valorizou ante ao real em 22,86%, no acumulado até agosto. Somente no mês passado, essa valorização foi de 8,45%.

Preço por produto

De acordo com Cláudio Zanão, presidente-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias, Pães e Bolos industrializados (Abimapi), os maiores aumentos acumulados desde julho afetam principalmente o macarrão e o pão de forma, que tiveram cerca de 10% de aumento no período. Esses alimentos foram os mais afetados porque o volume da farinha de trigo empregada na produção representa entre 60% e 70% do custo final do produto.

No caso do biscoito, cuja farinha de trigo representa cerca de 30% do custo, o aumento no preço foi de cerca de 5% nesse período, de acordo com Zanão. Segundo ele, esses aumentos foram, em média, o repasse da indústria e dos supermercados para o consumidor final no varejo. O dirigente também afirma que a elevação do preço do trigo ainda não se estabilizou.

"Infelizmente, a má notícia é essa. O trigo aumentou, mas não quer dizer que [o aumento] já acabou. Se o mercado internacional continuar oscilando e o câmbio também continuar oscilando para cima, os preços tendem a aumentar mais", afirma o presidente da Abimapi, para quem esses aumentos já devem estar repercutindo no bolso do consumidor. "Quando você aumenta preço no varejo, diminui o consumo, por isso que supermercado não gosta de aumentar preço, mas já foram reduzidas todas as margens e o repasse começa a ser inevitável".

O repasse da alta do trigo ao consumidor também está sendo absorvido, em parte, pelos moinhos. "Houve um pequeno repasse no custo do trigo para o mercado interno, mas é difícil porque impacta no consumo e a economia ainda está desacelerada", reconhece Rubens Barbosa, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo).

O empresário diz ainda que só não houve uma disparada maior nos preços porque este mês começa a colheita da safra brasileira do produto nos estados Paraná e no Rio Grande do Sul, que são os dois principais produtores do país.

(com Agência Brasil)

Os comentários não representam a opinião da revista e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação

Publicidade