Estado de Minas ARTES VISUAIS

Exposição "Faina" ocupa o Museu de Artes e Ofícios até 1º de junho

A exposição propõe um encontro entre arte, memória e os saberes do fazer manual, por meio das obras de Dalber de Brito e Julia Gallo


postado em 20/05/2025 09:56 / atualizado em 20/05/2025 10:16

Mostra reúne obras de Dalber de Brito e Julia Gallo(foto: Divulgação)
Mostra reúne obras de Dalber de Brito e Julia Gallo (foto: Divulgação)
Entre gestos antigos e materiais que carregam memórias, a exposição Faina propõe um encontro entre o passado e o presente por meio da arte. Em cartaz até 1º de junho no Museu de Artes e Ofícios, em Belo Horizonte, a mostra reúne obras de Dalber de Brito e Julia Gallo, com curadoria de Lorraine Mendes. O ponto de partida é o fazer manual — não apenas como técnica, mas como linguagem que atravessa tempos, corpos e territórios.

A exposição nasce do diálogo entre os dois artistas, cujas trajetórias têm como eixo comum o interesse pelos processos manuais e pelas histórias inscritas nos materiais. Para a curadora, Faina “é a construção das memórias, o ressoar das vozes ancestrais que falam através do trabalho, da lida com a terra e com os rios, do cantar das aves ao amanhecer e do peso da noite ao cair. Não é só o que fazemos, mas o que somos. Faina é, no fim, o tecido invisível que une os dias, tecendo os destinos de todos que dela fazem parte.”

Julia Gallo apresenta trabalhos em que o desenho aparece como estrutura, mas se desdobra em suportes diversos, como papel, carvão e alumínio. A artista explica que, embora pense graficamente, os materiais conduzem boa parte do processo: “Para mim é muito importante respeitar a natureza de cada material, suas possibilidades e seus limites. O carvão é muito mutável, tem essa sujeira meio indomável que te obriga a trabalhar junto com ela. Os recortes de papel, por outro lado, já têm essa precisão do corte e outro tipo de textura. O alumínio oferece a possibilidade de trabalhar com relevo. Todos os trabalhos da exposição têm em comum esse casamento da imagem com o material, que para mim é essencial.”

Dalber de Brito, por sua vez, utiliza esculturas e instalações para explorar temas como pertencimento, resistência e a relação com o território. Inspirado por vivências em Sabará (MG), o artista incorpora técnicas tradicionais — como marcenaria, costura e ourivesaria — para construir narrativas visuais que tensionam os limites entre arte e ofício. “No meu trabalho artístico eu recorro a várias práticas manuais de ofícios, que para mim ultrapassam o conceito do simples labor. A marcenaria, a ourivesaria, a costura, a luthearia são fazeres que sempre estiveram no feitio da arte. Além disso, minha relação com vários materiais se dá a partir de vivências profissionais, como é o caso da madeira, tão presente em minhas obras. Os gestos do trabalhador se confundem aos gestos artísticos quase de maneira performativa”, diz o artista. “Expor meus trabalhos num museu com esse foco, como é o Museu de Artes e Ofícios, é também me reconhecer como trabalhador. Uma alegria e também uma responsabilidade de ter minha obra associada a um acervo tão valioso.”

Ao ocupar o Museu de Artes e Ofícios, a mostra amplia o diálogo com a memória do trabalho e dos trabalhadores. O acervo da instituição, composto por ferramentas, objetos e registros históricos, serve como pano de fundo simbólico para as obras, que ressoam os saberes transmitidos pelas mãos e pelas práticas manuais. “Receber uma exposição é sempre um encontro. E, quando se trata de Faina, esse encontro se torna um espelhamento. Como se o museu se reconhecesse naquilo que chega, num diálogo entre o ontem e o agora. O labor diário, inscrito nas ferramentas, nos corpos e nos silêncios, encontra eco nos trabalhos de Julia Gallo e Dalber de Brito”, afirma Karla Bittar, gerente de Cultura do SESI Cultura.

A exposição Faina pode ser visitada gratuitamente até 1º de junho, no Museu de Artes e Ofícios, localizado na Praça da Estação, em Belo Horizonte. O espaço funciona de terça a sexta, das 12h às 19h, e aos sábados e domingos, das 11h às 17h.

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