Estado de Minas

Sistema Divina Providência sobe o morro e transforma realidades

Aulas de gastronomia, estética e gestão de negócios ajudam moradores de vilas e aglomerados a mudar de vida e conquistar independência financeira.


postado em 05/05/2025 10:50 / atualizado em 05/05/2025 11:22

Fotos dos alunos dos cursos profissionalizantes em atendimento a comunidade(foto: Divulgação)
Fotos dos alunos dos cursos profissionalizantes em atendimento a comunidade (foto: Divulgação)
Nas vielas estreitas e ladeiras das favelas e aglomerados, onde os desafios são tantos, nascem histórias de superação e recomeço. O Sistema Divina Providência, SDP, acredita que o conhecimento pode ser um passaporte para um futuro melhor e, por isso, leva cursos profissionalizantes até quem mais precisa. Os nove Centros de Formação Profissional estão em pontos estratégicos de Belo Horizonte e de cidades da Região Metropolitana.
 
No Centro de Formação Profissional Rafael Zica Geo, na Vila Ipê Amarelo, em Contagem, a transformação é visível. "Aqui atendemos moradores de toda a região e oferecemos cursos que vão de gastronomia a tecnologia da informação, de corte e costura a gestão de negócios", conta Gérsica Reis, que coordenava a unidade no ano passado e, atualmente, está na coordenação dos cursos profissionalizantes da Cidade dos Meninos, em Ribeirão das Neves. Segundo ela, apenas em 2024, mais de 680 alunos passaram pelos cursos, que atendem desde adolescentes a partir de 12 anos até idosos em busca de uma nova oportunidade.
 
Fotos dos alunos dos cursos profissionalizantes em atendimento a comunidade(foto: Divulgação)
Fotos dos alunos dos cursos profissionalizantes em atendimento a comunidade (foto: Divulgação)
A estratégia não é apenas abrir unidades nas comunidades nas vilas e favelas, mas, também, levar os instrutores até onde os alunos estão. Um exemplo disso acontece no CRAS-Icaivera, onde o curso de Designer de Sobrancelhas está sendo oferecido dentro do próprio espaço comunitário. "Nossa instrutora vai até lá duas vezes por semana. Ela não leva apenas conhecimento, mas também incentivo e esperança", destaca Gérsica.
 
Com 13 anos, Miguel Arcanjo Costa é aluno do curso de informática da unidade, e sabe que é desde cedo que se constrói um futuro promissor, especialmente quando há incentivo na família. Emocionado, ele conta que: “desde quando nasci minha mãe sempre me deu o melhor. Então, isso é o mínimo que eu posso fazer por ela. Hoje, já sei como usar o computador, os comandos, a forma de digitar correta, para não me atrapalhar na hora de digitar um trabalho”.
 
Na mesma sala de aula, bem perto do Miguel, Júlio Belmiro, aos 49 anos, também desafia o teclado do computador para se qualificar mais e tentar sair do trabalho de auxiliar de serviços gerais e se tornar porteiro. “A idade vai chegando e a gente vai percebendo que não está cabendo mais naquele cantinho, é preciso crescer, expandir. E para ser porteiro muitas empresas pedem experiência com o uso do computador para organizar as informações dos moradores, criar cadastros de visitantes e prestadores de serviços, por exemplo”, completa.
 
Da sala de aula para o próprio negócio

Fotos dos alunos dos cursos profissionalizantes em atendimento a comunidade(foto: Divulgação)
Fotos dos alunos dos cursos profissionalizantes em atendimento a comunidade (foto: Divulgação)
Na unidade São José, no bairro Salgado Filho, o impacto também é grande. Os cursos de formação atendem moradores da favela Ventosa e do Morro das Pedras, com oferta de cursos de formação em áreas como barbearia, corte e costura, manicure e cuidador de idosos. Mas, o trabalho vai além das aulas. "Acolhemos os alunos e ajudamos a resgatar a autoestima. Criamos dinâmicas para que eles descubram seus talentos e possam enxergar um futuro diferente", explica a coordenadora Aparecida Rafael de Oliveira.
 
Viviane de Oliveira é moradora da Ventosa e se tornou manicure graças à formação oferecida pelo SDP. "Eu estava desmotivada, passando por uma fase emocional muito difícil. Mas minha instrutora não me ensinou apenas a fazer unhas. Ela me incentivou o tempo todo a acreditar em mim", relembra. Para ela, o fato de o curso ser perto de casa também fez toda a diferença. "Eu conseguia estudar sem comprometer minha rotina com meu filho. Foi essencial para que eu seguisse em frente."
 
Hoje, Viviane atende cerca de 80 clientes por mês e leva consigo não apenas esmaltes e materiais de trabalho, mas também um olhar profissional e cuidadoso. "Aprendi sobre higiene, segurança e atendimento no curso, e vejo que meus clientes percebem a diferença. Agora meu próximo passo é abrir meu próprio salão."
 
Ela é prova viva de que a capacitação pode ser um divisor de águas. "Se eu pudesse dar um conselho para outros jovens da minha idade, diria: não desistam. Quem corre atrás consegue chegar lá."

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