
A versão que será mostrada na capital mineira tem direção de Paulo Rogério Lage, narração do ator Jonas Bloch e participação dos músicos da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais. “Eu faço a parte que o Vinicius fazia, recitando o texto. Ano passado, fizemos uma apresentação no teatro Casa da Ópera, em Ouro Preto (considerado o teatro mais antigo da América Latina). Foi emocionante não só para a plateia, como para mim também. Quando a orquestra começou a tocar a música do Tom, senti uma emoção muito grande”, lembra Bloch, que empresta à voz ao poema de Vinicius, de belo início: “No princípio era o ermo / Eram antigas solidões sem mágoa / O altiplano, o infinito descampado / No princípio era o agreste: / O céu azul, a terra vermelho-pungente / E o verde triste do cerrado”.
De acordo com Bloch, apresentar a “Sinfonia” em Belo Horizonte tem um quê de especial. “É uma cidade onde JK teve uma atuação muito significativa (foi prefeito de 1940 a 1945). E Minas é a terra dele, do nosso ‘Peixe Vivo’”, afirma. O ator conheceu pessoalmente o ex-presidente quando o mesmo voltou do exílio, em 1967. Juscelino foi assistir o espetáculo “Oh, Oh, Oh, Minas Gerais” no teatro da Imprensa Oficial, em Belo Horizonte. Em determinado momento da peça, escrita por Bloch e pelo diretor mineiro Jota D’Angelo, uma carta que JK escreveu no exílio é lida com o elenco cantando à ‘boca chiusa’ (boca fechada) ‘Peixe Vivo’.
Era 1967, o Brasil sob ditadura militar, o nome do ex-presidente não podia ser pronunciado. Segundo Bloch, Juscelino soube do sucesso da obra e foi ao teatro. Ao final, aplaudiu de pé e foi cumprimentar o elenco no camarim, autografando um cartaz da peça que foi colocado na bilheteria da Imprensa Oficial (antes de ser roubado).
Para compor “Sinfonia da Alvorada” e “captar a essência da nova cidade”, Tom e Vinicius ficaram hospedados no Catetinho (primeira residência oficial da presidência no Planalto Central, onde JK passava os fins de semana despachando e conferindo as obras). O poema sinfônico foi composto na mesma sala onde o presidente assinou os primeiros atos. No local, foi colocado um piano.
Para Lage, ao encomendar a sinfonia a Tom e Vinicius, dois dos maiores nomes da música brasileira, JK compreendeu a grandiosidade da missão. “É momento de celebrar um tempo em que o presidente do Brasil se unia ao que havia de melhor na música, na literatura e na arquitetura do país e que representa um verdadeiro ato político de exaltação e valorização da nossa cultura”, afirma o diretor.
“Brasília: Sinfonia da Alvorada”
Centro Cultural Unimed-BH Minas (rua da Bahia, 2.244, 5º andar, Lourdes). Nesta quinta (19), às 21h. Ingressos Sympla (R$ 100, inteira) e R$ 50 (meia-entrada)