Estado de Minas ARTES

Artista retrata a força das sibilas, profetisas da antiguidade pagã

Cecília Dutra transforma personagens místicas da antiguidade em pinturas carregadas de simbolismo, textura e conexão espiritual


postado em 22/07/2025 08:44 / atualizado em 22/07/2025 08:59

A artista visual Cecília Dutra:
A artista visual Cecília Dutra: "Cada obra que faço leva minha oração, minha gratidão e todo o amor que sinto pela vida e pela arte" (foto: Pádua de Carvalho)
Quem nasce no Espírito Santo é capixaba, palavra de origem tupi- -guarani que significa “terra boa para lavoura”. A artista visual Cecília Dutra, natural de Vitória, traz em suas obras a influência da diversidade cultural do Estado, marcada por tradições indígenas, africanas e de imigrantes. Formada em história e produtora de teatro, ela encontra inspiração nas sutilezas da vida e naquilo que vai além do que os olhos podem ver. “É um mistério, como o da água, que é benzida para nos curar”, diz. Nessa pegada mística, há três anos a artista se dedica a retratar a essência de mulheres que marcaram a história do planeta: as sibilas, profetisas que na antiguidade greco-romana eram respeitadas e temidas por reis e imperadores.
Há três anos, quando iniciou mentoria na Maison Escola de Arte, em Belo Horizonte, e começou a pesquisar sobre o tema, se deparou com um trabalho realizado pela historiadora Maria Claudia Magnani, da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), em Diamantina. “Fiquei encantada, pois se tratava exatamente do universo mitológico das sibilas e seus oráculos no contexto do mundo pagão”, afirma Cecília. O registro mais remoto dessas mulheres se dá na Babilônia, migrando depois para a cultura greco-romana. Por meio do documentário Sibila no Tijuco, dirigido e produzido por Fernando Libânio, a artista descobriu como a tradição antiga incorporada ao cristianismo também ganhou um papel de destaque nas celebrações da Semana Santa em Minas Gerais. 

Inspirada nas cinco sibilas do ícone italiano Michelangelo Buonarroti, pintadas no teto da Capela Sistina, no Vaticano – Líbica, Cumeia, Délfica, Eritreia e Pérsica –, a artista iniciou a produção da primeira tela da série. Ela pretende realizar a exposição das obras ainda no segundo semestre deste ano, em Belo Horizonte. “Para mim, a arte tem história e precisa transmitir sentimento”, diz. Em busca da democratização da cultura, Cecília se empenha em levar a arte onde ela não está. “Gosto de expor em locais públicos, nas cafeterias, para desmistificar a crença de que a cultura é para poucos e só para quem tem dinheiro. Todo mundo tem o direito de apreciar e até de produzir arte, mesmo sem entender do assunto.” 

Uma de suas obras preferidas, intitulada Eles não sabem o que fazem, é um Cristo carregado de emoções. “Quando o pintei, não tive coragem de colocar espinhos na coroa.” Entre seus artistas de referência, está o seu bisavô, o italiano Túlio Samorini, pintor de afrescos que participou da obra do Cassino de Monte Carlo em Mônaco, em 1838, e que se mudou para o Brasil em 1908. “Talvez tenha herdado dele a técnica que utilizo, um espatulado com tinta acrílica, textura e muita luz.” Neta de avó parteira e benzedeira, Cecília acredita que a fronteira entre o real e o sobrenatural é sutil. Essa sensibilidade transparece em suas obras, carregadas de simbolismo e de uma forte conexão emocional. 

As telas produzidas pela artista, sempre em grande formato, trazem em seu estilo expressionista a estética humanizada a que se dedica. “Cada obra leva minha oração, minha gratidão e todo o amor que sinto pela vida e pela arte”, afirma

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