
“‘Fullgás’, assim como a música de Marina Lima, deseja que o público tenha contato com uma geração que depositou muito de sua energia existencial não apenas no fazer arte, mas também em novos projetos de país e cidadania. Uma geração que, nesse percurso, foi da intensidade à consciência da efemeridade das coisas, da vida”, afirmam o curador Raphael Fonseca e os curadores-adjuntos Amanda Tavares e Tálisson Melo.
A exposição ocupa todo o terceiro andar do CCBB BH e se organiza em cinco núcleos conceituais batizados com músicas da década de 1980: “Que país é este”, “Beat acelerado”, “Diversões eletrônicas”, “Pássaros na garganta” e ‘O tempo não para”. No pátio interno, uma banca de jornal com vinis e revistas da época dá o tom da ambientação, junto a uma instalação criada especialmente para Belo Horizonte pelo artista paraense Paulo Paes, um grande balão que, segundo a curadoria, é “um objeto efêmero, que traz uma questão festiva, de cor e movimento”.
A gerente geral do CCBB Belo Horizonte, Gislane Tanaka, lembra que a abertura no dia do aniversário da instituição faz parte das comemorações. “Desde 2013, temos atuado com o propósito de ampliar o acesso à cultura e valorizar a diversidade da produção artística brasileira. Ao propor uma leitura ampliada dos anos 1980, ‘Fullgás’ oferece ao público belo-horizontino a oportunidade de revisitar um período em que a cidade foi palco de uma nova cena cultural marcada pela ascensão de artistas visuais, coletivos teatrais e bandas independentes que ganhariam projeção nacional. Encerrar a itinerância da mostra em Belo Horizonte é, também, reconhecer a relevância da cidade na formação da cena artística brasileira e reafirmar nosso compromisso em ampliar a conexão do público com a cultura.”
Embora a década de 1980 seja o ponto de partida, os curadores explicam que o recorte se estende de 1978 a 1993, período que vai do fim do AI-5 ao ano posterior ao impeachment de Fernando Collor de Mello. “Consideramos para a base de reflexões este arco de quinze anos e todas as suas mudanças estruturais e culturais para pensarmos o Brasil: do fim da ditadura militar ao retorno a uma democracia que, logo na sequência, lidará com o trauma de um impeachment”, destacam.
Nesse contexto, a mostra revisita momentos marcantes, como a histórica exposição “Como vai você, Geração 80?”, realizada em 1984 no Parque Lage, no Rio de Janeiro. “Queremos mostrar que diversos artistas fora do eixo Rio-São Paulo também estavam produzindo na época e que outras coisas também aconteceram no mesmo período histórico, como, por exemplo, o ‘Videobrasil’, realizado um ano antes, que destacava a produção de jovens videoartistas do país”, ressaltam os curadores.
Entre os mais de 200 nomes, 21 artistas mineiros participam da mostra: Adélia Sampaio, Adrianne Gallinari, Ailton Krenak, Ana Horta, Ana Maria Tavares, Eder Santos, Eustáquio Neves, Hélio Coelho, Jader Rezende, Jorge dos Anjos, Jorge Duarte, Marco Paulo Rolla, Patricia Leite, Paula Sampaio, Paulo Amaral, Rosângela Rennó, Solange Pessoa, Valeska Soares, Vania Toledo, além de Afonso Pimenta e João Mendes, que integram o projeto belo-horizontino Retratistas do Morro. Eles se juntam a artistas de renome nacional, como Adriana Varejão, Beatriz Milhazes, Daniel Senise, Leonilson, Luiz Zerbini e Leda Catunda.
A exposição não se limita às artes visuais, mas inclui também elementos da cultura pop que marcaram a época, como capas de discos, revistas e panfletos. “Mais do que sobre artes visuais, é uma exposição sobre imagem e as obras de arte estão dialogando o tempo inteiro com essa cultura visual, por exemplo, se apropriado dos materiais produzidos pelas revistas, televisões, rádios, outdoors e elementos eletrônicos. Por isso, propomos incorporar esses dados, que quase são comentários na exposição, que vão dialogando com os elementos que estão nas obras de fato”, ressaltam Raphael Fonseca, Amanda Tavares e Tálisson Melo.
Exposição “Fullgás - artes visuais e anos 1980 no Brasil”
De 27 de agosto a 10 de novembro de 2025
Pátio e Galerias do 3º Andar – Centro Cultural Banco do Brasil Belo Horizonte (Praça da Liberdade, 450 – Funcionários)
Todos os dias, exceto às terças, das 10h às 22h
Entrada gratuita mediante retirada de ingressos em ccbb.com.br/bh ou na bilheteria do CCBB