
Misturando fronteiras entre natureza e cultura, Brandão cria um universo em que elementos minerais, vegetais e industriais se fundem em composições híbridas. Desenvolvido especialmente para o MAO, o projeto amplia a proposta enviada ao edital do SESI e se desdobra em ambientes que revelam diferentes aspectos da pesquisa do artista.
Na primeira sala, o público é recebido por um ambiente imersivo marcado pelo uso do fio de papel torcido — um material sustentável e versátil, utilizado tanto na indústria quanto em práticas artesanais. Transformado pelo artista, o fio se converte em estruturas que mimetizam espécies vegetais. Esculturas da série “Diorama” lembram tufos de capim que se movem com a circulação dos visitantes, enquanto “Invasora” atravessa o espaço suspensa por fios de aço, como uma trepadeira. Nas paredes, obras pendentes formam cachos vegetais, e a série “Herbário” apresenta doze folhas de papel costuradas com fios do mesmo material, evocando estudos botânicos imaginários. No centro, três grandes folhas de palmeira da instalação “Volantes” descem do teto e ocupam o piso, compondo uma paisagem inventada.
A segunda sala convida a uma experiência sensorial. Em meio à penumbra, as obras de luz criam uma atmosfera contemplativa. Trabalhos como “Contraluz” — um eclipse artificial projetado na parede — e “Áurea” — instalação em que feixes luminosos atravessam um tecido suspenso e se desdobram em múltiplos círculos conforme a movimentação do público — transformam luz e sombra em matéria plástica.
Na terceira sala, estão reunidas obras produzidas entre 2018 e 2023, em que o artista explora matérias-primas minerais e industriais. A série “Passante” (2021) foi criada a partir de suco de limão impregnado em tecido de algodão cru, revelado pelo calor do ferro de passar — técnica inspirada em experimentos de ciência amadora. Em Rama (2024), folhas de cauassú coletadas na Mata Atlântica servem de molde para tecidos que preservam marcas do tempo e da deterioração. Já as esculturas “Entrenós” (2022) combinam galhos urbanos e naturais serrados e reordenados em estruturas que imitam e subvertem processos de crescimento. A série “Neolítica” (2023) une pedras de rio e blocos de pó de pedra cimentado, criando uma relação simbiótica entre o geológico e o fabricado, enquanto “Tectônica” (2018) recria fragmentos de barro ressecado a partir da técnica de solo-cimento, tensionando o olhar entre o natural e o construtivo.
A exposição ancora-se em uma abordagem fenomenológica dos processos naturais e industriais, unindo experimentação artesanal, acaso, ciência e tempo. Ao reunir obras que transitam entre desenho, escultura e instalação, Brandão propõe imaginar “novas naturezas” em que o natural e o cultural coexistem. O título da mostra dialoga com o livro “Outras Naturezas, Outras Culturas", do antropólogo Philippe Descola, e sugere uma reflexão sobre como a humanidade se relaciona com os não humanos em um momento em que a crise ambiental coloca em xeque nossa forma de habitar o planeta.
Nascido em Belo Horizonte, Alexandre Brandão, que vive e trabalha em São Paulo, desenvolve sua prática entre desenho, vídeo e escultura. Suas obras, marcadas por formas que transitam entre estranhamento e familiaridade, já foram apresentadas em exposições como Quando atitudes se tornam escola (MG, 2025), Olhe bem as montanhas (SP, 2024), Dear Amazon: Korea x Brazil (Seul, 2019) e no Festival Internacional SESC Videobrasil. Teve individuais no MAM-SP, no CCSP e em espaços independentes no Brasil e no exterior. Foi contemplado pela Bolsa Pampulha (2015/2016), pela Bolsa de Residência Artística ICCo/SP-Arte – Residency Unlimited (NY/EUA) e participou de programas de residência como o JACA (MG) e o Pivô Pesquisa (SP).
Novas Naturezas – Individual de Alexandre Brandão. SESI Museu de Artes e Ofícios – Praça Rui Barbosa, s/nº, Centro. Até 13/12. Terça a sexta, das 11h às 17h; sábados e feriados, das 9h às 17h. Entrada gratuita.