Estado de Minas PROGRAMA

Concerto "Sobre Tons" exalta artistas negras e negros da música clássica

Apresentação gratuita nesta sexta (7), no Palácio das Artes, une orquestra, coral e solistas em homenagem à tradição afro-brasileira e afro-americana


postado em 05/11/2025 10:04 / atualizado em 05/11/2025 10:07

A apresentação reúne a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, o Coral Lírico de Minas Gerais e as solistas Edna D'Oliveira e Edineia de Oliveira(foto: Paulo Lacerda/Divulgação)
A apresentação reúne a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, o Coral Lírico de Minas Gerais e as solistas Edna D'Oliveira e Edineia de Oliveira (foto: Paulo Lacerda/Divulgação)
Uma viagem pela tradição cultural afro-americana e afro-brasileira, destacando a importância de artistas negras e negros na história da música clássica. Esse é o ponto de partida do concerto “Sobre Tons”, que acontece nesta sexta-feira (7), às 20h, no Grande Teatro Cemig Palácio das Artes, em Belo Horizonte.

Com entrada gratuita, a apresentação reúne a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, sob regência da maestra titular Ligia Amadio, o Coral Lírico de Minas Gerais e as solistas Edna D’Oliveira e Edineia de Oliveira. O repertório abrange peças brasileiras, spirituals e outras composições que atravessam a história da diáspora africana. Os ingressos estão disponíveis na bilheteria do teatro e na plataforma Eventim — com limite de até dois pares por CPF.

Realizado no âmbito do programa homônimo do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), o concerto une música, narrativa e projeções visuais em uma experiência multilinguagens. As solistas Edna e Edineia D’Oliveira conduzem também trechos narrados, que destacam cantoras negras fundamentais para a história da música clássica brasileira desde o século XVIII, como Joaquina Maria da Conceição (Joaquina Lapinha), Camila Maria da Conceição, Zaíra de Oliveira, Maura Moreira e Maria d'Apparecida.

O programa inclui obras como o Kyrie da Missa Afro-Brasileira, de Carlos Alberto Pinto Fonseca; spirituals anônimos como My Lord What a Morning, Calvary, Sometimes I Feel e City Called Heaven; canções religiosas consagradas nas vozes de intérpretes negras/os, como Amazing Grace e Grandioso és Tu; além do Hino Nacional da África do Sul, composto por Enoch Sontonga, Jeanne Zaidel-Rudolph e Marthinus Lourens de Villiers.

Para as irmãs Edna e Edineia de Oliveira, o concerto representa um reencontro simbólico com o Palácio das Artes, espaço onde ambas iniciaram suas trajetórias no canto lírico como integrantes do Coral Lírico de Minas Gerais. “Voltar ao Palácio das Artes em diversas produções (inclusive na incrível ópera ‘Matraga’, em 2023 e 2025), sempre é uma sensação de alegria da primeira casa. Aqui encontramos amigos de adolescência, contemporâneos das escolas de música e grandes companheiros da caminhada do coral e orquestra, que enchem o nosso coração de alegria e esperança”, celebra Edineia.

Além da carreira artística consolidada — marcada por atuações como solistas em óperas e concertos no Brasil e no exterior —, as irmãs se dedicam à luta por mais visibilidade e oportunidades para artistas negras e negros. “Em tempos atuais, negras e negros podem ser vistos no elenco de grandes óperas. Mas nem sempre foi assim: há uma história que deve ser contada, que remonta a tempos não tão distantes, onde os palcos eram campos proibidos para pretas e pretos. Hoje, os teatros estão abertos para nós, que temos a ancestralidade registrada na pele, mas em que medida estes locais são realmente ocupados?”, questiona Edna, que também atua como pesquisadora pioneira sobre cantoras líricas negras no Brasil.

Edineia reforça a dimensão política e afetiva do espetáculo. “Por que ainda nos são recusados estes espaços de poder? É com base nestas reflexões que nasce nossa proposta, do ímpeto de duas mulheres pretas que há muito tempo tentam quebrar essas barreiras. Nós, profissionais do canto lírico que, por meio da criação de um espetáculo multilinguagens, queremos fazer ecoar um grito por reparação”, defende.

As artistas explicam que a ideia do projeto surgiu do desejo de reconhecer e resgatar nomes esquecidos da tradição lírica brasileira. “É desse desejo de trazer de volta esses nomes, celebrando a contribuição negra para a música de concerto, que idealizamos o projeto. Trata-se de um ‘som’ que não irá somente acalentar o espectador: provocará o mesmo calafrio que diversas vezes percorreu nossa espinha como sensação involuntária a todos os ‘nãos’ escutados, aos prêmios preteridos, aos papéis esquecidos e toda sorte de amarras que seguem nos privando coletivamente do devido reconhecimento”, ressalta Edineia.

Edna completa: “O concerto que trazemos visa também resgatar a história dessas cantoras pioneiras – muitas delas nascidas ainda quando o regime escravocrata era vigente no Brasil –, nosso matriarcado preto na música lírica brasileira, e de tantas outras que precisaram lutar para ocupar esses espaços. Espero que o público saia sensibilizado e inspirado a procurar saber mais sobre a importância histórica das artistas negras na música clássica de ontem, de hoje e do futuro, quando esperamos estar em maior número e ocupando os palcos de maneira mais consolidada.”

Serviço: Sobre Tons. Sexta-feira (7 de novembro), às 20h, no Grande Teatro Cemig Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1537 – Centro, BH). Entrada gratuita. Retirada de ingressos na bilheteria e na Eventim (limite de dois pares por CPF).

Os comentários não representam a opinião da revista e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação