Em pinturas, esculturas e objetos, Fonseca traduz esse reencontro com a capital mineira como um mergulho em suas origens e transformações. A “volta funda” do título representa esse movimento duplo de retorno e descoberta. “Voltar a Belo Horizonte depois de tantos anos fora foi como reencontrar um lugar conhecido com um olhar completamente novo. A cidade mudou, eu mudei, e essa redescoberta acabou se transformando no ponto de partida das obras que compõem Volta Funda”, afirma o artista.
Entre referências afetivas e simbólicas, o artista revisita ícones da cidade como o Edifício Acaiaca, o Mercado Novo, a Praça da Liberdade e a Pampulha, articulando arquitetura, ocupação urbana e a presença de animais como metáforas das relações sociais e da vida cotidiana. As obras incorporam também temas ligados às transformações recentes da capital, como o fortalecimento de movimentos culturais desde 2010 — entre eles, a Praia da Estação, o Carnaval de rua e outras intervenções urbanas que ressignificaram o espaço público.
Entre os destaques estão as pinturas inspiradas nos indígenas do Acaiaca, apresentados como guardiões simbólicos da natureza e do humano; as obras dedicadas ao Mercado Novo, que exploram sua atmosfera cromática e afetiva; e o Oratório à Liberdade, peça tridimensional que recria a tradição dos oratórios mineiros com humor e leveza ao incluir um cachorro como figura recorrente nas cenas urbanas.
Cães, gatos, capivaras e jacarés aparecem como personagens que ampliam as leituras sobre pertencimento e comportamento coletivo. “As imagens que produzi são como registros dessa nova convivência com a cidade. Ao inserir animais nos cenários urbanos, falo menos da natureza e mais do comportamento humano, das pequenas tensões, afetos e histórias que atravessam a vida cotidiana”, explica Fonseca.
O título Volta Funda sintetiza a proposta da mostra: uma investigação sobre tempo, identidade e memória, em que as obras funcionam como registros do olhar de quem retorna a um lugar que é, ao mesmo tempo, familiar e novo.
Exposição “Volta Funda”, de Eduardo Fonseca. Até 25/1/2026, na Casa Fiat de Cultura (Praça da Liberdade, 10 – Funcionários, BH). Visitação: terça a sexta, das 10h às 21h; sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h. Tour virtual: www.casafiatdecultura.com.br. Entrada gratuita.