Estado de Minas LEGADO

Fernanda Abreu lança documentário sobre os 30 anos do álbum "Da Lata" em BH

Sessão única no Cine Belas Artes revisita disco lançado em 1995, marco da fusão entre batucada urbana, música eletrônica e crítica ao Brasil das metrópoles


postado em 16/12/2025 08:11 / atualizado em 16/12/2025 08:18

A cantora Fernanda Abreu(foto: Fernando Frazão/Agência Brasil )
A cantora Fernanda Abreu (foto: Fernando Frazão/Agência Brasil )
Fernanda Abreu lança em Belo Horizonte, nesta terça-feira (16), o documentário “Da Lata – 30 anos", em sessão única no Cine Belas Artes, às 20h30. O filme integra as comemorações pelas três décadas do álbum ‘Da Lata”, lançado em 1995, e revisita um dos períodos mais emblemáticos da trajetória da artista, marcado pela fusão entre batucada urbana, música eletrônica e olhar crítico sobre o Brasil das grandes cidades.

À época do lançamento do disco, Fernanda Abreu sintetizou o conceito do trabalho em uma declaração publicada no jornal O Globo, em 17 de novembro de 1995, quando a turnê chegava ao Rio de Janeiro. “Quando quis criar um disco que incorporasse o sentimento brasileiro, surgiu a ideia do batuque da lata. O tamborim e o pandeiro representam o samba como cultura oficial; a lata simboliza o mesmo batuque, porém no universo desigual do Brasil. A lata é a alternativa ao caminho oficial”, afirmou. A reflexão ajudava a contextualizar um momento artístico que combinava batucada hipnótica e elementos da música pop eletrônica, marca central do álbum e do espetáculo que o acompanhou.

As apresentações da turnê, que já haviam passado por outras regiões do país, receberam críticas amplamente favoráveis. Expressões como “Fernanda transforma a lata num mito de modernidade”, “O show é explosivamente dançante” e “As letras de A Lata, Veneno da Lata e Brasil é país do suingue celebram a alegria e musicalidade do Rio, projetando isso ao nível nacional” apareceram em resenhas da época. As canções, sustentadas por grooves marcantes, abordavam questões da então ex-capital federal, mas também dialogavam com outras metrópoles brasileiras e do chamado terceiro mundo, como sugere o poema de Chacal presente na faixa “A Lata”.

Antes mesmo da estreia da turnê, “Da Lata” já havia sido elogiado pela crítica especializada pelo sound design, pelo cruzamento de gêneros musicais e pelo elenco de colaboradores, que reuniu nomes como Felipe Abreu, Herbert Vianna, Hermano Vianna, Fausto Fawcett, Laufer, Chacal, Luiz Stein, DJ Memê, Liminha e Will Womat. O disco também foi associado ao olhar atento de Fernanda Abreu sobre a efervescência cultural suburbana daquele período. A lata — objeto simples, versátil e presente no cotidiano urbano — surgia como símbolo de múltiplos significados ligados ao que se convencionou chamar de “Brasil Real”.

O projeto visual reforçou essa proposta estética. Capa, encarte, fotografias de divulgação, cenário e figurino foram desenvolvidos por uma equipe formada por Luiz Stein, Walter Carvalho e Claudia Kopke, criando uma unidade conceitual entre imagem, som e discurso. A turnê consolidaria definitivamente o status de Fernanda Abreu como cantora, compositora e front woman de um trabalho autoral e ousado.

Concebido pela própria artista e produzido por Liminha e Will Womat, do britânico Soul II Soul, “Da Lata” emplacou quatro singles nas rádios, rendeu videoclipes com coreografias assinadas por Deborah Colker, recebeu disco de ouro da ABPD pela venda superior a cem mil cópias e foi lançado no mercado europeu. Editado pela EMI, hoje Universal Music Brasil, o álbum atravessou modas e tendências, firmando-se como um clássico do pop brasileiro, com alta permanência no imaginário cultural.

Em 2025, Fernanda Abreu retoma esse legado ao celebrar os 30 anos do disco com uma série de projetos. Além do documentário, realizado pela produtora Garota Sangue Bom e coproduzido pela TV Zero, com direção de Paulo Severo e roteiro assinado por ele e pela própria artista, o aniversário inclui o relançamento do álbum em vinil pelo Clube do Vinil, da Universal Music Brasil; um remix inédito de “Garota Sangue Bom”, assinado pelas DJs e produtoras Bruna Ferreira e Lívia Lanzoni, do duo From House to Disco; e o lançamento do livro “Da Lata – 30 anos”, editado pela Cobogó, reunindo textos, reportagens, fotografias conhecidas e inéditas, além de itens da memorabília do projeto.

O documentário reúne imagens de arquivo da pré-produção e das gravações no Rio de Janeiro, da mixagem em Londres e das apresentações da turnê, além de entrevistas atuais que analisam conquistas e dificuldades enfrentadas naquele período.

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