
As aulas da rede pública e particular estão suspensas em todo o país por causa da política de isolamento social para combater a disseminação do novo coronavírus. Ainda assim, antes da votação no Senado, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, se dizia contrário à mudança e que iria consultar os inscritos no Enem, para saber sua posição sobre a proposta de adiamento. "Nosso posicionamento é saber a opinião dos principais interessados, perguntando diretamente aos estudantes inscritos", escreveu em sua conta no Twitter.Foi obrigado a mudar de ideia. A consulta agora será para definir quais as melhores datas para a realização do exame.

Veja a seguir uma entrevista com Rommel sobre a decisão do ministério. É importante ressaltar que, apesar da mudança no calendário, o prazo final de inscrição permanece inalterado: será às 23h59 desta sexta-feira (22).
REVISTA ENCONTRO - O adiamento das provas do Enem foi uma decisão correta?
ROMMEL DOMINGOS - Sim. Essaera uma demanda da quase totalidade da comunidade educacional. Uma vez que a pandemia nos desorganiza, é muito importante que os alunos tenham um prazo maior para a preparação. Era o que os estudantes desejavam.
Como o Enem é usado para a entrada nas universidades, esse adiamento pode atrapalhar o próximo ano letivo?
Com esse adiamento, entre 30 e 60 dias, é possível fazer o Enem e as faculdades podem receber os alunos em março ou abril do ano que vem. É importante ver que, por causa da pandemia, as faculdades também estarão atrasadas e precisarão rever seus calendários. Com o adiamento, acontece o que o aluno deseja. Ele tem mais tempo para se preparar e ainda pode entrar no primeiro semestre na faculdade que sonha. Mas é claro que acertos serão necessários.
Uma das justificativas para o adiamento era que, sem ele, alunos de escolas públicas seriam os mais prejudicados. Você concorda?
De uma forma geral, já existe uma dificuldade maior para as classes sociais mais baixas. Mas na pandemia essa diferença é exacerbada. Nas comunidades carentes, a qualidade do wi-fi é menor, muitas vezes não se tem acesso a equipamentos. Então, a aula on-line é mais difícil. E nesse tempo não se tem acesso a uma biblioteca, a um livro físico... É claro que o adiamento não resolve todas essas diferenças. Justo não vai ficar porque é uma situação injusta. Mas a injustiça não precisa ficar ainda maior.
Como o estudante deve aproveitar esse prazo maior que ganhou?
A medida vem para diminuir a ansiedade do estudante, por que haverá um tempo presencial maior depois. O que não se pode, no meio da pandemia, é ficar fazendo conta para fechar planejamento de estudo. Agora é seguir o que a escola está dando e saber que depois haverá aula de reposição, aulas adicionais. Não é hora para buscar o perfeito.Isso vale também para alunos que não estão recebendo o planejamento das escolas. Não fica olhando se vai dar tempo. Pensa que cada dia é um dia. O importante é conseguir produzir com qualidade. O balanço será feito fora da pandemia. E com o adiamento teremos um tempo maior para isso.
Foi um alívio e tanto, então?
Não conheço ninguém que não quisesse o adiamento. Agora, o aluno pensa: "a prova deve ser perto do Natal, vou ter tempo para ajustar". Para nós, educadores, cuja responsabilidade é fazer um planejamento bem feito, é bom saber que existe margem maior de manobra. Temos mais possibilidade de fechar esse trabalho com qualidade. É hora de focar na qualidade.