
O projeto Cestas da Memória foi criado em 2003, para recuperar a memória por trás do acervo de fotos produzido pela Prefeitura entre os anos 1950 e 1970. Hoje já é possível ver as pessoas trabalhando na identificação de imagens produzidas no final da década de 80. O grupo de "guardiões da memória" é composto principalmente por idosos, tendo mais de 70 pessoas cadastradas no programa - o mais velho tem 94 anos. "Nós transformamos essa memória oral, que seria perdida com o tempo, em algo palpável, disponível para as futuras gerações", diz Maria Beatriz Hauck, de 63 anos. A servidora pública aposentada é voluntária há cerca de 10 anos.
Detalhe a detalhe, rosto a rosto, a lembrança ao redor de cada imagem vai sendo recuperada, como um quebra-cabeça, por estes guardiões da memória. Todas as descobertas feitas são anotadas em fichas, que passam por um segundo processo de apuração da informação antes de serem catalogadas no acervo. A diretora de Patrimônio Cultural e Arquivo Público, Françoise Souza, comenta que acha "muito terapêutico todo esse desafio por trás de cada achado. Entendo porque eles voltam sempre". Depois de cada sessão, todos os participantes se juntam ao redor das cestas recheadas de quitutes e conversam sobre cada descoberta, relembrando os detalhes da cidade. O projeto é aberto ao público, sendo que durante o cadastro o voluntário precisa informar em quais pontos ele pode ajudar a reconhecer as imagens: pessoas, paisagens, plantas, eventos. As inscrições são realizadas pelo telefone (31) 3277-4665, de segunda a sexta, das 9h às 17h.
Conheça alguns dos voluntários:
Eduardo Fabri, 66 anos
Especialidade: Construções e fotos aéreas

E mesmo com tanta história, Eduardo é um dos novatos do grupo. "Essa é a terceira reunião que participo. Fui indicado pela minha mulher, que trabalha aqui, para ajudar e colaborar a levantar essa memória de coisas que presenciei". Para ele, o processo por trás de reconhecer e relembrar uma foto é sempre gratificante.
Marcos de Lima Horta, 64 anos
Especialidade: Locais

Entusiasta da história de Belo Horizonte, Marcos também participa de grupos de Facebook que compartilham fotos de monumentos e construções antigas da cidade. Para ele, participar do "cestas da memória" é uma honra. "Sinto uma satisfação enorme quando me chamam para participar. É um prazer enorme para mim."
Theódulo Amaury, 74 anos
Especialidade: Pessoas

Há cinco anos no projeto, o jornalista aposentado considera que todo mundo sai ganhando com a iniciativa. "Venho aqui, colaboro com esses milhares de fotos sem identificação e ainda mantenho a minha cabeça ativa", conta. Mas mesmo com tanto exercício, existem memórias que voltam de lugares onde você menos espera. "Teve uma pessoa que eu reconhecia em várias fotos, mas só fui lembrar o nome por causa uma rua no Belvedere: Celso Porfírio Machado, que foi vice-governador."
Maria Beatriz Hauck, 63 anos
Especialidade: Pessoas e eventos

A servidora aposentada também tem uma história curiosa por trás do seu trabalho: ela já se viu em uma das fotos. "Era um encontro de skatistas que aconteceu lá na Praça do Papa, em 1978 ou 1979. Esse foi um dos primeiros eventos que trabalhei na Prefeitura, tanto que eu apareci em uma", conta. Para ela, o projeto é tão legal de participar que quase não dá para vê-lo como um trabalho. "É uma delícia esse trabalho. Nós transformamos essa memória oral em algo palpável."